terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sem graça

Nasceu falante
E nem era alto ou auto
Tirando assim o teor humorístico

Morreu calado
Mudo
Desnudo dos seus mais belos verbetes

Queria o mundo
Conseguiu-o por alguns instantes
E perdeu tudo para todo o resto dos dias

E pensou naquele instante que teve o mundo
Que nada seria como era antes
E nada seria tão bom quanto aquilo

Calou para sempre
Arrastou suas correntes
E amarrou-as no pé do abismo que iria saltar

Saltou
Um pulo sem volta, sem razão
Sem causa
Sem emoção

Sobraram apenas as lembranças de quem o teve
As palavras que manteve
E a frase que cravou na rocha que lhe tirou o que sobrara de vida:

"Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira e última vez que isso me acontece."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Algumas das coisas que já aprendi- Parte II

Como foi feito no Pós Crise Pré- 20, listo abaixo algumas das coisas que já aprendi com o acréscimo etário anual. Faz menos de um mês, mas já é possível sentir a diferença. Ainda que ínfima.

O mundo parece mais pesado, como se eu fosse Atlas com problemas nas rótulas (LAUREANO, Franco Paula- As verdades que digo; Ed. Contexto- 2009). E talvez eu seja. Talvez cada um de nós seja Atlas com alguma moléstia mortal. Alguma coisa que faça o mundo individual de cada um pesar um pouco mais. Que nos faça ser um pouco menos.

Aprendi que certas pessoas sempre vão te desapontar. E não importa quantas vezes isso ocorra, você sempre vai dar uma oportunidade para elas o fazerem. Basta apenas entender que é inevitável. Te magoar pertence à natureza delas e nada vai mudar isso.

Admito, aprendi que raiz não tem acento como eu achava que tinha e cheguei até os 21 anos acreditando que sim. Nenhum dos meus professores jamais me ensinou que estava errada. Obrigada Aline por me ensinar isso.

Descobri que ser engraçado abre muitas portas. Ser comunicativo ajuda em muitas coisas. Não ser tímida ajuda demais, principalmente nos momentos em que o pisca-alerta do "Fudeu" é acionado. Nunca fui tão grata pelos 2 malditos - digo incríveis- anos de teatro, que arrancaram todo o instinto "bicho do mato" da essência elsística.

Achei mais alguns irmãos perdidos por ai. Mas não daqueles sanguineos. Aqueles cuja afinidade é tão grande que eles sabem por e-mail quando estamos tristes, quando estamos contentes, quando não estamos nada. Aqueles de alma.

Aprendi que paciência é uma virtude da qual não dispunha, mas que aos poucos, vou ganhando. As pessoas são limitadas e eu preciso aceitar isso. Não posso me comparar aos outros, nem para melhor, nem para pior, pois cada um vive em seu mundo individual. Cada sujeito tem seus predicativos de acordo com a sua necessidade. Infelizmente, as de alguns são ínfimas e os impedem de desenvolver-se muito mais, deixando apenas ostras para trás.

Sei agora também que aquele clichê de que o mundo pesa menos quando a gente gosta de alguém é amargamente verdadeiro. Que os filmes da Meg Ryan são apenas filmes, que não dá para mandar nesse comboio de corda.

Vi que quanto mais longe e sacrificado o trabalho é, mais vontade de voltar para casa eu tenho. São Paulo é grande demais e eu, tão pequena. É um choque muito grande se ver sozinho, mas às vezes, é preciso.

Aprendi principalmente que tudo o que é sólido se dissolve no ar. Hoje é o limite, amanhã é a promessa e o ontem já se foi.

E eu por aqui fico, ainda não deixando o velho costume de matutar sobre cada acontecimento e pensando no que vai estar escrito no Pos Crise Pré-22.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Caixinha de música

- Está chovendo, frio e úmido e é segunda-feira...
- Eu vô.
E veio.
E véio.
O jovem véio que nada tem de velho e só faz ser jovem o que estava empoeirado aqui dentro.
Embolorado e emperrado. Como uma caixinha de música que já não mais tocava porque ninguém dava corda.
Toca agora suave melodia, bailando internamente a valsa dos contentes.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sono.
Sabe o sono?
Então...
Enchendo-me as pálpebras e afagando-me os olhos.
Tenho sono.
Tenho sede.
Sede de descanso,
De pausa
De repouso
De pouso
Leve

Leve e levo
Para não deixar ser levada
Vou liricando enquanto ele
O malvado
Do sono
Vai me molestando

Mas eu até que gosto
Porque quando ele viaja
Me carrega junto

Sono
Sabe o sono?
Então...
Boa noite.

sábado, 14 de novembro de 2009

Crise Pré-21 (Black Jack)

O que as pessoas e os astrólogos (não necessariamente nessa ordem) costumam chamar de "Inferno Astral", ocorre para mim como as famosas Crises Pré-futura-Idade (Vide Crise Pré-19 e Crise Pré-20).
Nelas, descrevo toda a frustração que um aniversário pode trazer juntamente com o bolo e as velinhas. Todas as mudanças, todas as preocupações, todas as transformações. Todas é uma hipérbole, mas diria eu que uma boa parcela delas.

A Crise Pré-21 se instaurou de forma diferente. Ela não é uma preocupação latente com as rugas e quilos a mais e nem com a necessidade de aprendizado. É uma angústia demasiadamente forte e inconstante, que vai e volta que nem bumerangue (os legítimos).

Ver como um ano faz diferença na vida das pessoas é incrível. Colocando na ponta do lápis (ou do cursor), penso no que tinha e no que era ano passado, nesse mesmo período e o que tenho e sou agora. Aliás, é uma das práticas mais frequentes em momentos de mudança.

Meu trabalho era outro, não tinha meu amado e odiado jornalismo, tinha namorado. Aliás, em 5 anos, será o primeiro aniversário sem estar compromissada. Isso pode ser o prelúdio da próxima década. E aos 31 eu volte e leia isso, rindo e imaginando: "Nem sabia eu naquela idade tudo o que iria me acontecer".

Aos 21 atingimos a legitimada maioridade penal. Posso casar vestida de Elvis em Vegas. Não posso na verdade, mas poderia se tivesse recursos. 21 é uma idade cabalística.

Como diria uma certa amora, é Black Jack, é algo místico. Somado dá 3, que vezes ele mesmo é igual a 9, o número que rege a sagitariana que vos fala. Não que isso seja relevante, mas pode ser que sim.

E voltemos à angústia: ela se camufla, é uma camaleoa (ou o Ivo Holanda disfarçado). Crises de riso, crises de choro, crises. A tristeza e solidão enlatadas, numa dose para singles. E os ignorantes acham que é TPM. E os depressivos acham que é um clarão sobre o quanto o mundo é uma grande bola de bosta achatada nos pólos. E não é nada disso, é só aquele açoite que a nossa psiquê dá no couro quando não somos guiados por ela. Quando razão e pensamento são dois tópicos sem relação alguma.

É uma força que faz a gente pensar no por quê de tudo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Achar sentido em tudo e não encontrar em nada. Tudo vai pesar diferente quando os 21 chegarem. As preocupações deste ano serão ínfimas comparadas as do próximo, assim como as anteriores são comparadas a esse. E a tendência é piorar.

Mas os 20 trouxeram amigos e experiências que nem 20, 30 ou 60 anos que vão apagar. Histórias que vão para os netos, caso eu ache a tempo o devido ser para os fins de procriação. Me trouxeram uma maturidade que só a causa do choro de Nietzsche exemplificariam.

Vou aproveitar o pouco que me resta com 20. Chorarei tudo que for preciso, eliminarei tudo e todos os dispensáveis. Guardarei o que realmente importa comigo.
Finalizo com uma frase de um filme infantil que tinha um rato no Velho Oeste (esqueci o nome, a idade vem chegando...):

"Se crescer fosse fácil, não levaria tanto tempo."

**Com atraso, mas antes tarde do que nunca: Fievel é o nome do filme. Estou velha, mas nem tanto...

sábado, 7 de novembro de 2009

Vestibulando

Calor escorrendo pelas veias. O sono corroía as têmporas estudantis. Antes era frio, agora é quente. Amargo gosto, amarga noite. Doses de café + coca-cola num refúgio contra o relógio.

Deixou aquele pedaço para trás. Desfez o momento e nem na memória não o refaz. Anula, como questões respondidas duplamente nos gabaritos de prova.

Tudo era leve, decidido e nítido. Simples: 2+2= 4 e 2²=4. Não é mais assim, entrou na vida dos binários e deixou 10 vezes a razão de lado.

