terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cond(u)ição

Mundo, mundo, vasto mundo...
... mais vasta é a Av. São João

Os caminhos largos que palpitam
como travessas no meu coração

Os largos da discórdia
O Largo da Concórdia
A Sé e a fé
O meu café, esfriando
Quase tanto quanto o Viaduto do Chá
Deixa para lá

Passei pela Ana Rosa
Pela Augusta, Angélica e Madalena
Alguns goles, muita prosa
Uma alma pequena

Vivo agora entre a Liberdade e o Paraíso
Enxugando olhos já violetas de choro
Aflitos por um sorriso

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Não leia

Leia.
É o mando geral.
Leia site, leia revista, leia jornal.
Coma informação.
Coma rápido, sem digestão.
E temos o resultado: montes e montes de dejetos organizados em sílabas e parágrafos mal-editados.

Agora filme. Filme gente, rua, casa, coisa e tempo.
Filme tudo e junte tudo num só elemento.
Edite.

Grave. Grave o som, grave a voz, grave o mundo.
E o mundo é grave, a voz é grave, o som é grave.
Gravou?
Edite.

Produza. Saiba. Escreva. Apure. Pense.
Tantos verbos no imperativo.
Imperativo é mando, é ordem, é ação.
Eu não funciono no imperativo.

Hiperativo.
Doses cavalares de café, Coca-Cola, chá preto ou êxctase.
Escolha.
Outro imperativo para tantos hiperativos.

Tem hora que só quero dar um basta.
Tem hora que só quero mandar à bosta.
Tem hora que falta resposta.

A grande verdade é que não há verdade única.
Nem mesmo as grandes.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estação infrutífera

Amoreira tão envelhecida
No fundo do meu quintal
Passou o inverno encolhida
Será que te jogaram sal?
Primavera vem agora
Lotar o meu pé de amora
Para esse jovem senhora
Fazer uma geleia real

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vitamina para as pernas

Há exatos 10 meses atrás eu saía nesse mesmo horário para ver uma exposição que mudaria minha vida. Mudou. Muda.

Cartier Bresson, um gênio da fotografia e uma tarde de risos e eu já não era a mesma pessoa. Era um dia quente, com uma garoa fina que molhava minhas Melissas e dificultava a locomoção de uma rótula já não tão firme.

Se aquele dia fosse um tempo verbal, seria pretério mais que perfeito. Eis mais uma saudosa piada interna que também foi utilizada naquela tarde.

Nem mesmo a caminhada, nem mesmo o sol e a chuva, a espera, a rótula ou o troleibus quebrado estragaram aquele dia. Novamente: pretérito mais que perfeito.

Os dias, semanas e meses seguintes também tornaram-se pretério. Perfeito ou imperfeito, fica a critério de cada um. Eis que agora vivo o presente do subjuntivo.

Há tempos me sinto o próprio Coiote após ser atingido por uma bala da canhão. Aquele buraco tão grande que dá para os outros olharem o horizonte por ele. E eles olham. Há um buraco assim em mim também. Grande, impossível de disfarçar, de ignorar.

Tanta coisa aconteceu que 10 meses tiveram o peso de mais de anos. Como se eu carregasse o mundo nas costas e sentisse minhas rótulas deslocando-se (de novo).

Eu sei que não dá para viver de passado, por mais perfeito ou imperfeito que tenha sido, mas nada acontece por acaso. Enquanto não entendo, vou recorrendo à Acme para tentar tapar o buraco.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

D(e)iscrição

Como uma casa sem fundamento
Como um prédio sem estacionamento

Vazio
Oco
Bambo

Um veleiro com a vela torta
Um poeta com a musa morta

Vazio
Sozinho
Tanto

Um pessimista recém-premiado
Um AA novamente embriagado

Vazio
Inútil
Fútil

Uma modelo não-fotogênica
Um punhado de soja transgênica

Vazio
Sem cor
Sem sabor

Um filósofo suicida
Um ecologista com inseticida

Vazio
Contraditório
Ilusório

Como jornalista sem opinião
Como poetisa sem travessão

Cheios
Cabeça e saco

quinta-feira, 2 de setembro de 2010