Já faz mais de quatro meses que completei 28 anos e aprendi muitas coisas durante esse período. Usei-o para decantar os aprendizados e escrever o famoso "Coisas que já aprendi aos X anos". Mas desta vez é diferente. Tem um tom de despedida. E eu vou explicar abaixo.
No início de abril, o meu submarino - vulgo blog ou depósito de ideias, sentimentos, loucuras - completou 10 anos. Uma década das quase três que vivi foram publicadas aqui. Muita coisa mudou, e eu ainda me lembro como tudo começou: uma segunda-feira à noite, aula da Produção de Textos com Paulo Ramos, primeiro ano de jornalismo. Eu tinha 18 anos, algumas expectativas e decepções e uma vontade imensa de mudar o mundo com a minha escrita. Sim, eu sempre fui soberba.
Dez anos depois, cá estou. Não mudei o mundo com a minha escrita, porém, mudei a mim. Isso é muita coisa, pois ninguém o poder de mudar o mundo ou o outro. Eu só posso mudar a mim. E se eu soubesse disso nove anos e meio atrás, com certeza as coisas seriam diferentes.
Aos 28 anos, eu aprendi como me defender de estrangulamentos, agarrões e outros tipos de violência, graças ao Krav Magá. Faz três meses que eu comecei as aulas e já me sinto mais confiante e dona do meu corpo. O caminho é longo - ainda sou faixa branca - mas é assim que tem que ser, pois tudo o que vale a pena demanda esforço e tempo. E isso não é necessariamente doloroso ou ruim. Exceção: às vezes é doloroso - e tudo bem.
Aprendi que algumas pessoas simplesmente não gostam de nós e esse é um direito delas. O gostar não exige porque. Ele só é e pronto. Entretanto, o direito de não gostar não permite que essas pessoas impeçam outras de gostarem de nós. Exatamente pelo mesmo motivo: o gostar não exige porque.
Também sei que as pessoas - eu inclusive - são trouxas. Não quer dizer que seja uma condição permanente ou constante, elas apenas são trouxas. E vale analisar se o grau de trouxisse compensa o tempo e afeto investidos ou não. Spoiler: às vezes vale e só é preciso derrubar muros de ego, vaidade e rancor para perdoar. Spoiler [2]: é muito legal quando isso acontece.
Aos 28 anos, quase dez de jornalismo, aprendi que tudo bem não estar nem perto de onde achei que estaria aos 30. Que ainda é permitido (e de graça) sonhar, errar, ter dúvidas e não ser excelente em nada. Desde que você admita isso, as coisas se acertam. Assumir as fraquezas é libertador, evita que nós fiquemos ressentidos com nós mesmos. Parece óbvio, mas é válido escancarar obviedades vez ou outra.
A sororidade também cresceu - e como. Cada dia que passa eu me sinto mais completa por ter amigas mulheres. Amigas mulheres que fogem aos clichês, que são mais do que inseparáveis, que estão aqui mesmo distantes fisicamente. Aliás, amizade é justamente entender que o outro é diferente, pode pensar de maneira distinta, não ir ao seu aniversário ou não te chamar para o casamento, mas ser amigo. Um bom amigo. Os mais diferentes são os que mais ensinam, nos tiram da bolha social que todo o sistema insiste em nos enfiar.
Eu aprendi que nunca mais eu vou ser magra como já fui. Aos 28 anos, peso quase o dobro que aos 18 anos. Ótimo, porque aos 18 eu era um saco de ossos depressivo e derrotista.
Aprendi que não sirvo mais para noites de cerveja e pouco sono: eu fico estragada. Muito estragada. Não vale mais a pena. Tem dias que eu realmente prefiro sentar quieta e ler, ou ver Netflix, ou ficar olhando para o teto, brincando com os cachorros, limpando meu quarto, viajando nas fotografias 360º de museus e bibliotecas ao redor do mundo e qualquer outra coisa que não seja interessante o bastante para publicar em algum "stories" da vida. Pode ser velhice e estou bem de boas quanto a isso.
E o maior aprendizado foi o encerramento de ciclos. Encerrar é preciso. Acabar. Finalizar. As coisas boas e as ruins. Em março eu encerrei uma mágoa muito grande que arrastava há anos comigo, como uma âncora enferrujada atracada no meu peito. Spoiler [3]: é revigorante. De verdade. Tente fazer isso: finalize algo há muito tempo parado.