Deixou a literatura mofar. Ficou só com a história. Ficou só.

Se perdeu numa geografia simples, que cabia dentro de uma rua.

Não falava outro idioma, só o seu e olhe lá.

Esquecia do empuxo, da inércia e toda a física. Ignorava as moléculas, helicoidais ou não que regiam a normativa biologia. Esqueceu tudo.

Só lembrava da química.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fragmentos

Era só para ser mais uma segunda-feira chata. Mais chata ainda por causa da chuva da madrugada ainda sobre os assentos do ponto de ônibus, mesmo que quase secos pelo sol que já raiava firme e forte.

Era só mais uma segunda-feira chata em que me levantei e fui concretizar o ritual banal de locomover-me à outra cidade, tão cedo, só pela necessidade conflitante do capitalismo semi-domesticado que rege o mundo.

Era só mais uma segunda-feira. Eu triste, desgostosa pelo simples fato de ser segunda-feira. E era só. Chego no trabalho e entre os gestos furtivos de olhar os e-mails antes de começar a de fato trabalhar, acho um sorriso diagonal em forma de texto, tão distante, lá em Guaratinguetá (eu acho).

Um dos meus escritores e poetas preferidos que me concedeu certa vez a honra de entrevistá-lo me manda um e-mail com gosto de marshmellow, mais doce que bala Juquinha, Dimbinho ou Sete Belo.

E usou o texto de outro escritor favorito, publicado pelo Estado de S. Paulo no dia 22 de abril de 1986 (2 anos, 7 meses e 4 dias antes de eu nascer). Segue abaixo, seguido de um enorme obrigada a Paulo Almada que tirou o sabor acre da minha segunda-feira.

DOIS OU TRÊS ALMOÇOS, UNS SILÊNCIOS

Fragmentos disso que chamamos "minha vida"

Caio Fernando Abreu

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tour du France

"A sorte é como o Tour du France: esperamos tanto e passa tão rápido".

A retórica acima pertence ao roteiro de um famigerado filme francês. E começo acreditar que é verdade.
Sou do tipo de pessoa constantemente vitimado pelas Leis de Murphy. Algumas situações até renderam alguns posts aqui anteriormente. O show do Lenine no Sesc Santo André foi uma exceção... o indivíduo que guardava os carros disse que os ingressos estavam esgotados, eu duvidei dele e consegui comprar. Mas o ponto não foi sorte, foi teimosia.

Em suma, eu nunca ganho nada. Muito pelo contrário, costumo perder. Desde aquelas máquinas de pegar bichinhos com garras de metal até os concursos culturais em que pensava nas respostas mais mirabolantes que me rendessem os ambicionados prêmios.

Da última semana para cá, de alguma forma, me sinto mais sortuda. E um prêmio de concurso cultural do Jornal da Metodista mostrou que não estou tão enganada assim. Convenhamos que o prêmio não é um Nissan Frontier cabine estendida, mas só o fato de ganhar algo, alguma vez, me fez sorrir.

É provável que somente eu tenha participado da promoção ou que as outras respostas fossem inteligíveis. Mas estou feliz, me sinto um pouco menos azarada, um pouco mais sortuda, um pouco mais.

E se a sorte é mesmo o Tour du France, eu quero ser a primeira.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Diz-co-grafia

Assim como Lenine, eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos, como um deus. Hoje amanheci mortal. Daquelas bem frágeis, que não domam seus instintos, seus pensamentos, suas emoções.

Chico disse que "Vai passar". O contexto era diferente, mas acho que cabe aqui. Vai passar. Só sei que ando tão "À flor da pele" que qualquer coisinha ínfima me faz chorar. Mas logo eu rio, como de desespero. A fuga na comédia que só uma legítima Drama Queen compreende.

Tenho procurado "A paz na solidão". Em vão. Me sinto só mais uma cabeça no rebanho de "Admirável gado novo". "Ideologia", eu quero uma para viver. "Como nossos pais". Danço na corda bamba, de sombrinha, sabendo que posso me machucar tentando ser "O Bêbado e a equilibrista".

E nessa correria, só queria ir de Chico novamente e soltar um enorme "Cálice" para o mundo. Ser um moleque do Brasil, tal como Caetano, participando como "O mistério do planeta". Virar para todos e dizer "Nem vem que não tem".

Devia assumir que sou meio "Maluco Beleza" e que vou controlando minha maluquez, misturada com minha lucidez. Pois eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Quem vai de não não chega não. Eu não almejo o "Ouro dos tolos".

"A menina dança". Você abre o olho e a menina ainda dança. E usa touca vermelha e batom vermelho girassol. Não é a flor do desejo, mas é "La belle du jour". Ou pensa que é. Pobre coitada, nem beira "Todas elas juntas num só ser".

Pode não ser, mas tem a força para saber que existe. Não vacilo, mesmo derrotada. Envolta em tempestade decepada, seguro a "Primavera nos dentes". Passo longe de ser "Hurricane", mas é difícil superar tamanha injustiça. O fator Drama Queen prevalece.

Com uma boca à lá Steven Tyler, digo apena que "I don´t want to miss a thing". Yeah, "Just do it", clichê Copacanaclubiano. Ou apenas "Let it Be".

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Acordo

- Façamos agora um trato: eu te liberto se você me libertar. Porque é injusto eu ficar preso enquanto você vaga livre, como se fosse inocente. Você sabe que não é.

- Eu sei, mas não posso te ajudar se você não me ajudar! Eu também tenho uma vida, tenho meus projetos! Acha que planejei tudo o que aconteceu? Só aconteceu e...

- E você nunca planeja nada. Por isso vive assim. Queria eu ter esse espírito livre de perturbações. Um parafuso fora do lugar me tira o sono. Você é completamente diferente.

- Discutir não vai levar à nada. Anda, me diz como eu saio daqui.

- Só se você fizer o trato.

- Feito. Como saio daqui?

- Tateie em direção oposta a que veio, siga as sobras de corda. Quando ouvir um barulho de água, comece a ir pela direita. Lá você acha a saída. E nunca mais toque em explosivos dentro de grutas!

- Certo, vou buscar ajuda. Não saia dai e aguente firme.

- Não se preocupe, não tenho planos para o fim de semana e mesmo que tivesse, essa enorme rocha que amputou minha perna vai impedir o futebol com o pessoal do trabalho.

- A rocha não amputou nada. Ainda. Eu voltarei. Tente ficar bem.

- Tentarei.

Ele saiu. Sentia a culpa caindo sobre os ombros, junto com escombros do trecho recém-explodido. Sabia que tinha que voltar. Era responsável por aquilo. Mas o medo o impedia. O bloqueava, como as pedras que bloqueavam a locomoção do companheiro, resignado a gruta.
Ninguém sabe se voltou. Ninguém sabe do outro. Ninguém sabe de nada.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Infinitamente

02:53 de uma pré-segunda. Pré, a palavra da vez. Pré-sal é responsável por isso. Culpa do Lula (é moda colocar a culpa no Lula). Matuto sobre uma frase dita por ai.

Por ai, há algum tempo, por Voltaire. E Voltaire era um cara bacana. Se ele tivesse barba, poderia entrar no Hall dos barbudinhos legais, junto com Marx, John Lennon e Raul Seixas, como bem estigmatizou um certo cabeçudo que conheço.

Ler é preciso. Uma pilha de livros, jornais e revistas está aumentando cada vez mais ao lado da minha cabeceira. Não consigo terminar um livro faz tempo. Quero ler e saber de tudo e de todos e no final, só sei que nada sei. Outro para o Hall dos barbudinhos.

O mundo fala um pouco mais de Honduras. Um quarteirão explode no ABC. O Corinthians mantém o São Paulo refém dos empates e derrotas há mais de dois anos. O Rubinho perde, o Hamilton ganha. As capas de sites e notícias mais tediosas do mundo são feitas aqui.

Dez entre dez brasileiros preferem feijão. Eu prefiro o café. Ah, ele tem me salvado de cada uma. Ele já salvou a economia do país de cada uma. Santo grão miraculoso.

Navegar é preciso. Na verdade, navegar é necessário, GPS é preciso. Saudoso comentário "made in Viamão". Sempre com citação.

