segunda-feira, 10 de abril de 2017

Coisas que já aprendi aos 28 anos ou sobre despedidas

Já faz mais de quatro meses que completei 28 anos e aprendi muitas coisas durante esse período. Usei-o para decantar os aprendizados e escrever o famoso "Coisas que já aprendi aos X anos". Mas desta vez é diferente. Tem um tom de despedida. E eu vou explicar abaixo.

No início de abril, o meu submarino - vulgo blog ou depósito de ideias, sentimentos, loucuras - completou 10 anos. Uma década das quase três que vivi foram publicadas aqui. Muita coisa mudou, e eu ainda me lembro como tudo começou: uma segunda-feira à noite, aula da Produção de Textos com Paulo Ramos, primeiro ano de jornalismo. Eu tinha 18 anos, algumas expectativas e decepções e uma vontade imensa de mudar o mundo com a minha escrita. Sim, eu sempre fui soberba.

Dez anos depois, cá estou. Não mudei o mundo com a minha escrita, porém, mudei a mim. Isso é muita coisa, pois ninguém o poder de mudar o mundo ou o outro. Eu só posso mudar a mim. E se eu soubesse disso nove anos e meio atrás, com certeza as coisas seriam diferentes.

Aos 28 anos, eu aprendi como me defender de estrangulamentos, agarrões e outros tipos de violência, graças ao Krav Magá. Faz três meses que eu comecei as aulas e já me sinto mais confiante e dona do meu corpo. O caminho é longo - ainda sou faixa branca - mas é assim que tem que ser, pois tudo o que vale a pena demanda esforço e tempo. E isso não é necessariamente doloroso ou ruim. Exceção: às vezes é doloroso - e tudo bem.

Aprendi que algumas pessoas simplesmente não gostam de nós e esse é um direito delas. O gostar não exige porque. Ele só é e pronto. Entretanto, o direito de não gostar não permite que essas pessoas impeçam outras de gostarem de nós. Exatamente pelo mesmo motivo: o gostar não exige porque.

Também sei que as pessoas - eu inclusive - são trouxas. Não quer dizer que seja uma condição permanente ou constante, elas apenas são trouxas. E vale analisar se o grau de trouxisse compensa o tempo e afeto investidos ou não. Spoiler: às vezes vale e só é preciso derrubar muros de ego, vaidade e rancor para perdoar. Spoiler [2]: é muito legal quando isso acontece.

Aos 28 anos, quase dez de jornalismo, aprendi que tudo bem não estar nem perto de onde achei que estaria aos 30. Que ainda é permitido (e de graça) sonhar, errar, ter dúvidas e não ser excelente em nada. Desde que você admita isso, as coisas se acertam. Assumir as fraquezas é libertador, evita que nós fiquemos ressentidos com nós mesmos. Parece óbvio, mas é válido escancarar obviedades vez ou outra.

A sororidade também cresceu - e como. Cada dia que passa eu me sinto mais completa por ter amigas mulheres. Amigas mulheres que fogem aos clichês, que são mais do que inseparáveis, que estão aqui mesmo distantes fisicamente. Aliás, amizade é justamente entender que o outro é diferente, pode pensar de maneira distinta, não ir ao seu aniversário ou não te chamar para o casamento, mas ser amigo. Um bom amigo. Os mais diferentes são os que mais ensinam, nos tiram da bolha social que todo o sistema insiste em nos enfiar.

Eu aprendi que nunca mais eu vou ser magra como já fui. Aos 28 anos, peso quase o dobro que aos 18 anos. Ótimo, porque aos 18 eu era um saco de ossos depressivo e derrotista.

Aprendi que não sirvo mais para noites de cerveja e pouco sono: eu fico estragada. Muito estragada. Não vale mais a pena. Tem dias que eu realmente prefiro sentar quieta e ler, ou ver Netflix, ou ficar olhando para o teto, brincando com os cachorros, limpando meu quarto, viajando nas fotografias 360º de museus e bibliotecas ao redor do mundo e qualquer outra coisa que não seja interessante o bastante para publicar em algum "stories" da vida. Pode ser velhice e estou bem de boas quanto a isso.

E o maior aprendizado foi o encerramento de ciclos. Encerrar é preciso. Acabar. Finalizar. As coisas boas e as ruins. Em março eu encerrei uma mágoa muito grande que arrastava há anos comigo, como uma âncora enferrujada atracada no meu peito. Spoiler [3]: é revigorante. De verdade. Tente fazer isso: finalize algo há muito tempo parado.

Por isso, com todo o aprendizado desses dez anos, eu decidi encerrar as aventuras do Submarino. Essa fase acaba aqui, agora mesmo. Não vou deletar ou ocultar, mas também não alimentarei mais. Deixe que vire memória, que seja um mapa da Elsa de 2007 a 2017. Que seja preservado sem saudosismo, sem mágoa, sem ser nada mais que uma lacuna.

E para abrir espaço ao novo (nem tão novo assim), passarei a atualizar o meu Medium frequentemente. Para quem não sabe, cá está: medium.com/@elsavillon. Acho que o formato de blog já caiu em desencanto e o Medium dá conta do recado.

Tripulação, é hora de sair do submarino para emergir. Só vem.