sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz fiapo de manga

"O que o ano novo trará? 365 oportunidades." E não trouxe 2012 ao menos 366 delas? E por quantas vezes as deixamos de lado... A concessão bissexta agraciou nossas expectativas com 24 horas a mais de prazo, mas por que não as agarramos? Porque, penso eu, na ânsia de ir para frente, estamos atados ao que está atrás (sem dualismos).

Parafraseando Gessinger e Lindecker com suas "Pouca Vogal":

[...] Num piscar de olhos
Tudo se transforma
Tá vendo? Já passou
Mas ao mesmo tempo
Fica o sentimento
De um mundo sempre igual
É igual ao que já era
De onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem [...]

O fim do ano torna as pessoas nostálgicas, movidas por uma comoção coletiva, uma espécia de transe. A publicidade do banco cuja cor laranja predomina sua identidade visual faz questão de frisar enfadonha sensação. E o público compra tal discurso como se fosse novidade. Soa como um mais do mesmo e, no geral, a repetição me entedia. Todavia, de fato aprecio as perspectivas que emergem no âmago coletivo, tal como a acne no ápice da puberdade. É repulsivo, porém genuíno.

Essa euforia e até expectativa, por assim dizer, são como fiapos de manga. No momento de deleite, quando o fruto adoça a boca e o aroma atinge as narinas, pouco importam os fiapos. Mas já passado o sabor e desbunde, lá estão, atrelados a nós de maneira tão incômoda e inoportuna que não nos permitem pensar em outra coisa.

Que em 2013, mais do que nunca, possamos todos nós sairmos do tal transe. E quem sabe, utilizemos mais fio dental.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Coisas que já aprendi aos 24 anos

E tal como as crises pré-aniversário já citadas, eis que nesses quase seis anos, surgiram também as coisas que eu já aprendi nos dias que sucederam o dito acréscimo anual natal.

Em poucas semanas é possível enxergar muitas coisas que até então, nos eram insolúveis e indistinguíveis. E que do nada, se tornam claras e nítidas.

O que já aprendi com 24? Aprendi a aceitar críticas, porque eu falho muito e constantemente, e que se alguém tem o cuidado e zelo em me dizer no que posso melhorar, essa pessoa de fato se preocupa comigo.

Aprendi que quem muito adula, ou quer algo em troca, ou então está preparando o bote. Amaciando a carne para depois devorá-la. Sorrisos e abraços podem ser mais perigosos que discussões e silêncios.

Aprendi que é preciso muito tempo para criar relações estáveis e saudáveis, sejam de amor, sejam de amizade. Que os confetes e borboletas no estômago que tanto eclodem nos momentos em que surgem tais laços, passam. E que é quando o kissuco ferve, quando o caldo entorna, quando a cana desce - é ai que tudo isso é posto na linha de fogo.

Muita gente perde totalmente as referências quando isso ocorre. Aquelas pessoas que pareciam nunca sair da sua vida, saem. Ou pior, permanecem, mas com visões inversamente intensas às iniciais. Como lidar? Isso eu ainda não aprendi, mas quem sabe no próximo ano...

Aprendi que amar é um elo entre o azul e o amarelo, bem frisou Leminski. E que meu amor está verde e precisa amadurecer. Mas ele está aqui - ainda intenso, ainda firme, tal como Florentino Ariza esperando sua Firmina Daza.

O amor não pode ser transferido e nem medido, não dá para obrigar alguém a gostar de nós e tão pouco, proibir-nos de gostar de alguém. Nessas horas, é preciso ter culhões e parafrasear Jânio: "Fi-lo porque qui-lo". Sem esperar nada em troca e sem alimentar as diabas das expectativas.

Aprendi muito sobre edição de vídeo (agradeço a Marcio Yonamine por isso) e foto (agradeço a Sossô Parma), sobre políticas públicas em relação a cultura (obrigada Marcia Dutra) e que em  mar que tem tubarão tem cheiro de melancia (Juli Codognotto - obrigada por isso e todo o restante). E aprendi que você pode dizer as coisas mais duras do mundo de um jeito doce (Vinícius Máximo, é o mestre nisso).

Aprendi que Virado à Paulista depois das 22 horas pode causar problemas estomacais sérios (mesmo sendo o do Limoeiro).

Aprendi que o lado esquerdo do meu corpo é maior em relação ao direito, e por isso, mais fotogênico. Aprendi que o sentimento mais dolorido do mundo é a indiferença.