Por isso, com todo o aprendizado desses dez anos, eu decidi encerrar as aventuras do Submarino. Essa fase acaba aqui, agora mesmo. Não vou deletar ou ocultar, mas também não alimentarei mais. Deixe que vire memória, que seja um mapa da Elsa de 2007 a 2017. Que seja preservado sem saudosismo, sem mágoa, sem ser nada mais que uma lacuna.
E para abrir espaço ao novo (nem tão novo assim), passarei a atualizar o meu Medium frequentemente. Para quem não sabe, cá está: medium.com/@elsavillon. Acho que o formato de blog já caiu em desencanto e o Medium dá conta do recado.
Tripulação, é hora de sair do submarino para emergir. Só vem.
segunda-feira, 10 de abril de 2017
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
Crise Pré-28 e o Poli da Tilibra
Esses dias, a caminho do trabalho, estava ouvindo Outkast e me lembrei exatamente de onde estava quando "Hey Ya!" foi lançada: na escola, tocou na rádio, durante o intervalo. Eu tinha 14 anos e minha maior ambição era ter um fichário Poli, da Tilibra.
Digo isso porque, às vésperas de completar 28 anos, retomo a Crise Pré-Aniversário. A publicação já ganhou periodicidade cativa por aqui, e este ano não poderia ser diferente. Mas voltemos ao Outkast, à música e aos 14 anos.
Em 2003, eu fiquei doente por causa de um fichário da Tilibra. Sabia que meus pais não podiam comprar e, mesmo sendo uma filha dedicada, que além estudar, os ajudava na confecção de bolsas, o orçamento não permitia essa façanha. Eram R$ 65 em um pedaço de plástico que iriam fazer muita falta. Mesmo assim, the heart wants what the heart wants. E o meu queria o fichário Poli da Tilibra. Não teve.
Este ano, numa das andanças de bicicleta por Santo André, reencontro o fichário. Empoeirado dentro da embalagem, em uma banca de jornal/ papelaria/ loja de conveniência que parei para comprar a Revista Piauí do mês. Foi instântaneo: eu o quis novamente. Desta vez, custava R$ 50 e eu tinha os R$ 50. Comprei e um pedaço perdido de mim se completou naquele momento.
Tudo isso para dizer que, ao ouvir Outkast e comprar o fichário Poli da Tilibra, percebi que, numa metáfora bem rasa, as minhas ambições atuais não são inatingíveis. Elas simplesmente podem não acontecer na hora que eu quero. Foi o estopim: estava arquitetada a Crise Pré-28.
Já estou naquela fase que não pedem mais meu RG para entrar no bar (isso aconteceu até meus 24, 25 anos). Estou naquela fase que ganhar 1 kg faz diferença sim, principalmente nas calças jeans (que já foram 34, hoje estão no híbrido entre 36 e 38 - bem que poderiam fazer uma calça 37). Naquela fatídica fase em que perder uma noite de sono custa muito: uns bons dois dias de dor de cabeça, irritabilidade e fadiga. Que a pele do pescoço começa a formar linhas, as pálpebras já estão perdendo colágeno e os fios brancos vão brotando aos montes. Estou nesta fase aí.
No momento em que as redes sociais (Ah! As redes sociais!) esfregam diariamente na minha cara o quão felizes estão os meus amigos. Casando, viajando, parindo, escrevendo livro, plantando árvore, abrindo negócios, morando sozinhos, indo morar fora, ganhando dinheiro e prêmios, em empregos há mais de 2 anos. Ah! As redes sociais!
E em meio a tudo isso, bate aquela angústia: "O que eu estou fazendo da minha vida? Aos 27 anos, moro com meus pais, não tenho passaporte ou carteira de motorista, não viajei, não fiz pós, não passei no Mestrado, não tenho uma poupança ou previdência privada. O que caralhas eu estou fazendo da minha vida?" Num reipante de lucidez e maturidade, eu me acalmo, respiro dentro de um saco de papel e respondo para mim mesma: "Eu estou sobrevivendo da melhor forma possível."
