quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Du jour

Ele tinha aquele ar típicamente malandro. Sorria e olhava de soslaio, sem virar para trás para admirar o estrago feito. Era apaixonante e completamente sedutor, bem sabia. Tanto sabia que sempre usou isso a seu favor.

Caminhava sem pretensões, mas debaixo dos negros cabelos e sombrancelhas perfeitamente desenhadas, trabalhava pensamentos maquiavélicos para o próximo passo. Nem sempre tinha certeza e sua auto-segurança era 90% imagem e apenas 10% ação. Todavia, ninguém precisava saber disso.

Nunca gostou de ninguém, mas sabia que muitos gostavam dele. Era a recompensa. Ele lhe era agradável e em troca, as pessoas se apaixonavam perdidamente por ele, sua figura, suas ideias.

Era feliz assim, ou pelo menos, acreditava ser. Até ela aparecer e mudar sua visão de algumas coisas.

(Continua)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nostálgico

Tinha aquele cheiro da infância. Aquele familiar, de roupa recém-lavada pendurada no varal.
Sabão em pó mais barato, mas que deixava um perfume gostoso. Tinha aquele cheiro.

domingo, 17 de outubro de 2010

De Rua

Verso amassado no bolso. Quatro palavras rabiscadas. Eram apenas o esboço. De uma ideia rechaçada. Foram soltos aos poucos. Na molhada calçada. Cairam perto dos rebocos. Da parece pichada. Versos nela descreviam as imperfeições da amada. Mas o que todos sabiam é que era apaixonada.

Inflamável

Deve ser bom viver alheio aos sentimentos. Alheios.
Sem culpa, sem pena, sem nada.
Vazio e oco.

Alguns acham que isso é superar. E talvez seja mesmo. E eu as admiro por isso.
Porque não sei viver assim e não consigo conformar-me com coisas que me parecem tão imprecisas.

Gosto de porquês e sei que a maioria das coisas exige um porquê. Mas eu sei muito pouco da vida e ainda tem muito o que aprender.

Enquanto não aprendo, vou batendo e apanhando, sorrindo e chorando. Tentando decifrar.
Uma hora eu acho a resposta. Ou paro de me angustiar.

Porque tem coisa que é assim mesmo, sem razão.
Já outras, assim mesmo, 100 razões.

Arremeço a dúvida como um coquetel molotov, pronto para estourar.
Ou ele acerta o alvo, ou vai me queimar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010