segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Infinitamente

02:53 de uma pré-segunda. Pré, a palavra da vez. Pré-sal é responsável por isso. Culpa do Lula (é moda colocar a culpa no Lula). Matuto sobre uma frase dita por ai.

Por ai, há algum tempo, por Voltaire. E Voltaire era um cara bacana. Se ele tivesse barba, poderia entrar no Hall dos barbudinhos legais, junto com Marx, John Lennon e Raul Seixas, como bem estigmatizou um certo cabeçudo que conheço.

Ler é preciso. Uma pilha de livros, jornais e revistas está aumentando cada vez mais ao lado da minha cabeceira. Não consigo terminar um livro faz tempo. Quero ler e saber de tudo e de todos e no final, só sei que nada sei. Outro para o Hall dos barbudinhos.

O mundo fala um pouco mais de Honduras. Um quarteirão explode no ABC. O Corinthians mantém o São Paulo refém dos empates e derrotas há mais de dois anos. O Rubinho perde, o Hamilton ganha. As capas de sites e notícias mais tediosas do mundo são feitas aqui.

Dez entre dez brasileiros preferem feijão. Eu prefiro o café. Ah, ele tem me salvado de cada uma. Ele já salvou a economia do país de cada uma. Santo grão miraculoso.

Navegar é preciso. Na verdade, navegar é necessário, GPS é preciso. Saudoso comentário "made in Viamão". Sempre com citação.

Eu vou navegando, rio abaixo. Espero o jacaré se aproximar. Deixo a frase que inspirou o post para o final, como a cereja ao marrasquino de uma suculenta mousse de chocolate belga meio amargo:

"Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

^^ de ponta cabeça

Gaúcha querida
Caneca escolhida
Amora colhida

Quem precisa de malemolência
Com essa consciência?
De tudo, do mundo
De mim

Obrigada agora
Depois da aurora
E em outrora

Amém

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Agite antes de usar

Deixo para mais tarde. Afasto.

Distante, guardado, fechado com cadeado.

Disfarço.

Faço um drama monástico. Refaço.

Dinastias, etnias, companhias.

Se unem, se fundem, se forjam. Fingem.

Fogem.

Ferem.

Preferem.

Proferem.

Profeta. Prometa. Perneta. Peteca. Penetra. Bicudo. Bicão.

Bico. Um gole.

Mexido, não batido.

sábado, 12 de setembro de 2009

Discovery

Uma gota de suor descia pelas costas. Sozinha e única, perfeita em sua forma. Os lábios rosados tremiam, os poros se abriam para ouriçar os pêlos do braço, da nuca, do pescoço.

Silêncio.

Fez-se o arrepio mediante à sudorese em um gesto contraditório. Não-linear, como a história das histórias, do mundo, do tudo. O tudo é não-linear.
E fez-se a mudez, para quebrar o silêncio. Antagônico, confuso. Distorcido.

Pausa. O vento leva a mudez, que tinha levado o silêncio. A gota perfeita desce agora mais à esquerda, empurrada por aquela brisa. Ainda solitária.

Foi-se o vento. Ficou o momento, selado pela mudez. Calado e setenciado por mãos inquietas, pálpebras semi-abertas e uma sensação recém-descoberta: a vida não-linear.

domingo, 6 de setembro de 2009

Bleu

06:57 da manhã. Domingo, véspera de feriado. Planos bons para um dia ensolarado. Mas a chuva ferrou tudo. E o pior: eu sabia que ela vinha. Porque, não sei se já disse, eu sinto o cheiro dela chegando. Assim como a maré mudando. Bate aquele vento e eu sei: é mudança de maré.

O fato é que muita gente me acha esquisita. E em uma engordurada mesa de bar, batizada com cerveja, cheguei a conclusão que sem os genes dominantes do meu pai, talvez eu fosse uma largada da vida ai, sem amigos, sem atenção, sem auto-confiança. Não que seja muita, mas não diria que é pouca.

O fato é²: graças aos genes dominantes do meu pai, eu consigo coisas que não conseguiria sem eles. Azeitonas de graça para acompanhar a latinha de Skol ambicionada após duas aulas de jornalismo de cabresto, por exemplo. Ou sachês extras de viangrete na feira, ou descontos na compra de melões... enfim. Coisas que só olhos pedintes conseguem.

E em inglória ocasião, um inglório ser enfatizou, com uma naturalidade sem tamanho que, graças a um par exclusivo de genes do meu pai, eu fujo à feiura. Não sei em qual categoria de predicativos isso se encaixa, mas é algo que vem me envenenando desde que proclamado.

São quase 21 anos e agora eu me questiono: serei eu somente e tão somente um par de olhos azuis (e olhe lá, pois eles insistem em mudar de cor, beirando o cinza e o esverdeado cor de musgo)?

Sei lá. Com essa chuva, ao invés de ficar me indagando sobre o existencialismo por trás de uma frustrada descendência europeia, vou dormir. E sentir o cheiro da chuva e as mudanças de maré, com toda a minha esquisitice aflorada.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Niilismo

Daqui a pouco vou ter que acordar
Melhor então nem dormir
Melhor cá ficar, esperando
Um sono que não vai vir


Melhor pensar do que rir
O riso faz a gente ficar meio tolo
E na cozinha, tem um bolo
O qual não vou usufruir

Aliás, tem um bolo em mim também
Emaranhado, um vai e vem
Vai a certeza
Fica a saudade
Fica a gentileza
Vai a ingenuidade

Na verdade, meu miocárdio sabe
Meu ventrículo esquerdo conhece
Minha aorta já ouviu falar
E meu átrio reconhece

Minhas narinas farejam
Meu olhar busca
Minha pele pede
Meu ouvido aguça

Os pedaços que me revestem
Já não o querem mais
Acordo sem um pedaço
Sem pé, sem olho
Sem braço

Incrível é que pareço inteira
Intacta
Imaculada

A casca parece dura
Mas é recheada de gelatina
O corpo é quase adulto
Mas a alma é de menina

Daquelas atípicas
Que não gostam de boneca
Que mordiam pés de Barbie
Que brigavam por Atari

As que caiam de pés de frutas
Dentro de caixas de madeira
Que carregam cicatrizes
De uma infância tão arteira

Aquelas frias e solitárias
Repousando no telhado
Escrevendo poemas bobos
Para meninos retardados

Do tipo que gostava de futebol
Que jogava no gol
Que tinha minicraques
Que já quis ser jogador

Daquelas que viam estrelas
Cadentes ou não
Que queriam voar
Cantar
E tocar violão

Perguntaram que bicho era
Não sabia responder
"Meio flora, meio fera"

Um centauro com alma de dragão
Com flechas embebidas em poção
Uma quimera de olhos inexpressivos
Mas que guardavam o infinito

É isso.
O miocárdio, o ouvido, o tato. É tudo isso.