segunda-feira, 30 de junho de 2008

Psicologia colorida

Hoje eu acordei tão... oliva...

Não o azeite e nem a planta
A cor
Sou tão oliva
Hoje

Tem dia que a gente acorda de cor diferente
Já fui fucsia
Já fui escarlate
Já fui Royal
Já fui Amarelo real
E verde musgo e
Bandeira
Não o poeta
A cor

Já fui preta, branca e roxa
Já fui azul, laranja e marrom
Já fui lavanda
Não a flor
A cor

E essa coisa de ficar sendo cor
Às vezes é coisa boa
Às vezes é dissabor

Hoje sou só oliva
Cálida, mas verde
E há ainda quem acredite que seja apatia
Mas não é
É cor

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sobre melancolia, amor e sal de frutas

É sempre tão mais fácil falar de amor quando a melancolia é a única do nosso lado. Fica tão poético escrever sobre a suposta dor provocada pelo amor.

Todo mundo começa a liricar. E se empolga. Cria sonetos.

Tudo isso para tentar aliviar esse nó no peito chamado amor platônico/ mal-resolvido/impossível/incompreendido/bandido e tantas outras definições.

É tão mais fácil escrever sobre os sentimentos no ápice de sua efervescência; porque eles são assim mesmo, um sal de frutas num copo d´água.

Ficam guardados em algum lugar, mas se efervessem rápidamente ao entrar em contato com a água. E depois, fica aquele gostinho, metade bom/metade ruim (aliás, se algo é metade bom, pressupõe-se que a outra metade seja ruim, tornando o termo citado um completo pleonasmo).

Deixemos os poetas de azia trabalharem em paz.
Dizem que a tristeza e o frio trazem inspiração.

Eu não estou com frio e minha tristeza é sempre menor que minha alegria.
Pelo menos, por hora.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

It´s all globalised...

O mundo anda tão globalizado... Já vi chinês se auto-apelidar de Rambo. Senhoras de 77 anos usando o pen drive numa lan house. Crianças de 6 anos que falam Psychobilly freakout. Donas de casa de meia idade usarem hair spray para domar fios rebeldes. Vovôs instalando hardwares.

De fato, o mundo agora fala inglês. E aos poucos, vai pegar o mandarim, com o dragão dos PIBs só crescendo e abafando os demais.

Em um mundo tão globalizado, tão digitalmente incluso, tão miscelânico e miscinegado, estava eu de manhã observando o dito pela janelinha de um ônibus que ía de São Bernardo (da Borda) do Campo para a megalópole paulista.

Distraída e com muito sono (ah, ouvindo Raul Seixas), deparo-me com um açougue. Dentre todos os nomes convencionais de açougues (Vila Pires, Rei da Faca, Boi no Espeto, Carne Louca...), eis um bem peculiar... White Boi.

Minha primeira reação foi espanto. Depois indignação. Depois eu só conseguia rir.

Cheguei a pensar: "That´s getting ridiculous"... pois é, eu penso em inglês. Às vezes, em francês também...

Está tudo globalizado..
It´s all globalised...
Tout est mondialisé...
Todo está globalizado...
Alles ist globalisierten...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Marinheiro só...

Às vezes é estranho... fico pensando em como me sinto triste por diversos motivos que podem ser inventados pela minha cabeça só para me deixar triste. Sinto falta de algumas pessoas que não tive contato. Tenho saudade de lugares que não conheço. Sinto vontade de fazer coisas que nunca fiz. Lembro de viagens que não viajei. Sinto saudade de quem não está tão longe. E falta do que não posso ter.

Se isso não é estranho, é puro masoquismo. É aquela vontade de ter algum motivo para ser infeliz. Aquela angústia que brota dentro das costelas quando algo bom acontece. É uma melancolia inspirada por uma felicidade tão grande no atual momento que jamais será alcançada novamente. É sentir falta do próximo instante alegre.

Mas além de estranho, é muito difícil explicar. Porque sempre haverá aquele que não entendeu o contexto, que acha que nossa vida é tão boa para procurarmos defeitos e nos angustiarmos só pelo suposto prazer de se angustiar.

Só que nos angustiamos sem querer, com medo de que uma maré de boa sorte anteceda um temporal. Afinal, cada um tem dentro de sim um barquinho, que veleja dentro do peito, para lá e para cá. E quando o mar está calmo, a gente começa a sentir que logo isso muda. E é essa mudança de maré que tento escrever.