Eu vou navegando, rio abaixo. Espero o jacaré se aproximar. Deixo a frase que inspirou o post para o final, como a cereja ao marrasquino de uma suculenta mousse de chocolate belga meio amargo:

"Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

^^ de ponta cabeça

Gaúcha querida
Caneca escolhida
Amora colhida

Quem precisa de malemolência
Com essa consciência?
De tudo, do mundo
De mim

Obrigada agora
Depois da aurora
E em outrora

Amém

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Agite antes de usar

Deixo para mais tarde. Afasto.

Distante, guardado, fechado com cadeado.

Disfarço.

Faço um drama monástico. Refaço.

Dinastias, etnias, companhias.

Se unem, se fundem, se forjam. Fingem.

Fogem.

Ferem.

Preferem.

Proferem.

Profeta. Prometa. Perneta. Peteca. Penetra. Bicudo. Bicão.

Bico. Um gole.

Mexido, não batido.

sábado, 12 de setembro de 2009

Discovery

Uma gota de suor descia pelas costas. Sozinha e única, perfeita em sua forma. Os lábios rosados tremiam, os poros se abriam para ouriçar os pêlos do braço, da nuca, do pescoço.

Silêncio.

Fez-se o arrepio mediante à sudorese em um gesto contraditório. Não-linear, como a história das histórias, do mundo, do tudo. O tudo é não-linear.
E fez-se a mudez, para quebrar o silêncio. Antagônico, confuso. Distorcido.

Pausa. O vento leva a mudez, que tinha levado o silêncio. A gota perfeita desce agora mais à esquerda, empurrada por aquela brisa. Ainda solitária.

Foi-se o vento. Ficou o momento, selado pela mudez. Calado e setenciado por mãos inquietas, pálpebras semi-abertas e uma sensação recém-descoberta: a vida não-linear.

domingo, 6 de setembro de 2009

Bleu

06:57 da manhã. Domingo, véspera de feriado. Planos bons para um dia ensolarado. Mas a chuva ferrou tudo. E o pior: eu sabia que ela vinha. Porque, não sei se já disse, eu sinto o cheiro dela chegando. Assim como a maré mudando. Bate aquele vento e eu sei: é mudança de maré.

O fato é que muita gente me acha esquisita. E em uma engordurada mesa de bar, batizada com cerveja, cheguei a conclusão que sem os genes dominantes do meu pai, talvez eu fosse uma largada da vida ai, sem amigos, sem atenção, sem auto-confiança. Não que seja muita, mas não diria que é pouca.

O fato é²: graças aos genes dominantes do meu pai, eu consigo coisas que não conseguiria sem eles. Azeitonas de graça para acompanhar a latinha de Skol ambicionada após duas aulas de jornalismo de cabresto, por exemplo. Ou sachês extras de viangrete na feira, ou descontos na compra de melões... enfim. Coisas que só olhos pedintes conseguem.

E em inglória ocasião, um inglório ser enfatizou, com uma naturalidade sem tamanho que, graças a um par exclusivo de genes do meu pai, eu fujo à feiura. Não sei em qual categoria de predicativos isso se encaixa, mas é algo que vem me envenenando desde que proclamado.

São quase 21 anos e agora eu me questiono: serei eu somente e tão somente um par de olhos azuis (e olhe lá, pois eles insistem em mudar de cor, beirando o cinza e o esverdeado cor de musgo)?

Sei lá. Com essa chuva, ao invés de ficar me indagando sobre o existencialismo por trás de uma frustrada descendência europeia, vou dormir. E sentir o cheiro da chuva e as mudanças de maré, com toda a minha esquisitice aflorada.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Niilismo

Daqui a pouco vou ter que acordar
Melhor então nem dormir
Melhor cá ficar, esperando
Um sono que não vai vir


Melhor pensar do que rir
O riso faz a gente ficar meio tolo
E na cozinha, tem um bolo
O qual não vou usufruir

Aliás, tem um bolo em mim também
Emaranhado, um vai e vem
Vai a certeza
Fica a saudade
Fica a gentileza
Vai a ingenuidade

Na verdade, meu miocárdio sabe
Meu ventrículo esquerdo conhece
Minha aorta já ouviu falar
E meu átrio reconhece

Minhas narinas farejam
Meu olhar busca
Minha pele pede
Meu ouvido aguça

Os pedaços que me revestem
Já não o querem mais
Acordo sem um pedaço
Sem pé, sem olho
Sem braço

Incrível é que pareço inteira
Intacta
Imaculada

A casca parece dura
Mas é recheada de gelatina
O corpo é quase adulto
Mas a alma é de menina

Daquelas atípicas
Que não gostam de boneca
Que mordiam pés de Barbie
Que brigavam por Atari

As que caiam de pés de frutas
Dentro de caixas de madeira
Que carregam cicatrizes
De uma infância tão arteira

Aquelas frias e solitárias
Repousando no telhado
Escrevendo poemas bobos
Para meninos retardados

Do tipo que gostava de futebol
Que jogava no gol
Que tinha minicraques
Que já quis ser jogador

Daquelas que viam estrelas
Cadentes ou não
Que queriam voar
Cantar
E tocar violão

Perguntaram que bicho era
Não sabia responder
"Meio flora, meio fera"

Um centauro com alma de dragão
Com flechas embebidas em poção
Uma quimera de olhos inexpressivos
Mas que guardavam o infinito

É isso.
O miocárdio, o ouvido, o tato. É tudo isso.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sorte ou revés?

Aquela tola novamente jogou o dado. No "Banco Imobiliário" sempre tirava revés. E nunca ganhava nada. Tinha Ipanema e Copacabana e perdia sempre. Sempre o revés fazendo os seus planos ruírem com suas aquisições e bens.

Mas tola como é, entrou na roda e jogou o dado. Para perder tudo de novo. Era incrível, se recuperava com uma facilidade enorme, mas sempre perdia tudo de novo. Talvez a capacidade de se erguer fosse equivalente a de cair.

E talvez não fosse tão tola assim. Quem sabe devesse deixar "Banco Imobiliário" para os calculistas e frios e se empenhasse no "Jogo da Vida"?

Quem sabe.

sábado, 22 de agosto de 2009

Assim

Uma caneca, empoeirada
Uma peteca lançada
Uma volta dada
E pronto
A vida mudada

Um olhar
Um sussuro
Um puxão
Um murro
E pronto
A rota alterada

Um jogo de palavras
Uma rima sem graça
Uma amiga sem graça
E sem graça, uma piada
E pronto
Uma linha traçada

Um aumento crescente
Um complô decadente
Uma dupla ineficiente
E pronto
Uma grande roubada

Um canto baixo
Um contra-baixo
Um aperto torácico
E pronto
Um período jurássico

3 copos
4 garrafas
2 amendoins
1 fim

E pronto...
Uns versinhos assim...

sábado, 15 de agosto de 2009

Capítulo IX

Leia antes:

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII


Caída no chão, assim permaneceu. Junto com a carta, a vaca de pelúcia e as flores. O silêncio que sucede o esporro. Seu mal humor agora era justificável. Talvez não. Talvez aqueles fossem presságios de que bons tempos viriam após um período altamente cinza.

Permaneceu ali, sem reação. Não havia muito a ser dito, a ser feito, a pensar. Melhor não pensar, não fazer, não dizer. Podia só erguer-se e trocar de roupa, vestir seu avental e lembrar que o astro-rei já tinha raiado de novo. Podia esperar tudo voltar à ortodoxa ordem natural das coisas. As marés irem e virem, o sol baixar e dar um selinho na lua. A lua descer sem se despedir do sol.
Mas não faria isso.

Ergueu-se, trocou a roupa de dormir e desceu as escadas para sair e dizer ao mundo que não faria nada daquilo que era esperado. Encheu os pulmões de ar, fechou os olhos e ouvir alguém se aproximar e dizer:

- O que aconteceu?

Virou-se. Era a mulher do chapéu vermelho de longas abas, só esperando uma resposta. Que veio com os olhos cinzas marejados, uma mudez interminável e um abraço recém-descoberto. Estendeu a carta e esperou a mão pegá-la. Mas a mão não pegou. A mão encostou na outra mão e pediu calma como só as mãos sabem fazer.

- É, eu sei. Eu sabia desde sempre. E esperava.

O que ela sabia? O que ela esperava? Do que estava falando? Não sei dizer. Só sei que os olhos cinzentos se fechavam agora em um gesto de submissão à claridade do astro-rei, que já beijava o rosto das duas naquela manhã tão agradável, cheirando primaveras e brincos de princesa da floricultura próxima.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Yellow

Faz dois anos já... Parece que foi ontem que ela chegou berrando por cima do meu ombro, me chamando de famosa, batendo na minha tipóia e fazendo para sempre parte da minha vida.
Na época era uma menina recém-crescida, que acabara de sair do colégio e completara há pouco 17 anos.