Das coisas aprendidas até agora, a maior é que quando um não quer, dois não fazem. E como diz Lady Jane: às vezes nem com os dois querendo. Dizem que o tempo cura tudo. Pois que passe e cure.
Saravá.



sábado, 24 de novembro de 2012

Crise Pré-24

Embora muito tenha se passado entre 2007 e 2012, eis o que permeiam: as crises pré-aniversário. E novamente, cá estou para descrever as auguras e dissabores que só a próxima casa decimal natal pode proporcionar, tal como tenho feito esses anos todos.

Tem gente que acha que é só uma veia dramática latente promovida pela minha hiperbólica sensibilidade. E talvez seja mesmo, afinal, as pessoas muitas vezes enxergam melhor as outras do que a si mesmas. E eu não sou exceção - e nem gostaria de sê-lo.

Já é natural eu discorrer com a retórica familiar aos poucos, mas fieis leitores desse blog sobre as latentes privações e sofrimentos que afligem minh'alma nos momentos que antecipam o assim chamado pelos astrólogos ano astral. Dizem que as coisas surgem com toda a sua temperança afim de encerrarem ciclos e fazer aquela famosa faxina para a fase que o sucederá.

Tal como proferiu Gugu, a.k.a Augusto Liberato (irmão de astróloga e apresentador da programas dominicais reconhecido principalmente pelo Domingo Legal durante anos no SBT) sobre a mancha da santa na janela da casa de algum devoto de Nossa Senhora Aparecida: eu não acredito, nem desacredito. Na ocasião em si, fieis católicos de diversas regiões contemplavam uma reação química na janela de uma casa sabe-se lá deuses em que cidade cujo formato assemelhava-se a Padroeira do Brasil. Eis minha metáfora em relação ao ciclos e astrólogos ou crendices sobre anos astrais.

O que afirmo é que 2012 foi um ano arrastado e pesado no geral. Começou com o desemprego, passou por um furto, uma perda lastimável, um término de namoro e tantas outras coisas que acabei esgotada. 2012 também foi o ano em que o último açoite do chicote do jornalismo acertou-me o couro das costas. E não tinha tom de cinza que me fizesse achar prazer naquilo.

A Crise Pré-24 se instaurou bem mais precocemente que as demais, não pelo acréscimo anual em si, mas pela sede de respostas para minha serventia nesse grande planeta recoberto de água. Dizem que todos viemos com algum propósito e já desesperançosa quanto ao jornalismo, vaguei perdida procurando o meu. E continuo à procura. Pode ser que seja dentro disso mesmo, mas essa cagueira leitosa não me permita enxergar isso agora.

Os erros - aqueles que muitos consideram banais - assombraram-me entre sonhos e vida, tarefas e demandas. Entretanto, nem sempre eu tive o vigor de antes para superá-los e quando o fracasso parecia iminente, eu sucumbi. Isso me envelheceu uns 3 anos em alguns meses e pude sentir isso - mental e fisicamente.

Muito do que eu admirava e acreditava nas pessoas dissolveu-se tal como o orvalho ao calor de verão. Muito do que as pessoas admiravam e acreditavam em mim idem. As paixões que sempre me moveram, dessa vez, me paralisaram.

O coração partido que por diversas vezes tirei de letra (e até fiz letras com as lamúrias), converteram-se em desânimo e a sensação de que já não mais eu era digna de coisas boas ou belas. O ego - ferido e inflado - me cegou por tantas vezes e por tanto tempo, que não sei ao certo o tempo necessário para o reparo.

E quanto me perguntavam: "O que te faz feliz?" e eu demorava para responder, isso quando o fazia, percebi que algo estava errado. Percebi que existem sim aqueles vampiros chineses tal como dita a mitologia: não levam o sangue, mas nossa energia, principalmente quando deixamos que o façam (e eu deixei).

Adoeci por tantos dias, semanas, meses e achava que a dor iria permear. Só que não permeou, tanto que cá estou, discorrendo sem pudores minhas lastimáveis fraquezas e desonras que muito provavelmente se perderão assim que terminado o texto.

Mais difícil do que falar sobre o que sentimos, é falar sobre o que não sentimos. Ou ainda, não falar sobre o que sentimos. Comigo sempre foi assim. Ainda que eu perca as coisas que mais prezo, as pessoas que mais amo e os ideais que mais acredito, falar sobre o que sinto sempre será necessário.