Só espero que meu velejador seja hábil e domine cada onda forte com mais força do que a própria onda.

E aos que não entenderam nada, continuem boiando.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Capítulo V

Começado seu mundo-apartamento, era preciso antes de mais nada o crucial: um apartamento. Tinha algumas reservas "de meia" nos dois anos e meio que trabalhou com o imprestável telemarketing. A despeito de qualquer defeito, o pai da moça de boca rouge jamais pedira seu dinheiro. Achava que como pai de família, tinha o dever de manter a casa sob seu comando e seu dinheiro.

Nos primeiros meses longe de casa, de sua vida, de sua família e amigos, iria morar e trabalhar com seu já citado tio, no apartamento no mesmo prédio que a cafeteria/livraria.

Era difícil acreditar que começava uma nova vida... e que só pode trazer consigo uma parcela de seus amados livros e cds... e sapatos... era uma das coisas da quais ela mais sentia falta... fora sua mãe, seu cachorro e seus amigos. Talvez não nessa ordem.

Sentada no avião, a nossa protagonista começou a pensar:"Londres, dizem que chove 2/3 do ano lá... será que vou me adaptar? E meu inglês sofre de fraqueza crônica, como posso tonificá-lo? Sinto falta de tudo... do meu quarto... e se meu travesseiro não foi produzido nos mesmos padrões que aqui? Vou passar semanas com insônia até encontrar o travesseiro exato..."

Ainda infantil, mal sabia que tudo mudaria dali para frente.

O avião posou finalmente e a última coisa que ela desejava ter trazido naquele momento foi sua coleção de sapatos. Viajou com o par recém comprado e seus pés simplesmente triplicaram de tamanho durante a viagem.

Pausa para mais um defeito latente da personagem:

Sob circunstâncias de dor, fome, sono, tornava-se altamente irritada e nervosa.

Seu tio foi buscá-la no aeroporto. A primeira coisa que fez foi lhe entregar um enorme muffin de chocolate com um copo de café expresso do lado. Sábia decisão. Foram conversando durante o caminho, enquanto a moça olhava tudo à sua volta. Parecia um conto de fadas moderno. Mesmo com as pixações, os muros tinham uma aura envolvente de mistério e misticismo que ela não sabia explicar. Bem... nem ela, nem eu.

Viraram a esquina e uma cafeteria/livraria charmosa, com uma fumaça suave saindo da calçado recém-regada pela chuva subindo à frente chamaram atenção. Era de tijolos vermelhos e um toldo listado de verde e branco. Placas com flores decorativas em suas bordas indicavam a atração do dia. Uma sineta prata indicava quem entrava e saia de lá. Geralmente, as pessoas carregavam uma sacola de tecido com o nome da loja e um copo de café. Isso era unânime. Como era unânime o fato de todos acharem tal moça misteriosa tão bela quanto uma manhã de natal agraciada pela neve.

Leia antes...

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Para postagens com algum teor informativo, é necessária antes de tudo, uma pesquisa detalhada sobre o tema, que envolve uma disposição da qual eu não disponho...

Por isso, voltemos à temporada de lirismos imaginários espontâneos!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dor de dente

Fica aqui quase invísivel
A saudade do que não veio
Da vontade do que não tenho
O desejo que não obtenho
O relevo do meu desenho
Aquela coisa tão concreta
Disfarçada de abstrata
De linhas e formas incertas
De fidelidade semi-intacta
Não que não seja intacta
Mas parece partida agora
Parece mais ferina do que era
Parece uma jogatina
De presa e fera

Fica apenas o desejo flamejante dentro do peito
Aquela coisa que arde sem se ver, como diz Camões
Mas ele mente
"Dói e não se sente"
Sente sim! Dói sim!

Mas dói do jeito estranho que dói um dente mole
Prestes a cair
A gente quer que vá embora para vir outro a cobrir
A ausência desse
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terça-feira, 10 de junho de 2008


E aquela coisa de jornalismo maquina na cabeça, fervilha as idéias e dói na vista...

E aquela coisa de jornalismo, sem nome, sem diploma, com mania de grandeza de se achar o entendido...

É aquela coisa de jornalismo que move meio mundo para parar a outra metade...

Brasil, mostra a tua cara... quero ver quem paga...

Há algum tempo tenho evitado postar sobre o tema, pois sei que com toda certeza causará a polêmica gerada por opositores e até por certos hipócritas. Mas chegou o ponto de definição. De que lado ficar: libera ou não libera a maconha?