Foi preciso pouco para se tornar indispensável. Afinal, quem poderia não gostar daquela risada esculachada altamente reconhecível em qualquer parte da Metodista (em qualquer um dos campus- Rudge, Vergueiro ou Planalto)?

Mas por alguma razão perdida no emaranhado dos semestres, ela sumiu. Talvez não fosse mais menina. Tornara-se agora apenas crescida. A sua ausência era ao que poderia chamar de "uma das piores crises de abstinência de café que já tive". Dores de cabeça fortes, insônia e tremores. Às vezes, até choro e raiva.

E quando menos esperei, umas letrinhas formavam um texto convidativo, que parecia tão sincero e familiar. Quem poderia não gostar?

E o que um ano, quatro meses e alguns dias separaram, um dia cinza e um email uniram. E ela voltou. Tão diferente, mas ainda a mesma... E no dia em que eu completei 20 anos, ela voltou. E agora, completa ela 20 anos.

Minha estrela amarela, devoradora de porquinhos da Índia, minha grande amiga. A moça do chapéu de feltro vermelho. A menina que gostava dos palhaços. Jovem mulher, quase formada, jornalista, noiva, motorista... Cabeçuda querida.

Feliz aniversário. Tudo mesmo de mais magnifíco, não tão somente hoje, mas sempre e além. Até depois de sempre.

- Iátchi.
Onomatopeia: Glup!
- Ôpa!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pós

Disseram que ele não era meu pai, mas hoje é inegável. O mesmo nariz pontudo e os olhos azuis (os dele mais que os meus, meio sujos de cinza) comprovaram o que as pessoas contestaram.

Não sou a filhinha querida do papai, não fico de melações e costumo brigar muito com ele. Até me zango quando dizem que sou sua versão feminina.

Mas está ai, ele é meu pai. Com tantos defeitos e tantas virtudes. Com suas explicações extensas sobre porque a minha sapatilha não é de plástico, como a panqueca é feita ou porque o DOS ainda é essencial em nossas vidas.

Sem diploma universitário, ele é de tudo um pouco. Encanador, costureiro, cozinheiro, eletricista, terapeuta, pscicólogo, engenheiro, pedreiro, marceneiro. Enrolado.

Ele nunca leu nada além dos manuais de eletrônica para mim. Nunca fez uma casa na árvore ou me levou para jogar bola. Nunca brincou de casinha, nem comeu o meu arroz duro sem chiar. Brigou comigo quando arrumei meu emprego aos 16 anos e não queria que eu fizesse jornalismo.

Mas está ai: cai a resistência do chuveiro e eu, ensopada, me enrolo no roupão enquanto ele conserta o mais rápido possível para eu terminar meu banho.

Me ajudou a construir o modelo de uma molécula de DNA helicoidal, que ainda por cima girava quando apertava um botão. Foi no especial do Dia das Mães porque minha mãe não pode ir.

É complexo. Ele sabe o ponto exato do cozimento de um ovo, mas berra toda vez que precisa mandar um email. É capaz de construir um controle remoto que move objetos de mais de 200 quilos, mas reclama de ter de lavar um copo. Carregaria minha família inteira nas costas, mas não coloca as próprias meias sozinho.

Meu pai é um conjunto de antíteses. E alguém tão polêmico merecia uma citação no meu blog.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

News

Pessoal...

Em meio a tantas notícias tristes como as mortes por gripe suína, a lipo do Ronaldo e o noivado do Orlando Bloom, eis uma boa: eu agora tenho uma coluna de cinema!

Para aqueles que sempre gostaram dos meus textos, convido-os a lerem o Cine +, no portal Arena News.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Chovendo

Uau... realmente São Pedro anda de picuinha com os paulistas e só faz chuva...

E eu, estou embolorada com tanta umidade...

Em breve, o tão esperado (pelo menos por mim) layout.

Aguardem e confiem.

E não se esqueçam do guarda-chuva...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

. due

Nada flui, as coisas emperram e se entrelaçam. Tudo parece mais complexo. Tudo é sempre mais complicado.

Até os sentimentos, que deveriam fluir naturalmente, não o fazem. Eles também se entrelaçam entre realidade e imaginário, entre sonho e pós-sono. Nada poderia ser mais complicado.

Os sentimentos acordada não são os mesmos dos que tenho quando caio no mundo do velhinho da areia. Deve ter algum entorpecente naquela areia. Alguma substância mística que entorpece enquanto inconsciente.

E ainda questionam a sanidade. Como pode ser normal sendo uma pessoa acordada e outra quando dorme? E se perguntarem qual das duas prefiro, digo que a segunda, sem nem pestanejar. A segunda é corajosa, é forte, é viva. Não chora até adormecer querendo ser quem não é. É exatamente do jeito que quer. E se não fosse, faria ser.

Ela doma o tempo e as pessoas com suas suaves mãos e faz cada um se entorpecer com seu misticismo. Talvez seja essa coisa de ser duas ao mesmo tempo, uma tão diferente da outra. E por isso mesmo, tão interessante.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A avó dos meus netos, o pai do novo jornalisto e a lei de Murphy

Sabe o mendigo sujo na fila da sopa? Imagina que na vez dele, a sopa acaba. Pense na grávida que queria "aquela" caixa de morangos que a velhinha da frente acabou de amassar e vai levar para fazer geléia. Pense na legião de fãs que comprou ingressos e não viu o Michael Jackson. Nos corintianos na final do Paulista, que madrugaram no Pacaembu e não conseguiram nada além de vídeos engraçados de pessoas embriagadas. Pense em todo mundo que algum dia quis muito alguma coisa e por causa da Lei de Murphy, não conseguiu.

Agora começo meu relato. Desde 2007 ouço aulas e aulas sobre o Novo Jornalismo, toda sua revolução, a Revista Realidade e todo o resto das influências americanas que fizeram toda a diferença na imprensa brasileira. Ela se resumia a um nome: Gay Talese.

Livros, aulas, apostilas, provas. Tudo citando esse tal que mudou a forma como eu vou trabalhar. Eis que em plena segunda, um ser de luz, vulgo Paula Franco, me manda uma mensagem via Twitter (alguém finalmente achou uma utilidade para o Twitter!): Gay Talese de grátis (sic) no MASP. Vamos?
Com toda certeza que sim, ainda mais às 19h30 e sendo do lado do meu trabalho. Os ingressos seriam distribuídos à partir das 18h30 e como levo apenas 15 minutos até lá e saio às 18h, isso estava resolvido.

Eis que ontem, às vésperas de sair do trabalho, eu olho no relógio com doce satisfação. Ele marcava 18h04 e eu estava no elevador, feliz por saber que veria essa lenda viva, o pai do novo jornalismo. De graça.
Cheguei na estação Trianon-Masp. Eu, completamente desorientada, questiono ao dono da banca, para que lado fica o MASP. "Na próxima esquina", ele responde, apressado. Lá vou eu, camelando feliz e ignorando os dedos sendo espremidos pelas botas não laceadas que insistiam em beliscar todos os meus dedos de todos os meus pés (dois).

Estava em frente ao que parecia ser o MASP. Presumi por causa do número de pessoas em frente. A fila contornava toda a entrada e fazia uma curva para dentro, formando um labirinto. "Aqui é a fila para ver a palestra do Gay Talese?", pergunto, na esperança de que a moça respondesse que não, era apenas distribuição gratuita de cachorros quentes vegetarianos. Mas o "é" dela me quebrou no meio e logo imaginei a probabilidade de ficar do lado de fora.

Enchi-me de otimismo, mesmo procurando inutilmente o ser de luz em algum ponto adiante na fila. Havia ligado para ela, mas como o metrô não tem sinal, não conseguiu me atender. E eu não sabia que ela estava no metrô, mas isso é indiferente. Uns 20 minutos após chegar na fila (mais precisamente 18h18), avisto o ser de luz quase caindo de boca na calçada para me achar. Sorte que fiz uma plaquinha escrito "Paula", senão ela jamais me veria (momento de sarcasmo, pois a placa era minúscula).

Ficamos na fila, conversando sobre a vida, o Universo e tudo mais. Eu já tinha saído do labirinto porque a fila andou. Estava quase contornando a fila da reta final da fila (é, assim mesmo, complexo uma fila para pegar fila), quando um sujeito alto, com cara de contador simpático se aproximou e informou que até o momento todos os assentos estavam ocupados, depois dali, só entrariam mais 50 pessoas e mais ninguém.