Nessa Crise Pré-24, eu espero sinceramente que os maias estejam corretos e que o mundo acabe. Não da forma trágica pregada, mas sim da forma como esteve estabelecido. Que se 2013 de fato chegar, todas essas coisas ruins que já não servem, tenham ido embora. Não só para mim, mas a todos.

E que no final dele, eu possa escrever sobre a fatídica Crise Pré-25 com um terço das mágoas de hoje e o dobro da esperança no futuro.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A expectativa é uma infecção

Nesses meses que sucederam O amor é outra coisa, estive refletindo sobre as expectativas e todas as dores e doenças que ela acarreta. Hoje, posso afirmar - ainda que muitos refutem - a expectativa é uma infecção. E tal como qualquer outra, surge de maneira singela e ínfima, utilizando-se dos recursos do hospedeiro para multiplicar-se.

Silenciosa, vai aos poucos crescendo até atingir os órgãos depois de espalhar-se pela corrente sanguínea, até chegar ao coração. Antes disso, afeta o sistema nervoso e o cérebro, fazendo com que o infectado perca seu raciocínio lógico e por muitas vezes, a razão.

Começa como um incômodo pequeno, tal como uma pequena reação alérgica, até tornar-se preocupante. Sem manchas ou pústulas, é uma ojeriza do âmago e atinge, atingiu ou atingirá ao menos 99,9% da população mundial.

Consome lentamente, tomando conta de cada pedaço dos seres sem que esses notem sua severidade e a maneira como altera todo o modus operandi pré-estabelecido por rotinas, pessoas, conceitos e sensações que permeiam a existência humana.

Ainda não há antibiótico tão forte que resolva, nem medicação que alivie a dor da expectativa. E quando é finalizada, já deixou sequelas e às vezes, outras inflamações menores que desencadeiam os mesmos sintomas em um futuro não tão distante.

Mas acredito que tal como qualquer outra moléstia, o corpo vai se habituando a tais infecções e buscando aumentar a resistência. Fatores como a idade também influenciam no processo de "calosidade" e minimizam o surgimento das expectativas, que agora reconhece o perigo oculto ao não tratar uma expectativa logo no início.

Alguns tornam-se céticos, outros desesperançosos, mas ninguém nunca morreu por conta de uma infecção generalizada provocada por uma frustração, fase terminal da expectativa. A grande sacada é a auto-imunização sem que haja um quadro de desânimo crônico. Não há prevenção, tal como qualquer outra infecção, que chegam em situações oportunas ao surgimento. Com permissão de Drauzio Varella, iniciar o tratamento o quanto antes é a melhor forma de combater o processo inflamatório (e inflamado, por que não?) sem maiores riscos à saúde (mental).

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sandman traficante

"Eu sonhei novamente contigo. Que te procurava entre um prédio de apartamentos antigos que nunca vi. Janelas com persianas quebradas que só revelavam metade do que se passava naquela sala iluminada por lâmpadas incandescentes.

Sonhei que você parecia confortável e feliz, acolhido e sossegado como nunca pareceu ao meu lado. E que seu pai, vendo a minha melancolia, me oferecia uma carona e sorria de maneira que me animasse. E eu sabia que era sincero. No final te encontrava, com os pés e braços rabiscados, cheios de sorrisos desenhados com canetas hidrográficas por meninas que viram suas qualidades e se apaixonaram, assim como eu."

Acordei e percebi que era só mais um sonho, daqueles que você costuma invadir sem pedir licença do seu jeito meio malandro, meio mané. E quando percebo o que faz, me desfaço, em palavras ou lágrimas, em cima daquele caderno preto que marca todos que me marcaram. E que passaram.

Acho que o homem da areia do sono andou batizando-a com outro pó.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pra falar difícil

Adoro e detesto essas vicissitudes e idiossincrasias que eclodem em sua personalidade. Sua falta de estabilidade me revolta, mas seus vícios me viciam.

Há tempos a lucidez deixou-me e lá estava eu, dando vasão a sentimentos soterrados pela lógica. Que estavam enterrados no meu âmago, esquecidos e inertes.

Me permito esse tipo de gincana emocional e mental contigo - e tão somente contigo - porque da mesma maneira que me desnorteia, me traz uma vivacidade que só a ferocidade genuína do inédito provocam.