Embora haja todo o misticismo de que vá aumentar a violência e estimular o consumo (o que não passa de chorumelas a meu ver), o causo é o seguinte:

* Quem usa, vai continuar usando, legal ou ilegalmente. Essa é a realidade.

* Tais usuários têm duas alternativas de adquirir a suposta erva: cultivando em seu quintal (o que não é crime, afinal é para consumo próprio e está dentro de seu espaço privado), ou com traficantes.

* Com o comércio ainda ilegal, os traficantes saem na frente. Cultivam, vendem baratinho e até empurram outras drogas junto...

* O governo não tem controle. A partir do momento que a coisa é ilegal, o governo perde sua autoridade. Parece contraditório, mas se pararmos para pensar, com a legalização, a fiscalização seria maior, o comércio geraria menos violência e ainda há vantagem da cobrança dos impostos: você prende um traficante não pelo comércio da droga em si, mas por sonegação de impostos, no maior estilo Al Capone.

* Acabariam as propagandas hipócritas que aterrorizam com informações exacerbadas sobre as drogas, muitas vezes apresentadas por atores que já as usaram. Começaria um processo de reeducação nacional: uma explicação detalhada e não-fantasiada sobre os reais efeitos, o que cada uma faz, o que motiva uma pessoa à usá-la, porque não é saudável etc.

Em entrevista à Revista Época (nº 525- 9 de junho de 2008) a juíza aposentada e ex-defensora pública do Rio de Janeiro, Maria Lúcia Karam, coloca um "inecolocável" por um juíz até o momento: "Proibir as drogas é inconstitucional, uma vez que a constituição garante a liberdade individual". A ex-juíza absolveu um réu preso com 7,7 gramas de cocaína (segundo consta, portar drogas para consumo próprio não é ilegal).

E ainda defende que em uma democracia, qualquer proibição é exceção e que faz parte da já citada liberdade individual você querer se fazer mal.

E se seguirmos essa linha de pensamento, ela está coberta de razão. Cada um é dono de si, como diz o dito popular. Não interferindo a liberdade individual do próximo, o ser é livre em suas escolhas. Se elas implicam no uso de drogas, já é uma questão educacional.

No programa "Gordo visita", que vai ao ar pela MTV, o vj João Gordo visitou Marcelo Nova, ex-vocalista da banda Camisa de Vênus. Nova apresentou justamente uma argumentação semelhante a proposta por essa retórica: que as campanhas contra as drogas são patéticas, que tentam uma educação de não-uso intimidando e colocando medo no público alvo. Defende o argumento da não-hipocrisia: se droga não fosse bom, não tinha tanta gente usando.

Sem os radicalismos, acho que a proposta citada por Marcelo indispensável para uma campanha legítima contra as drogas: mostrar, explicar, citar e exemplificar cada droga, o que fazem, como se usa. E quando cita drogas, inclui álcool e cigarro.

O Brasil precisa parar de se esconder atrás dessa moita de maconha, deixar a hipocrisia de lado e mostrar que o mal geral não é tão somente o tráfico/violência/drogas, mas também a (má) educação.



Ps: eu não uso e nem nunca usei drogas exceto o álcool. Por um fator determinante: a educação que foi dada. Oportunidades não faltaram.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

Inusitado

No feriado passado, voltando de 4 dias na legítima Pasárgada, me deparei com um fato inusitado que evidenciou o quanto São Paulo é multiculturaltudomisturadonumacoisasó.

Voltando de carro, já em uma avenida grande cujo nome não recordo, me deparei com a seguinte cena: haviam galinhas ciscando no canteiro no cruzamento da rua que era ligada à avenida. Tá, pode não ser tão incomum ao leitor, mas imagine no meio de São Paulo, galinhas num canteiro.

Cada coisa que vemos. Um lugar cheio de tudo. Tudo mesmo. É encantadoramente assustador. Pela simples incerteza do que encontraremos.

É tanta coisa estranha. É tanta coisa extraordinária. É tanta coisa bonita. É tanta coisa...

De hippie à patricinha, de japonês à judeu, de milionário à mendigo, tem de tudo. No mesmo quarteirão.

Não adianta. Pode ter trânsito, poluição, muita gente, muita violência. Eu vou continuar gostando de lá... Com aquele medo comum de todo paulista, segurando minha bolsa no metrô, andando de vidro fechado no carro, lendo as placas com todo cuidado para não me perder.

Mas amar, vou continuar amando.