terça-feira, 30 de outubro de 2012

A expectativa é uma infecção

Nesses meses que sucederam O amor é outra coisa, estive refletindo sobre as expectativas e todas as dores e doenças que ela acarreta. Hoje, posso afirmar - ainda que muitos refutem - a expectativa é uma infecção. E tal como qualquer outra, surge de maneira singela e ínfima, utilizando-se dos recursos do hospedeiro para multiplicar-se.

Silenciosa, vai aos poucos crescendo até atingir os órgãos depois de espalhar-se pela corrente sanguínea, até chegar ao coração. Antes disso, afeta o sistema nervoso e o cérebro, fazendo com que o infectado perca seu raciocínio lógico e por muitas vezes, a razão.

Começa como um incômodo pequeno, tal como uma pequena reação alérgica, até tornar-se preocupante. Sem manchas ou pústulas, é uma ojeriza do âmago e atinge, atingiu ou atingirá ao menos 99,9% da população mundial.

Consome lentamente, tomando conta de cada pedaço dos seres sem que esses notem sua severidade e a maneira como altera todo o modus operandi pré-estabelecido por rotinas, pessoas, conceitos e sensações que permeiam a existência humana.

Ainda não há antibiótico tão forte que resolva, nem medicação que alivie a dor da expectativa. E quando é finalizada, já deixou sequelas e às vezes, outras inflamações menores que desencadeiam os mesmos sintomas em um futuro não tão distante.

Mas acredito que tal como qualquer outra moléstia, o corpo vai se habituando a tais infecções e buscando aumentar a resistência. Fatores como a idade também influenciam no processo de "calosidade" e minimizam o surgimento das expectativas, que agora reconhece o perigo oculto ao não tratar uma expectativa logo no início.

Alguns tornam-se céticos, outros desesperançosos, mas ninguém nunca morreu por conta de uma infecção generalizada provocada por uma frustração, fase terminal da expectativa. A grande sacada é a auto-imunização sem que haja um quadro de desânimo crônico. Não há prevenção, tal como qualquer outra infecção, que chegam em situações oportunas ao surgimento. Com permissão de Drauzio Varella, iniciar o tratamento o quanto antes é a melhor forma de combater o processo inflamatório (e inflamado, por que não?) sem maiores riscos à saúde (mental).