Cada conversa contigo é um mais do mesmo inédito, um ciclo vicioso e viciante. Me faz mal, mas eu não consigo deixar de querer.

É um convívio diário à distância, inconstante. Uma mente que eu nunca sei quando mente. Uma razão tão desprovida de coração e tão fria que dói. E uma dor tão desconcertante que me impede de prosseguir.

Mas ainda me desvencilho disso. Ainda deixarei essas possessões de lado. Esse medo de perder o que nunca tive vai passar.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Efeitos colaterais do coentro


Após a ingestão concentrada de coentro durante duas semanas, estudantes que integravam um projeto pela Universidade Metodista de São Paulo e Faculdade de Medicina do ABC apresentaram um quadro crônico de nostalgia.

Ainda não foi feito um estudo ou exames aprofundados, mas dentre os sintomas, destacam-se: crises noturnas de choro, saudade e a vontade de rever e reviver todas as ações realizadas no distrito de Canudos Velho, no sertão da Bahia.

Dizem ainda que as propriedades da folha tiveram efeito afrodisíaco e que um casal foi formado durante a expedição. Segundo entrevistas, os sintomas foram agravados após a festa do padroeiro da cidade, São Pedro. Os níveis de endorfina também apresentaram alterações e há quem afirme que seja por conta do tempero.

A ciência não contesta, mas também não afirma se a real motivação dos fatos é a ingestão constante de Coriandrum sativum, nome científico da planta. Também conhecido como coriandro, é altamente usado na gastronomia para auxiliar na digestão de comidas pesadas.

Após o surto, estima-se que seja realizados testes que apontem alterações no diencéfalo e hipotálamo dos participantes, agora sem a ingestão de coentro para averiguar se o comportamento se deve ao cardápio baiano.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Teia

Acabei de voltar de um bar com duas das minhas melhores amigas da vida inteira. Elas se juntaram em um complô etílico para afirmar que eu tenho a capacidade de fazer os caras gostarem de mim sem fazer esforço, mas que inevitavelmente, acabo gostando justamente de outro, ao inverso daqueles que eu supostamente atraio.

Discordo totalmente. E quando digo isso, digo porque todos os caras que fiquei e namorei é que vieram atrás de mim. Uns mais insistentes, outros menos, mas enfim, o interesse sempre partiu deles. E eu correspondia ou não.

Justamente por essa razão, eu simplesmente acho que o problema sou eu por estar sozinha. Talvez seja exigente demais, ou complacente de menos, não sei. O que sei é que estou sozinha e às vezes, por mais que bata uma carência, estou bem com isso.

A meta do momento é não me envolver intensamente com ninguém. E como não sou capaz de me envolver sem ser intensamente, a meta é mais objetiva ainda: não me envolver com ninguém.

Viajo para Canudos daqui uma semana, tenho uma porção de pendências profissionais para resolver e viver amargurada por conta de um coração partido não está entre as resoluções de 2012.

E ele já foi partido esse ano. Duas vezes. A primeira por alguém que me pediu em casamento em uma estação de metrô, depois de ser roubado junto comigo. Eu estava brava e desesperada, e ele, com seu otimismo de sempre, olhou nos meus olhos e disse: "Se ficarmos juntos durante um ano, você casa comigo?". E eu, essa alma libertária que tem pânico da palavra casamento, disse sim.

Dois meses depois ele me deixou, justificando-se com a falta de tempo e a ambição profissional, que era maior do que o afeto que sentia por mim. E por mais doloroso que tenha sido, eu aceitei e respeitei a escolha dele. Aliás, tenho feito isso há muito tempo e o admiro ainda mais por sua sinceridade.

O segundo apareceu na sequência e parecia estar apaixonado. O problema é que ele não sabe o que quer, mas só o que não quer. E ele simplesmente não quer. Novamente, eu respeito e aceito a decisão dele, porque se tem uma coisa que não podemos mudar na vida das pessoas é o seu querer. Achar que vai fazer alguém se apaixonar, ou ficar ao seu lado é tolice, coisa de cartomante charlatã. Pode ser que dê certo por um tempo, mas depois se esvai.