Já estava lá de pé, não custava nada ficar mais um pouco. E assim foi. A fila continuou andando até eu ficar bem perto da faixa que limitava os seguranças e o contador simpático da escada que me levaria ao pai de um estilo jornalístico. De repente ela para. Faltava pouco, mantivemos nossos postos. Afinal, valia a espera. Cada bolha no pé, cada minuto aguardando, cada palavra de incentivo. Vale tudo.

Meia hora após a pausa dos 50 sortudos, a fila começa a se mexer. As pessoas da frente passam. Vou me aproximando da faixa. Estou quase entrando quando surge do além, do nada, do infinito, uma mão composta por um braço e um tronco trajando um terno azul Roberto Carlos que despedaça meus sonhos dizendo "Parou aqui". Parou na minha vez! Não tinha uma pessoa na minha frente. Eu era a pessoa da frente.

Repleta de perplexidade, não consegui emitir nenhuma palavra. Indignada, o ser de luz diz que acabou é o caramba. Crio forças e solto que sou magra e caberia em qualquer espaço, por menor que fosse. E caso fosse preciso, ficaria no corredor, só ouvindo o Gay Talese falar. O segurança não se convence. Chega novamente o organizador do evento, vulgo contador simpático e diz que ninguém mais entraria, ele lamentava muito. Ninguém mais? Como assim? E eu? E a Paula? A Paula tinha que estar dentro, pelo menos pela inglória piada do Paula dentro. Mas virou Paula fora. Esperamos mais uns 10 minutos depois que os seguranças começaram a restringir a área. Eu ainda carregava um ínfimo fio de esperança. Doce ilusão. Na verdade, amarga.

Após uma hora e quarenta minutos em pé, na fila, prestes a construir a história que contaria para os meus netos (Meu querido, a sua avó viu uma palestra do Gay Talese... ele era tão fantástico), Murphy destruiu minhas chances. Desolada desse jeito, só uma coisa para completar meu "rolê paulistano": Mc Donald´s. É, Av. Paulista + fila+ Mc Donald´s= Rolê Paulistano.

E é essa a história que contarei para os meus netos. O dia em que quase vi Gay Talese e acabei comendo no Mc Donald´s. E o quanto Murphy riu da minha cara.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ringo!

E hoje, meus caros e caras, Ringão completa 69 anos!!!
Má eu amo esse Beatle.

Tem uns que acham que ele não é o o maior bateirista de todos os tempos. Eu acho que dentro do contexto Beatles, ele é sim o maior bateirista e não tem para ninguém. Mas há essa legião de desvairados que ignora o conceitualismo das bandas e quer pôr Hendrix com Ringo na bateria e Buddy Holly... Até daria, mas bem, melhor como está.

Sem deméritos para o meu querido Beatle (não tem essa de ex, a banda acabou, mas ele sempre será, assim como todos).

E fim, Birthday dos amiguinhos McCartney e Lennon para ele:

Birthday

The Beatles

Composição: Lennon / McCartney

They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy birthday to you Bridge

Yes
We're going to a party, party
Yes
We're going to a party, party
Yes
We're going to a party, party

I would like you to dance
(Birthday)
Take cha cha cha chance
(Birthday)
I would like you to dance
(Birthday)
Oh, yea

Yes
We're going to a party, party
Yes
We're going to a party, party
Yes
We're going to a party, party

They say it's your birthday
It's my birthday too, yea
They say it's your birthday
We're gonna have a good time
I'm glad it's your birthday
Happy Birthday to you

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O canto do bardo

Meu bardo já faz mais que cantar
Ele é poeta
Ele é profeta
Ele é político
E salvador


Ele arrebata
Cada mulata
Com suas doces
Rimas de amor

Meu bardo canta sonoramente
E chora cantarolando
O choro de quem mente
Fingindo que não está amando

Mas ama
E chama
E clama por um dia só
A sós
Sem nós
Só ele e ela

Meu bardo já foi caído
Mas hoje não o é mais
Meu bardo foi convencido
De tudo que é capaz

Meu bardo
Saiu cantando
E levou consigo
Meu sabiá

Meu bardo levou meu canto
Levou pro canto
A ave a cantar

Fico longe de sua poesia
Cheia de malícia
Para me atiçar

Fico distante desse olho grande
Que fica a me olhar
Semelhante ao semblante
De um diamante a lapidar...

sábado, 20 de junho de 2009

Jornalisticamente

Considerando que atuo também em jornalismo e que agora o canudo pouco importa, sorry my friends, mas sou jornalista também.

Embora eu ache uma grande falta de bom-senso essa banalização da profissão, não acredito que um diploma faça alguém realmente jornalista. O jornalismo é um estado de espírito. Bom ou mal, mas é.
Na faculdade, eles te dão as diretrizes de como agir num geral, como jornalista. Mas qualquer pessoa disposta, se entrar numa redação, consegue desenvolver o padrão de escrita do veículo. Com ou sem diretriz. E o canudo vira só um quadrinho na parede.

É triste pensar que eu e mais uma legião trabalhamos como cães para pagar um curso bom, que nos garantirá uma carteirinha de jornalista (e descontos em museus na Europa) é dispensável para assim ser chamado.

Citado em uma das discussões sobre o assunto, o QI vai contar mais do que nunca. Alguns dizem até que jogaram seu dinheiro no lixo fazendo jornalismo. Eu não acho. Todo conhecimento é válido. Todo o aprendizado valeu. O amadurecimento também. E a chance de conhecer esse novo mundo que a faculdade proporciona também.

Com ou sem diploma, jornalismo é feito com gente, para gente, de gente. Basta apenas o lead...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

About

Por falar em roubos, levaram embora meu lirismo. Antes, eu que tinha tantas idéias para poemas, versos e estrofes, estou completamente manca, sem dedos para escrevê-los, mesmo com todos presentes.

Talvez a realidade desgastante tenha levado junto com minhas energias, aquela capacidade de rimar, de colocar o que estou sentido para forma de maneira legível.

Ou seja uma fase. E eu volte com mais um capítulo do meu livro sem começo, sem meio, sem fim e sem nome.

Além do bem e o mal...

"Mentir é feio. Obedecer é certo. Bonzinhos vão para o céu. Os malvados, não."

Crescemos sobre a farsa de que no mundo, há pessoas boas e pessoas ruins. E sim, isso é uma farsa. Cristã, pagã, americana, dadaísta ou que for. É uma farsa. Ninguém é completamente bom ou tão completamente mal. Nem o bandido da luz vermelha, nem o austríaco que fez a filha de refém por 20 anos e a estuprou por diversas vezes (é, um caso extremo, difícil até de acreditar que ele é humano).

Todo mundo tem um pouco de maldade e de bondade dentro de si. Como você expõe isso é o que diferencia os comportamentos. É isso que seleciona o pestinha do pré com o menino bonzinho que divide o Tanddy de uva.

Você pode ser legal para uma pessoa e terrível para outra. Às vezes, propositalmente. E então? Em qual das equipes você se encaixa: "angels without wings" ou "red devils"?

Roubar é errado, é feio, é crime, é inconstitucional e essa retórica é universal. Todo mundo sabe disso (ou pressupõe-se que sim). Mas casos absurdos como o da lata de leite em pó me enfurecerem. Não digo que isso deve ser banalizado, pois instigaria à recorrência.Mas levar alguém à delegacia por isso é um exagero. Negocie com a pessoa. Ela trabalha para pagar aquilo que roubou, quando justificado que é um crime fomérico. Ninguém sai ferido, o contrangimento já deve ensinar alguma coisa.

E matar? Matar pode? E matar policial? Pode? Não. E matar em legítima defesa, pode? Matar quando um policial abusa do poder e tenta violentar sua esposa na frente do seu filho pequeno, pode? Pode? Não. Mas sem saídas, você não o faria? Deixaria tudo nas mãos de Deus, alguma outra entidade religiosa ou simplesmente o destino?

Pense. E pense que você já quis fazer algo errado e não o fez. Consciência, educação, bom senso. Algo te impediu que o fizesse. Mas isso não se chama bondade ou maldade.

É muito mais do que isso.

Repercussão- Post anterior

Como foi visto, as pessoas, de fato, quando interpretam algum conteúdo e se sentem contrariados por ele, tendem a réplica ofensiva.