Em suma, é isso. A gente vai levando as coisas da melhor maneira possível ou o mais próximo disso. Todas as vezes que a angústia bate, eu tento pensar nas minhas realizações que, aos olhos das redes sociais, podem ser banais. Mas eu sei quantos pães com banana tive que comer para chegar até aqui. Nem por isso eu sou melhor ou pior que ninguém. Logo, qualquer comparação é ridícula e totalmente equivocada.
Uma das coisas mais legais de envelhecer é a experiência. Não aquela para ostentar no LinkedIn, Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Pinterest ou qualquer outra rede que seja. Aquela sensação de quase epifania quando algo parece ruim ou angustiante e você lembra: "Calma, já foi pior, você aguenta". E aguenta mesmo. Primeiro, porque precisa. Depois, porque sabe que não é o fim do mundo.
Claro, tem coisa que ainda dói. Dói tanto que eu nem falo, deixo quieta ali. É melhor. Porém, muitas das coisas que doíam já não importam mais. Ontem mesmo me senti madura por perceber que não me importava mais com as richas da faculdade. Observando as pessoas mais novas que estão nesta fase bem caótica, percebi que nada disso faz mais diferença na minha vida.
Mesmo no trabalho: nada do que me machucou ou diminuiu em todos os estágios, redações e agências que passei me machucam mais. Ao contrário, até consigo achar graça disso. Atualmente, olho para trás e dou risada e, no fundo, até tenho saudade.
Todo esse textão para dizer que 95% das coisas que te importunam, angustiam e machucam hoje vão fazer diferença daqui cinco, dez, quinze anos. Elas se dissolverão, abrindo espaço para novas angústias, novas preocupações, novas mágoas - e também novas conquistas, novos aprendizados e momentos de satisfação.
Minha Crise Pré-28 está de boa. É como todas as outras, mas com uma versão melhorada de mim mesma. E em constante evolução, porque tem coisas a dar com o rodo que ainda preciso melhor (ser mais sucinta, por exemplo).
Sabe o fichário Poli da Tilibra? Tá aqui, na minha estante. Novo em folha, intocado. Eu queria tanto, e está lá, parado.
Quantas coisas na nossa vida a gente deseja com tanta força e, por fim, deixa acumulando poeira? Pense nisso. Eu vou pensando daqui.
Digo isso porque, às vésperas de completar 28 anos, retomo a Crise Pré-Aniversário. A publicação já ganhou periodicidade cativa por aqui, e este ano não poderia ser diferente. Mas voltemos ao Outkast, à música e aos 14 anos.
Em 2003, eu fiquei doente por causa de um fichário da Tilibra. Sabia que meus pais não podiam comprar e, mesmo sendo uma filha dedicada, que além estudar, os ajudava na confecção de bolsas, o orçamento não permitia essa façanha. Eram R$ 65 em um pedaço de plástico que iriam fazer muita falta. Mesmo assim, the heart wants what the heart wants. E o meu queria o fichário Poli da Tilibra. Não teve.
Este ano, numa das andanças de bicicleta por Santo André, reencontro o fichário. Empoeirado dentro da embalagem, em uma banca de jornal/ papelaria/ loja de conveniência que parei para comprar a Revista Piauí do mês. Foi instântaneo: eu o quis novamente. Desta vez, custava R$ 50 e eu tinha os R$ 50. Comprei e um pedaço perdido de mim se completou naquele momento.
Tudo isso para dizer que, ao ouvir Outkast e comprar o fichário Poli da Tilibra, percebi que, numa metáfora bem rasa, as minhas ambições atuais não são inatingíveis. Elas simplesmente podem não acontecer na hora que eu quero. Foi o estopim: estava arquitetada a Crise Pré-28.
Já estou naquela fase que não pedem mais meu RG para entrar no bar (isso aconteceu até meus 24, 25 anos). Estou naquela fase que ganhar 1 kg faz diferença sim, principalmente nas calças jeans (que já foram 34, hoje estão no híbrido entre 36 e 38 - bem que poderiam fazer uma calça 37). Naquela fatídica fase em que perder uma noite de sono custa muito: uns bons dois dias de dor de cabeça, irritabilidade e fadiga. Que a pele do pescoço começa a formar linhas, as pálpebras já estão perdendo colágeno e os fios brancos vão brotando aos montes. Estou nesta fase aí.
No momento em que as redes sociais (Ah! As redes sociais!) esfregam diariamente na minha cara o quão felizes estão os meus amigos. Casando, viajando, parindo, escrevendo livro, plantando árvore, abrindo negócios, morando sozinhos, indo morar fora, ganhando dinheiro e prêmios, em empregos há mais de 2 anos. Ah! As redes sociais!
E em meio a tudo isso, bate aquela angústia: "O que eu estou fazendo da minha vida? Aos 27 anos, moro com meus pais, não tenho passaporte ou carteira de motorista, não viajei, não fiz pós, não passei no Mestrado, não tenho uma poupança ou previdência privada. O que caralhas eu estou fazendo da minha vida?" Num reipante de lucidez e maturidade, eu me acalmo, respiro dentro de um saco de papel e respondo para mim mesma: "Eu estou sobrevivendo da melhor forma possível."
Em suma, é isso. A gente vai levando as coisas da melhor maneira possível ou o mais próximo disso. Todas as vezes que a angústia bate, eu tento pensar nas minhas realizações que, aos olhos das redes sociais, podem ser banais. Mas eu sei quantos pães com banana tive que comer para chegar até aqui. Nem por isso eu sou melhor ou pior que ninguém. Logo, qualquer comparação é ridícula e totalmente equivocada.
Uma das coisas mais legais de envelhecer é a experiência. Não aquela para ostentar no LinkedIn, Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Pinterest ou qualquer outra rede que seja. Aquela sensação de quase epifania quando algo parece ruim ou angustiante e você lembra: "Calma, já foi pior, você aguenta". E aguenta mesmo. Primeiro, porque precisa. Depois, porque sabe que não é o fim do mundo.
Claro, tem coisa que ainda dói. Dói tanto que eu nem falo, deixo quieta ali. É melhor. Porém, muitas das coisas que doíam já não importam mais. Ontem mesmo me senti madura por perceber que não me importava mais com as richas da faculdade. Observando as pessoas mais novas que estão nesta fase bem caótica, percebi que nada disso faz mais diferença na minha vida.
Mesmo no trabalho: nada do que me machucou ou diminuiu em todos os estágios, redações e agências que passei me machucam mais. Ao contrário, até consigo achar graça disso. Atualmente, olho para trás e dou risada e, no fundo, até tenho saudade.
Todo esse textão para dizer que 95% das coisas que te importunam, angustiam e machucam hoje vão fazer diferença daqui cinco, dez, quinze anos. Elas se dissolverão, abrindo espaço para novas angústias, novas preocupações, novas mágoas - e também novas conquistas, novos aprendizados e momentos de satisfação.
Minha Crise Pré-28 está de boa. É como todas as outras, mas com uma versão melhorada de mim mesma. E em constante evolução, porque tem coisas a dar com o rodo que ainda preciso melhor (ser mais sucinta, por exemplo).
Sabe o fichário Poli da Tilibra? Tá aqui, na minha estante. Novo em folha, intocado. Eu queria tanto, e está lá, parado.
Quantas coisas na nossa vida a gente deseja com tanta força e, por fim, deixa acumulando poeira? Pense nisso. Eu vou pensando daqui.
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Bela, recatada e do lar
Em uma semana em que a figura feminina de maior prestígio no país foi novamente exposta à humilhação, a Veja chega para colocar a cereja no bolo de merda.
A página em citação à Sra. Temer trouxe as expressões que intitulam esse texto como predicativos cruciais a quem quer ocupar um posto de primeira dama, como a ameaça iminente de impeachment sugere.
Porque em suma, é isso: mulher na política, só como coadjuvante. Nem isso, apenas como acessório. Bela, recatada, do lar, magra, branca, jovem. O combo perfeito e imagético para render belas fotos em colunas sociais de publicações incapazes de oferecerem conteúdo relevante.
Na posse da presidentA (sim, falo presidenta sim), Dilma foi altamente retaliada por conta do quê? Seu figurino. A "internet que não perdoa" fez inúmeras piadas, memes e todas as montagens e chacotas possíveis.
Afinal, Dilma não é jovem, bela, esguia, loira e sensual como a esposa de Temer. Mulheres têm data de validade, medida geralmente pela aparência. O conteúdo? Se não enquadra bem na foto, é irrelevante.