No caso dessa experiência, até que foi sutil e não surtiu muitos efeitos (até porque embora, como citado nos comentários, leve a entender que sou meio intolerante, de fato, não tem nada demais). Pois é, ficaiadica... pessoas que se sentem contrariadas, mesmo que seja um tema banal em um site de relacionamentos, tendem a ser grossas, embora não tenha sido o caso.

E o pior é que tem sempre um para contrariar. Chegamos a conclusão de que as pessoas gostam mesmo é de uma polêmica. Mesmo que não as criem, são raros os que veem uma discussão fervorosa e não se sentem tentados a comentar alguma coisa ácida.

Acho que esse comportamento é ainda muito instintivo. E na internet, com essa "liberdade de expressão", onde todo mundo pode falar o que quiser, muita gente acaba falando besteira...

Enfim... é isso. Não tenho nada mais a acrescentar. E você?

Nota rápida: agora que caos, vulgo faculdade aliviou-me, volto com posts melhores. Ou meu nome não é Carlota Joaquina.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Lá vou eu...

Após minha desistência da pesquisa behaviorista sobre a aparência e o julgamento das pessoas, estou testando outra teoria.

Ela consiste no fato de que você não precisa de muito para criar confusão em comunidades do tão popular orkut. Um comentário que possa causar dupla interpretação (ou nenhuma interpretação!) e um tópico com 3000 postagens vai permanecer no topo, ignorando o foco da própria comunidade.

A explicação: a necessidade humana de retrucar algo que não condiz com o que acha/pensa/segue/acredita.

Tenho experiência no assunto. Já me envolvi em "brigas feias" em comunidades por dizer o oposto ou não concordar com a pessoa.

Em um projeto experimental, que vocês poderão acompanhar seguindo e lendo este blog (isso se eu não desistir na metade também...), mostrarei como nada vira alguma coisa.

A comunidade: Ringo Starr- BR

O tópico: Ele compôs alguma música?

Meu comentário: sem comentários.

A réplica: Elsa, então porque (sic) comentou?

A tréplica: Livre arbítrio e ironia.

Análise geral: o simples fato de nada apresentar sobre o tema proposto pelo tópico, ainda que com teor inofensivo, incomoda.

Pois é. Acompanhe a repercussão.

Ps: o intuito não é ser provocadora e nem o fruto da discórdia. Apenas comprovar que todo mundo (ou a maior parte) odeia ser contestada, embora discorde dessa afirmação.

Ps²: Já espero acidez em comentários.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Utopia particular

O que mais tenho visto nas aulas de TV é o que volta para me atormentar hoje. A imagem mexe com a imaginação da pessoa. Ela aproxima aquela realidade do telespectador.
E é exatamente assim que me sinto.

Acho que os vídeos, principalmente os filmes ou com enfoque publicitário tem esse poder. Mexer a tal ponto com o emocional das pessoas que a gente quer ser/ter/viver aquilo. Cada um com seu peso e intensidade, mas é isso. No Natal, a venda de perus aumentam porque as pessoas querem a família reunida em volta dele, felizes. Que nem na propaganda.

As crianças querer as Barbies/Hot Whels da vida porque acreditam naquilo. A publicidade é feita para nós acreditarmos naquilo que na maioria das vezes não é real. A realidade é triste e chata...

E mais do que nunca, hoje em especial quero a propaganda da Kenzo- Amour. Quero a cabana, a música, o pássaro e aquela sensação de que o mundo te abraça. Porque depois que vejo aquilo me bate uma melancólica felicidade de saber que algum dia isso pode ser possível e que dentre todos os filmes e propagandas, eu escolhi não ser o Rambo, ter super poderes ou ser a galanteadora da praça. Eu só quero o pássaro, a música, a cabana...

... E o abraço do mundo.


"Utopíe" comigo:

terça-feira, 19 de maio de 2009

É FOGO!

Lenine duas vezes em menos de um mês. Seria motivo para riso se cada palavra salpicada da boca tão poética não me fizesse matutar muito. Sim, eu matuto muito, segundo uma certa amiga.

E estou bem no esquema "Do It". E acrescentaria um "Do it yourself".

Se tá frio, esquenta
Se tá fora, entra
Se pediu, aguenta...

Trechos, versos, tudo matutando nessa cabeça que mais tem cabelo do que tudo (sim, eu sei, preciso cortá-lo).

Vou parar de ouvir Lenine... pelo menos por hora.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Oldin... Oldin...

Não vou pedir para o passado voltar. Sou melhor agora, que antes. Ponto. Mas quero um futuro tão bom quanto o passado.

Mãos de perereca, brincos de pena, hot dog, Dostoiévski, Kant cantando com Disney...

Me prometeram tamarindo sabor pitanga, me prometeram uma cama na varanda... Nada disso vai voltar. Nada disso veio.

Aquela mania besta de rir por papel e fazer o papel do riso. De esperar perto do alfabeto grego o amigo tonto do sapato grande, a amiga boba da boca enorme, a lesada viciada em "Ouro Preto".

Aquelas nojeiras asquerosas de ketchup na Sprite e aquele choro angústiado pós-rejeição. 25 km a pé para comer "teta de nega" e engasgar quase até a morte.

06:00 da manhã em pé para pintar corujas nas paredes das belas pobres crianças e jogar no Playstation 3, comendo Bis.

Brigas por bandas, discussões por filmes, guerras por livros, desentendimentos por atenção. Reconciliação por carta, pássaros sendo alvejados.

Palavras ditas sem o tom certo. Frases não ditas. Abraços não dados. Dados não jogados. Sorte não lançada. Rota não traçada. Trilha não trilhada.

Mas o trilho é como o milho que cai no caminho. Sigam-lhe os bons.

Nós seguiremos...

terça-feira, 5 de maio de 2009

Bem, estou "não suinamente gripada", antes que isso venha dar pé para (mais) alguma piada.

Nessa bagunça, digo apenas:

"Deixem os porcos vivos. Dê um resfenol e tudo ok."

"Com seca no Nordeste, o Ceará e o Maranhão debaixo d´água. Alguém lá em cima ergueu uma plaquinha de ironia."

"Quem inventou o trabalho definitivamente não tinha o que fazer."

Sem mais até alguém me doar alguns leucócitos (valeu pela dica Linão).

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O valor da raça

Não compre cães.

Adote.

Cães são sacrificados todos os dias por falta de donos. E você pagando por um filhote que foi feito com o intuito de apenas ser comercializado.

Não compre. Adote.

Não venda, não faça seu cão procriar para lucrar com isso.

São vidas, não mercadorias.

Prontofalei.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O poder de Lenine

Depois de um sábado olho a olho no Lenine, "É fogo" domina minha mente.

Tanta coisa na minha vida tem sido fogo. E o "É foda", tão poético na voz do cantor, é tão simplório nos meus dias. É foda.

Eu odeio quando estou triste, querendo crescer e alguém chega me comparando a outra pessoa em situação pior, ou então a mim mesma, tempos atrás. Só porque melhorei, não quer dizer que esteja completamente bem. E não possa melhorar mais. E mais do que tudo, não saber como e nem o que fazer para isso.

É fogo.

Ontem eu estava de chinelo, hoje estou de tênis. Mas amanhã quero um carro. Oká, uma metáfora tosca, mas é bem assim. Pensar no que fiz não muda nada. E ao invés de ficar me comparando com pessoas piores, me compare a pessoas melhores.

É foda.

Tem horas que eu quero colo, idéias, sugestões. Não um guia 2009 de como sou sortuda por não morar debaixo da ponte, ter AIDs e ser drogada. Eu quero a mochila e o passaporte, a casa chique e o carro caro. As saídas boas, as pessoas bonitas e inteligentes que são legais e me tratam de igual para igual.

É fogo.

Disseram desde pequena que não podemos ter tudo. Besteira. Tanta gente tem tudo. O tudo engloba muita coisa. Mas o meu tudo pode ser decifrado como os pequenos prazeres da vida. Em mais um clichê à lá Amélie.

É foda.

O problema está em mim, definitivamente...

Ou não.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O dia "DE"

- O problema é....

Você...

Acordo e vi que não passava de um sonho. Mais um. Na verdade, um pesadelo. Mais um.

Não queria acordar. Fingi que não ouvi o despertador. Um pedaço de plástico, com alguns mecanismos que soam estridentemente não pode comandar minha vida.

Ledo engano. Esse miserável pedaço de plástico comanda minha vida. Assim como outro pedaço de plástico comanda minhas finanças e de como vivemos em função de vários outros pedaços, principalmente de papel moeda.