Essa chamada é o prego do caixão: ela mostra que regredimos 50 anos. Tanto em termos de democracia, quanto em jornalismo (podemos chamar isso de jornalismo?).
Bela, recada e do lar é uma pica, isso sim.
#ChupaVejaMachista
A página em citação à Sra. Temer trouxe as expressões que intitulam esse texto como predicativos cruciais a quem quer ocupar um posto de primeira dama, como a ameaça iminente de impeachment sugere.
Porque em suma, é isso: mulher na política, só como coadjuvante. Nem isso, apenas como acessório. Bela, recatada, do lar, magra, branca, jovem. O combo perfeito e imagético para render belas fotos em colunas sociais de publicações incapazes de oferecerem conteúdo relevante.
Na posse da presidentA (sim, falo presidenta sim), Dilma foi altamente retaliada por conta do quê? Seu figurino. A "internet que não perdoa" fez inúmeras piadas, memes e todas as montagens e chacotas possíveis.
Afinal, Dilma não é jovem, bela, esguia, loira e sensual como a esposa de Temer. Mulheres têm data de validade, medida geralmente pela aparência. O conteúdo? Se não enquadra bem na foto, é irrelevante.
Essa chamada é o prego do caixão: ela mostra que regredimos 50 anos. Tanto em termos de democracia, quanto em jornalismo (podemos chamar isso de jornalismo?).
Bela, recada e do lar é uma pica, isso sim.
#ChupaVejaMachista
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
27 anos
Ninguém faz texto sobre a vida aos 27. Porque se você não é famoso e morre aos 27, todo mundo caga para seus 27 anos.
Cá estou, fazendo um texto sobre a vida aos 27. Por vida, leia-se a minha vida. Não tenho o perfil biográfico para destrinchar as vivências alheias, portanto a régua aqui é empírica.
Nesses textos de blogs e sites famosos, a galera acha que aos 27 todo mundo já saiu da casa dos pais, está na labuta para comprar o imóvel próprio, rachando com amigos, morando com o parzinho. BAH! Resposta errada.
Eu divido o quarto com a minha irmã caçula, cuja probabilidade de sair de casa para o próprio apartamento é bem maior que a minha. Há 26 anos eu durmo em uma beliche (1 foi de berço, que logo eu dividi com a minha irmã do meio).
Há 27 anos eu divido o banheiro com mais cinco pessoas. Eu não rapo a panela sem perguntar se todo mundo já jantou. Não fiz intercâmbio, nunca tirei férias, minha experiência internacional se resume à Bolívia por cerca de uma hora. Não, esses textos de blogs e sites famosos não estão falando a minha língua.
Aos 27 anos eu estou formada na faculdade, com curso livre em cinema, na lona para aprender outros idiomas. Isso ai, outros. O inglês tinha que vir de fábrica e sempre fui baixa renda. Logo, não fiz curso e tudo o que eu sei foi na base autodidata.
Nessa idade, que as pessoas costumam reclamar que não tem o corpo de 10 anos antes, eu tenho a sorte de ainda usar boa parte das roupas que eram minhas aos 17. Camisas, vestidos, algumas calças. Meu rosto mudou, mas não a ponto de falarem que tenho 30. Obrigada mãe natureza e genética.
Fico olhando as redes sociais e todos os amigos parecem felizes. Nem sempre é verdade, cada um mata um leão por dia, mas isso não rende like. A gente quer ver sorrisos, bebidas, horizontes, praias e comida - muita comida.
Ter 27 anos não é diferente de ter 17, com uma exceção: a concreta percepção dos seus defeitos. Aos 17 anos eu achava que tinha razão em tudo. Aos 27, eu questiono quanto de razão eu tenho. Sei que sou chata, intensa, dramática e muito grossa se for necessário. E muita gente me detesta por isso. Fodam-se elas.
Aos 17, eu questionava minhas qualidades e não sabia aceitar um elogio. Eu me achava o cu do mundo, com hemorroida ainda por cima. Aos 27, tenho plena noção que eu sequer sou a célula da veia do cu do mundo. Não sou nada, posso errar que Zeus não vai tirar o mundo de Apolo e botar nos meus ombros. Foda-se o Apolo.
Não gente, 21, 25, 27 anos: é tudo a mesma merda. Não são esses textos genéricos que vão refletir esse vazio etário, mas a forma como recorrentemente eles pipocam na nossa mente e martelam as mesmas coisas.
Você não está gorda. Se estiver e quiser, emagreça. Se não quiser, fique gorda e tudo bem. As coisas não mudaram tanto assim, a gente é que mudou. Agora, aos 25 ou 27, não tem graça ver o nosso ídolo morrer cedo desgraçado da cabeça por causa das drogas.
É idiota e previsível o que eu vou falar, mas basicamente é isso: ninguém se importa muito com a sua idade. Só você. No máximo sua mãe/pai, porque martelaram na cabeça deles que você é adulto e eles estão ficando velhos. Outro segredo óbvio: todo o mundo está ficando velho. Isso ai, diariamente.
Pare de se cobrar. Pare de se ofender. Pare de se importar. Mas não muito. Tem coisa que exige cobrança mesmo. Tem coisa que, de fato, ofende. É preciso se importar, mas talvez não com tudo ou não nessa intensidade.
Foda-se. Paz.
Cá estou, fazendo um texto sobre a vida aos 27. Por vida, leia-se a minha vida. Não tenho o perfil biográfico para destrinchar as vivências alheias, portanto a régua aqui é empírica.
Nesses textos de blogs e sites famosos, a galera acha que aos 27 todo mundo já saiu da casa dos pais, está na labuta para comprar o imóvel próprio, rachando com amigos, morando com o parzinho. BAH! Resposta errada.
Eu divido o quarto com a minha irmã caçula, cuja probabilidade de sair de casa para o próprio apartamento é bem maior que a minha. Há 26 anos eu durmo em uma beliche (1 foi de berço, que logo eu dividi com a minha irmã do meio).
Há 27 anos eu divido o banheiro com mais cinco pessoas. Eu não rapo a panela sem perguntar se todo mundo já jantou. Não fiz intercâmbio, nunca tirei férias, minha experiência internacional se resume à Bolívia por cerca de uma hora. Não, esses textos de blogs e sites famosos não estão falando a minha língua.
Aos 27 anos eu estou formada na faculdade, com curso livre em cinema, na lona para aprender outros idiomas. Isso ai, outros. O inglês tinha que vir de fábrica e sempre fui baixa renda. Logo, não fiz curso e tudo o que eu sei foi na base autodidata.
Nessa idade, que as pessoas costumam reclamar que não tem o corpo de 10 anos antes, eu tenho a sorte de ainda usar boa parte das roupas que eram minhas aos 17. Camisas, vestidos, algumas calças. Meu rosto mudou, mas não a ponto de falarem que tenho 30. Obrigada mãe natureza e genética.
Fico olhando as redes sociais e todos os amigos parecem felizes. Nem sempre é verdade, cada um mata um leão por dia, mas isso não rende like. A gente quer ver sorrisos, bebidas, horizontes, praias e comida - muita comida.
Ter 27 anos não é diferente de ter 17, com uma exceção: a concreta percepção dos seus defeitos. Aos 17 anos eu achava que tinha razão em tudo. Aos 27, eu questiono quanto de razão eu tenho. Sei que sou chata, intensa, dramática e muito grossa se for necessário. E muita gente me detesta por isso. Fodam-se elas.
Aos 17, eu questionava minhas qualidades e não sabia aceitar um elogio. Eu me achava o cu do mundo, com hemorroida ainda por cima. Aos 27, tenho plena noção que eu sequer sou a célula da veia do cu do mundo. Não sou nada, posso errar que Zeus não vai tirar o mundo de Apolo e botar nos meus ombros. Foda-se o Apolo.
Não gente, 21, 25, 27 anos: é tudo a mesma merda. Não são esses textos genéricos que vão refletir esse vazio etário, mas a forma como recorrentemente eles pipocam na nossa mente e martelam as mesmas coisas.
Você não está gorda. Se estiver e quiser, emagreça. Se não quiser, fique gorda e tudo bem. As coisas não mudaram tanto assim, a gente é que mudou. Agora, aos 25 ou 27, não tem graça ver o nosso ídolo morrer cedo desgraçado da cabeça por causa das drogas.