Levanto como quem ainda está dormindo. Talvez estivesse. Talvez eu seja como os golfinhos e consiga trabalhar apenas metade do cérebro enquando a outra metade descansa. Ou não.

"Hoje eu realmente não queria ser meu mesma".

A saudosa e angustiada retórica da devoradora de porquinhos da Índia é verdadeira. Queria ser outra pessoa.

Queria ser um tatu, me esconder debaixo da terra e não sair até ter vontades fisiológicas ou a comida acabar. Ou um avestruz. Engolir qualquer coisa. Ou ainda uma ema, que quando a coisa fica ruim, enfia a cabeça no chão e ok.

O fato é: tem dia que tenho preguiça de mim mesma. E conclui-se por ai que tenho preguiça dos outros. E os outros também tem preguiça de mim. É um ciclo (vicioso).

São dias cor de cacau podre. Dias se graça, mesmo com sol. Mesmo com céu. Mesmo com sorriso.
Dias de serviço chato. Tortas de palmito frias. Dias de correria monótona.

Quero mais daquele passado. Quero mais daquelas pessoas. Por que deixei que se fossem?
Se o diabo realmente existe e compra almas, talvez devesse ter barganhado a minha para não deixar passar essa oportunidade.

Mas passou. Se foi. Tchau.

Um c* com espinhos pulsantes dentro de outro c*.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Dia Mundial do Café

E hoje, quem diria, é o dia do meu vício, que anda mais do que nunca me ajudando a me manter em pé.

Segundo a nossa amiga Wikpédia, o café é a bebida produzida grãos torrados do fruto do cafeeiro.
Seu nome, ao contrário dos mitos que dizem ser de Kaffa- local de origem da planta, vem da palavra qahwa, que significa vinho em árabe, devido sua importância.

Há uma lenda que conta que um pastor, ao ver suas cabras consumirem folhas e frutos do cafeeiro, notou que elas ficavam mais "elétricas" por assim dizer. Decidiu provar os frutos e também percebeu maior vivacidade em si.
Um monge da região, ao saber dos fatos, começou a consumir uma infusão dos frutos para não sentir sono durante as orações.
Nascia ai o princípio do café, para minha enorme alegria.

O conhecimento dos efeitos do "ouro negro" disseminou-se no século XVI e o café era utilizado no oriente, sendo torrado pela primeira vez na Pérsia.

O nome da planta, dado pelo cientista Lineu, provém de suas origens: coffea arabica.

O café, mais do que um grão ou um vício, foi durante muito tempo o "energético" que impulsionou a economia dos países, principalmente o Brasil, ficando apenas atrás do petróleo.

A história do nosso país deve muito à esse frutinho ai, que nos garantiu muitas exportações e foi de suma importância nos períodos Pré-República.

Por isso, uma enorme saudação ao meu amado café pelo seu dia.


E feliz dia do café para mim...

Vai um ai?

O presente que é bom...

E para concretizar o meu estado de ocupação/falta de tempo/esquecimento, eis que o blog completou dois anos no dia 02 desse mês e eu nem sequer fiz uma menção.

Mas faço agora, com 12 dias de atraso.

São 2 anos escrevendo e descrevendo tudo o que dá vontade. E digamos, muito melhor que no princípio.

Obrigada por ler, por opinar e até por criticar.

São os dois primeiros anos do que espero que se tornem muitos.

Sonhos de uma manhã de outono

"O problema não é o trabalho. O programa é ter que trabalhar."

A frase irrefutável proveniente do personagem de um dos maiores sucessos mexicanos no Brasil cabe bem agora.

Passando pela lotérica, no caminho da labuta, o pincel atômico vermelho utilizado anuncia que o prêmio da Mega Sena acumula R$ 17 milhões para o próximo sorteio. Um atrativo e tanto para abrir os olhos nessa manhã fria e chata de terça-feira.

É tanto dinheiro que eu nem consigo imaginar o que faria primeiro. Lógico, a primeira coisa seria desamaiar. Perder o ar. Depois pensaria em tudo o que iria fazer. E iria buscar o prêmio, evidentemente.

Mas acho que dentro todos os sonhos que um prêmio de Mega Sena pode oferecer, o maior deles é deixar de trabalhar. Pelo menos por obrigação. Trabalhar realmente seria um enorme prazer, uma vez que você o faria porque quer, não porque precisa.

Não seria radical a ponto de dizer que jamais trabalharia novamente. Pelo contrário. Acho que trabalharia bastante. Mas por ideologias, idéias, ideais. Não por dinheiro. O trabalho não-remunerado também é um trabalho.

Trabalharia pelo mundo inteiro, viajando, conhecendo, desvendando, aprendendo. Mais ainda se não precisasse me preocupar em como bancar tudo isso. E digo ainda que não teria mais férias, porque mesmo descansando, se algo me surgisse como oportunidade de trabalho, sairia da hidromassagem correndo para ir atrás.

É...

Muita imaginação para uma manhã cinza e chata de terça-feira. Como se fosse plausível... Mas não é. Ainda não.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Meus quase 1000 toques (983)

Venho eu, no auge de todo o meu cansaço e fadiga (físico e mental) postar sobre o dia 07 de abril- O Dia do Jornalista.

Para todos que sangram tinta nessa profissão matuta, laudeiam, pauteiam e se de despenteiam. Pautas que caem, matérias que se dissolvem no ar e muita pressão.

Mas também riso, graça, aquela marotagem desses metidos à sabichões que despejam toda a sua acidez em filosofias de buteco, regados sempre à muita cerveja.

Que nunca faltem fontes e que nossas matérias não caiam, nosso teto salarial vire piso, que tenhamos muitos furos e oramos nós, todos os dias na pirâmide invertida, segundo o amado e odiado lead.

Somos uma sub-espécie. Ao ser jornalista, tornar-se-á um ser híbrido, capaz de fazer 15 coisas ao mesmo tempo. Você escreverá feito um louco, lerá como um condenado, decupará fitas, contará toques...

Mas que cada jornalista digno seja louvado não só hoje. Que saiam do OFF todos comunicadores sociais éticos.

E se isso ficou grande demais, corta pelo pé...

terça-feira, 31 de março de 2009

Jovens utilizam horário de serviço para discutir diploma de jornalismo e mercado de trabalho


Focas recém-formadas e vetexetes reclamam da ausência de empregos próximos


Colaborou: Guilhas

Uma jovem de 20 anos alegou ontem, em Pinheiros, que sente sono ao conversar com seus amigos pelo serviço de mensagens instantâneas do msn. Elsa Villon, estudante de jornalismo, disse que não sabe a causa de tanto sono, só o sente porque costuma acordar cedo e sofre por trabalhar tão longe: "Cansa demais. Queria viver de renda".

Elsa, assim como 100 mil jovens, segundo estimativas do Datafolha, trabalham longe de suas residências. Segundo o secretário da Educação, João Bob Nelson, metade deles não tem opção de escolha, agarrando a primeira oportunidade que aparecer. Já, os outros 50 mil, não tem mais o que fazer mesmo. " A vida é assim mesmo, tem que bater de volta" afirma o jovem Guilhas Bra, 21 anos, que diz "também ter sono de manhã. Mas, antes um lide na mão do que a Helô voando."

O estudo apontou ainda que 25% dos jovens entrevistados não sentem tanto prazer em cursar a sua atual graduação. "Eu mudei de idéia. Quero ser bailarina", afirma Elsa.

Porém, mesmo com alto índices de desistência, o diploma de graduação de jornalismo ainda não está regularizado. O Supremo Tribunal Federal decide no próximo dia 10 a situação dos mais de um buzilhão de jornalistas em atuação hoje no Brasil.
"A expectativa é de que não me fodam" afirma o repórter desta matéria.

Por fim, a estudante de jornalismo é otimista: "Se a Renata Fan conseguiu, por que eu não conseguiria? E nem preciso namorar o Alexandre Frota durante a Casa dos Artistas para isso".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Azedume típico de segunda-feira

Hoje eu gostaria que fosse amanhã. Porque ai poderia ter ficado um pouquinho mais no ontem. Sem me preocupar.

Ausência de horários, falta do que fazer, excesso de horas de sono, fome em demasia, risos exagerados. O fim de semana podia durar uma semana. E a semana, apenas dois dias.

Mas Shakespeare já disse que se as férias se invertessem com o trabalho, tornariam-se tão insuportáveis quanto o trabalho. Mas hoje, mais do que nunca, gostaria de correr este risco.

Então... só acrescento: bom trabalho ai.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Human? No, journalist

Sem querer parecer bajuladora da profissão, "típica estudante" e puxar sardinha para o jornalismo, mas se algumas coisas da vida fossem como a estrutura de uma notícia, muitas coisas seriam simplificadas.

O nosso tão ortodoxo lead (ou lide), que te obriga a responder logo de cara o que, quem, quando, onde, como e por que é um exemplo.

Se ao invés de complicar, de mistificar, respondêssemos de cara o que é questionado, metade dos mals-entendidos teriam fim. Obviamente surgiriam outros, que consistem simplesmente na atitude de falar logo de cara tudo o que é perguntado, restando apenas aquela falta de censura no que é dito.

Quando alguém falasse "Adivinha", você segueria o roteiro leadiano. Como na conversa seguinte:

- Adivinha...
- O quê?
- Comprei uma saia?
- Quem?
- Quem o quê, bebeu? EU comprei uma saia.
- Quando?
- Hoje cedo, em uma liquidação.
- Onde?
- Naquela loja nova, com 75% off.
- Como?
- Com o cartão, oras...
- Por quê?
- Porque eu queria! Nossa, que chatice a sua, super seco e direto nas suas perguntas. Qual é? Só porque comprei a terceira saia essa semana, contrariando todos os seus avisos de que estava me tornando uma capitalista selvagem, fruto da indústria da propaganda? É essa a visão que tem de mim? Deve ser mesmo, por isso não dá certo entre nós, por isso. Você pensa coisas horríveis de mim. E pensar que só comprei para irmos na festa DO SEU melhor amigo. Fiz pensando em você e ainda aturo isso. Não dá mais, para mim chega. Tchau.

Tu tu tu tu...

Ou então bancar o entrevistador na balada, perguntando nome completo, idade, o que faz, o que estudou, aonde, porque estava ali é realmente um indício do jornalista pentelho... Ainda mais se não deixar sequer o pobre "entrevistado" responder uma palavra, no maior estilo Jô Soares.

Mas há causos em que ser direto, ser simples, ser "imparcial" é preciso. E mais do que o lead ou entrevistas, se todo mundo seguisse o modelo de bom jornalista e apurasse direito as coisas antes de sair falando, julgando, apontando, recriminando, ah, isso sim seria uma grande evolução.

Parasse de inventar dados, ouvisse os dois lados da história, recorresse a fontes e por fim informaria e não deformaria o fato.

Mas nem tudo é assim, muito na vida é praticamente uma reportagem especial, com páginas e páginas, informações complementares, pessoas diversas e locais inusitados. Com repórteres que passam meses se dedicando para ter um espaço limitado na vida delas. Até o momento de suas "deadlines".

E se refletirmos sobre, todos teremos uma deadline. Um dead time.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sem tato

Na angústia de uma tarde nublada, que chove, mas deixa nuvens amareladas no céu, fica o gostinho da solidão, do sono, da insegurança.

Um sensação esquisita, um aperto no estômago, como uma pontada. A cabeça latejando. Os dedos tremendo. O olhar falhando.

Aquela coisa esquisita, de saudade do que está perto, de vontade do que nunca teve, de alguém para comer cookie ou cachorro-quente do lado.

Alguém que não espere muito de você, que simplesmente te entenda e aceite como é: cinza, pragmática, simples e sincera.

E aceite seu ego, sua teimosia e insegurança. Porque tudo isso é vontade de se sentir necessária.

E no fundo, nem era só o ego. Nem era só insegurança. Nem era somente sincera.

Era pura. Como vodka russa, filtrada 124 vezes mais que as outras. Como tequila ouro ou prata.
Era só uma confusa, que queria colo e não sabia pedir.
Que queria ajudar, mas não sabia como.
Que queria se sentir da turma, mas não pagava lanches.

E nesta tarde chuvosa, cinza mas de nuvens amareladas, já esqueceu como se escreve e perdeu todo o seu tato com as palavras.

quinta-feira, 5 de março de 2009

"Eu tenho tanto para lhe falar ... "


Não sou fã do "REI", mas tenho muito para falar.

As palavras estão me fazendo de bobinha e o tempo está brincado de pega-pega...


Quando sair dessa Montanha russa de afazeres, voltarei.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capítulo VIII

Leia antes:


Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII


Acordou com raiva do mundo. Ela simplesmente não queria olhar a sua volta e ter que aturar tanta mediocridade. Hoje, mais do que nunca, tinha preguiça das pessoas.
Nem era feio o tal dia. O astro-rei já cobria a janela da cozinha vermelha quando o relógio em forma de vaca com um sorriso que se assemelhava ao gato de Alice indicava 8:23 da manhã. Uma terça-feira de sol, com uma leve brisa que trazia o cheiro das frutas do mercado à frente.

"Mesmo com o sol, mesmo com o aroma, mesmo com essa vaca plástica pendurada na parede, hoje estou com preguiça do mundo". Assim pensou nossa tinhosa protagonista, cansada demais para lembrar que dias mais infelizes já tinham acontecido.

Nada em especial indicava que aquele seria um dia ruim. Era apenas o mal-humor matinal misturado a uma sensação de saber o que vai acontecer de ruim, um pouco antes de, de fato, acontecer. O silêncio que precede o esporro. Ainda bem que ela não costuma acertar sempre. Quer dizer, quase.

Ainda terminando as caretas de quem acaba de se espreguiçar, ouviu a sineta da campainha. Era antiga, como tudo naquele lugar, menos ela. Ela era o único toque de frescor em meio a tanta coisa já antes mofadas.

Levantou-se com sua camiseta de listas desbotadas, suas meias no chão e a calça de moletom velha com "juicy" escrito em gótico no seu traseiro. Aquela calça já rendeu vários comentários engraçados.

Tentou espiar quem haveria de ousar perturbá-la tão cedo naquela manhã. Mas os olhos ainda colados, parte pelo sono, parte pela preguiça, não deixaram utilizar o olho mágico da porta. Abriu-a.

Um sujeito narigudo, de dentes amarelos e cabelos acinzetados, com um boné amarelo e uma camisa pólo cinza a esperava. Em um ato meio robótico, ele estende os braços, dizendo com falso entusiamo:

- Roses for a rose.

Infinitamente intrigada, ele recebeu-as e agradeceu, tirando alguma moeda perdida no seu bolso de moletom. Estendeu-a, mas o ajudante não aceitou:

- Sorry missy, that´s not our money.

Sem jeito, ela procurou no outro bolso. Encontrou uma goma de mascar, um clipe de papel, um bilhete com versinhos em 4 idiomas diferentes e uma chaveiro do Buda da Prosperidade. Não pergunte jamais como aquelas coisas foram parar no bolso da calça de dormir (sim, existe roupa de dormir, que não é pijama, é roupa de dormir...) da moça de boca rouge.

Entregou tudo ao homem narigudo, que meio desnorteado, aceitou e foi embora.

Fechou a porta pegando agora o centado que havia oferecido inutilmente ao entregador, o buquê e uma vaca de pelúcia, trazendo um cartão.

(Pausa para uma das partes mais importantes da nossa história:

Logo, aquela que ainda não tem nome, será Substantivo Próprio, aguardem e confiem.

Fim da pausa para uma das partes mais importantes da nossa história).

Colocou tudo no balcão com toalha quadriculada, que já abrigava dois porta-cookies de vaca e parou para ler o cartão. A letra inclinada, quase lapidada, era familiar. E traziam o seguinte:

Cara Evy...

Foram feitas flores, pessoas e símbolos. Esses viraram letras. E disso foram feitos os amantes. E dos amantes, foram feitos os poetas. Das poesias, fizeram-se os músicos. E dos músicos, fizeram-se as canções.
Eis a sua, do seu músico que não é poeta, só amante, para sua mais bela rosa:


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em prece comovente de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer


Não havia assinatura. Não havia nem sequer uma rubrica. Ou até mesmo um codinome. Um heterônimo. Nada além de uma lasca de quartzo rosa colada ao fim de fenecer...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Pimenta

Aproveitando todo o suco gástrico tão ácido e borbulhante que me renderá uma úlcera aos 21 (dramático não?), deixo a polêmica:

"Humanos dão muito trabalho. Adote um cão".

Irrefutável.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

As idéias, a vontade, a disposição e o tempo para postar têm (ou tem, pois o acento diferencial supostamente deveria ter caído, mas alguns dizem que não) sido ínfimos.

Volto logo que possível.