É idiota e previsível o que eu vou falar, mas basicamente é isso: ninguém se importa muito com a sua idade. Só você. No máximo sua mãe/pai, porque martelaram na cabeça deles que você é adulto e eles estão ficando velhos. Outro segredo óbvio: todo o mundo está ficando velho. Isso ai, diariamente.
Pare de se cobrar. Pare de se ofender. Pare de se importar. Mas não muito. Tem coisa que exige cobrança mesmo. Tem coisa que, de fato, ofende. É preciso se importar, mas talvez não com tudo ou não nessa intensidade.
Foda-se. Paz.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Crise Pré-27 à lá Escroto Gomes
Daqui uma semana completo minha vigésima sétima volta em torno do sol. E vamos a mais uma Crise Pré-Aniversário.
No ano passado, as definições de crise foram atualizadas. Literalmente, conforme sugere a Crise Pré-26. Em 2015, ainda estamos trabalhando esses conceitos. Velando as falecidas retóricas desovadas neste saite, é nítida a transformação da Elsa como indivíduo. Entrei estudante recém-formada no ensino médio e cá estou, oito anos depois, como jornalista. Não que o fato de ser formada em jornalismo valha muita coisa (nada, para ser mais precisa).
Há algumas semanas venho pensando no que escrever nesse texto já tão tradicional, algo genuíno que tenha me atormentado mais no último mês que durante todo o ano. Infrutiferamente, devo ressaltar. Não existe nada, absolutamente nada me atormentando agora que já não o estivesse antes. Aliás, essa metragem de tempo, no final das contas, é uma tremenda idiotice porque o tempo corre igual seja seu aniversário ou não, esteja você com 9 ou 90 anos. Um dia ainda tem 24 horas, uma hora ainda tem 60 minutos e um minuto ainda tem 60 segundos. O tempo é o mesmo, o que muda é você, para melhor ou para pior.
Sem sombras de dúvidas, a Elsa aos quase 27 é bem melhor que a Elsa aos 17. Mais gorda também, mas isso não vem ao caso. Nessa quase uma década desde a graduação no Ensino Médio, a paciência - essa sadomasoquista com um gato de nove caldas numa mão e o cilício na outra - veio me testando, me batendo e me ensinando. Muitas coisas me tiravam do sério antes e hoje eu apenas respiro fundo e conto até 10.
Não me considero calma, mas tenho tentado ser porque a frase de Dona Abadia nunca se fez tão clara: ficar brava só te dá dois trabalhos - o de perder a calma e o de recuperá-la. Ponto para Dona Abadia. Sim, ainda tem muita coisa besta que me tira dos prumos por assim dizer, mas tenho tentado racionalizar a raiva ao invés de soltá-la da coleira. Pode soar como cinismo, porém é mais uma vantagem que um defeito. Eu saúdo os cínicos de pé, porque para ser cínico precisa de um auto-controle exorbitante.
Quanto à profissão, não tenho duas coisas: MTB e vergonha na cara. O primeiro se deve ao fato de eu não ter ido tirá-lo e o segundo ao fato do primeiro existir. Pensei até em colocar isso na lista de resoluções antes do aniversário, mas foda-se. Quando eu for, eu vou.
Percebi também que preciso constantemente estudar. Esse foi o primeiro ano da minha vida sem nenhum tipo de vínculo educacional desde a pré-escola. Mesmo quando eu tranquei a faculdade por um ano e meio, fazia aulas de francês. Quando terminei a faculdade, lá estava eu estudando Cine/TV. Nem bem tinha terminado o curso, viajei três estados em um dia para prestar mestrado. E olha, que falta faz ter um caderno e uma lição para fazer (e algo que justifique minha obsessão por canetas).
Apesar de tudo isso, eu não me sinto em crise, muito menos por conta da idade. Se a Elsa de 7 anos pensava que aos quase 27 já estaria morando sozinha, dirigindo, hoje tenho noção de que muito disso não depende só do querer, mas de dinheiro, oportunidade e um bocado de coragem e cara de pau.
Hoje, tão próxima a dobrar o Cabo da Boa Esperança e tornar-me uma balzaquiana, caguei para a data de nascimento. Tem gente mais nova que eu ganhando mais dinheiro? Tem. Tem gente mais velha que eu sem emprego? Tem. Houve um boom de casamentos e gravidez nos últimos dois anos? Houve. Tem um bocado de amigo trocando de área e/ou viajando o mundo de mochila nas costas? Tem. Eu vou ficar me comparando com cada um deles? Não.
Aperta o seu que eu acendo o meu. Cada um com suas drogas. Cada um com suas dores. Cada um, cada um. Foda-se. Paz.
No ano passado, as definições de crise foram atualizadas. Literalmente, conforme sugere a Crise Pré-26. Em 2015, ainda estamos trabalhando esses conceitos. Velando as falecidas retóricas desovadas neste saite, é nítida a transformação da Elsa como indivíduo. Entrei estudante recém-formada no ensino médio e cá estou, oito anos depois, como jornalista. Não que o fato de ser formada em jornalismo valha muita coisa (nada, para ser mais precisa).
Há algumas semanas venho pensando no que escrever nesse texto já tão tradicional, algo genuíno que tenha me atormentado mais no último mês que durante todo o ano. Infrutiferamente, devo ressaltar. Não existe nada, absolutamente nada me atormentando agora que já não o estivesse antes. Aliás, essa metragem de tempo, no final das contas, é uma tremenda idiotice porque o tempo corre igual seja seu aniversário ou não, esteja você com 9 ou 90 anos. Um dia ainda tem 24 horas, uma hora ainda tem 60 minutos e um minuto ainda tem 60 segundos. O tempo é o mesmo, o que muda é você, para melhor ou para pior.
Sem sombras de dúvidas, a Elsa aos quase 27 é bem melhor que a Elsa aos 17. Mais gorda também, mas isso não vem ao caso. Nessa quase uma década desde a graduação no Ensino Médio, a paciência - essa sadomasoquista com um gato de nove caldas numa mão e o cilício na outra - veio me testando, me batendo e me ensinando. Muitas coisas me tiravam do sério antes e hoje eu apenas respiro fundo e conto até 10.
Não me considero calma, mas tenho tentado ser porque a frase de Dona Abadia nunca se fez tão clara: ficar brava só te dá dois trabalhos - o de perder a calma e o de recuperá-la. Ponto para Dona Abadia. Sim, ainda tem muita coisa besta que me tira dos prumos por assim dizer, mas tenho tentado racionalizar a raiva ao invés de soltá-la da coleira. Pode soar como cinismo, porém é mais uma vantagem que um defeito. Eu saúdo os cínicos de pé, porque para ser cínico precisa de um auto-controle exorbitante.
Quanto à profissão, não tenho duas coisas: MTB e vergonha na cara. O primeiro se deve ao fato de eu não ter ido tirá-lo e o segundo ao fato do primeiro existir. Pensei até em colocar isso na lista de resoluções antes do aniversário, mas foda-se. Quando eu for, eu vou.
Percebi também que preciso constantemente estudar. Esse foi o primeiro ano da minha vida sem nenhum tipo de vínculo educacional desde a pré-escola. Mesmo quando eu tranquei a faculdade por um ano e meio, fazia aulas de francês. Quando terminei a faculdade, lá estava eu estudando Cine/TV. Nem bem tinha terminado o curso, viajei três estados em um dia para prestar mestrado. E olha, que falta faz ter um caderno e uma lição para fazer (e algo que justifique minha obsessão por canetas).
Apesar de tudo isso, eu não me sinto em crise, muito menos por conta da idade. Se a Elsa de 7 anos pensava que aos quase 27 já estaria morando sozinha, dirigindo, hoje tenho noção de que muito disso não depende só do querer, mas de dinheiro, oportunidade e um bocado de coragem e cara de pau.
Hoje, tão próxima a dobrar o Cabo da Boa Esperança e tornar-me uma balzaquiana, caguei para a data de nascimento. Tem gente mais nova que eu ganhando mais dinheiro? Tem. Tem gente mais velha que eu sem emprego? Tem. Houve um boom de casamentos e gravidez nos últimos dois anos? Houve. Tem um bocado de amigo trocando de área e/ou viajando o mundo de mochila nas costas? Tem. Eu vou ficar me comparando com cada um deles? Não.
Aperta o seu que eu acendo o meu. Cada um com suas drogas. Cada um com suas dores. Cada um, cada um. Foda-se. Paz.
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