Então, algumas cervejas depois, cá estou abrindo meu coração para fechá-lo de vez: eu não quero gostar de ninguém por um bom tempo. Porque eu não sei gostar sem querer, querer sem ficar perto e ficar perto sem criar expectativas. Sou dessas, românticas incuráveis, quase uma francesa segundo dizem. Dessas que vivem morrendo e sofrendo por amor - mas de uma maneira bela, contam.

O problema de fato sou eu. Sou desinteressantemente intessante, como um aracnídeo que atrai as pessoas para sua teia sentimental e quando vai desfrutar sua presa, acaba deixando-as irem embora. E isso justifica o fato de eu estar tão magra, comentário quase unânime dos amigos que agora me vêem, abatida.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Razonete

Não sei se deveria escrever algo. Parece precoce, apressado. Mas eu senti, e quando eu sinto, eu escrevo.
Talvez quem deva ler não leia, mas não me importo. Apenas escrevo.

Na verdade eu me importo, porque gosto e o Peninha disse que quando a gente gosta, é claro que a gente cuida. Só não sei cuidar sem machucar. Sou a versão antiga do Merthiolate - arde, mas sara.

Também não sei se deveria cuidar, se deveria arder, se deveria sarar. Talvez você não queira que sare, talvez queira deixar uma cicatriz para lembrar. E no futuro, olhar mostrar aos amigos, orgulhoso.

É difícil entender, é difícil escrever, é difícil sentir. Mas eu tento entender, e escrevo agora porque sinto. Sinto que pode dar tudo errado, mas sinto também que pode dar tudo certo. Sinto que pode ser a coisa certa do jeito errado, ou a coisa errada com a pessoa certa.

E isso não é pouco. Isso é muito para alguém (ou alguéns) já cheios de cicatrizes. Alguéns que são do tempo em que o Merthiolate ardia. Alguéns que tem tanto em comum, mas coisas tão diferentes que às vezes se chocam. Colidem frontalmente e em alta velocidade.

Talvez seja a hora de puxar o freio de mão. Talvez seja a hora de dar um cavalo de pau. Talvez seja a hora de saltar, mesmo em movimento.

O único problema é: o talvez é muito incerto. E poetisas, jornalistas e fotógrafas não gostam de incerteza. Prefiro um verso torto, mas feito. Um lide na ordem errada, uma foto mal-enquadrada a nenhuma. É um risco, mas às vezes, é só no erro que vemos a perspectiva para o acerto.

Fato é: quando um não quer, dois não fazem tempestade em copo d'água, já disse o Jeneci. E o Jeneci sabe o que diz, tal como o Peninha.

Jeneci, Peninha, tantos outros que transformaram o talvez em algo belo e rentável, mostrando que o acerto do erro pode ser rentável. E por isso, eu me rendo.


segunda-feira, 30 de abril de 2012

Interiorana

Tenho pena de você
Que não gosta do ABC
E só sai pela CAPITAL
Pagando caro para respirar mal

Tenho pena de você
Que critica o ABC
Saiba pois que a zona sul
É pertinho, que nem a Cupecê

Tenho pena de você
Que nunca veio para o ABC
Acha que o Frangó tem a melhor coxinha paulista
Mas que não entende que é um lugar elitista

Tenho pena de você
Que nem quer conhecer o ABC
A maior pista de skate da América Latina
A melhor coxinha barata no bar do China

Só lamento por você
Que nada sabe do ABC

quarta-feira, 14 de março de 2012

O amor é outra coisa

"A vida é uma DST." Li essa frase no twitter de uma amiga certo dia, que a viu estampada na camiseta de um conhecido. Achei brilhante, mas infelizmente desconheço o autor. Espero que um dia esse texto chegue as suas mãos para que ele ou ela possa reinvindicar seus devidos direitos autorais sobre a retórica, os quais terei o devido prazer e honra de citar.

Perdida em uma dessas noites de insônia, na ânsia inútil de procurar um pé para entrelaçar os meus enquanto durmo, pensei: "Será também o amor uma DST?". E respondi minha própria dúvida com a confirmação. O amor é sim uma DST. Parto do princípio de que só começamos a amar de verdade uma pessoa a partir do momento que nos relacionamos sexualmente com ela.

O sexo gera o amor, não o contrário, como nos foi afirmado por séculos. Estejam à vontade para discordar e/ ou discorrer sobre, mas mantenho minha linha de raciocínio. O amor aqui tratado é aquele que difere aos laços familiares e de amizade, que fique claro. Amor de mãe, pai, avós, irmãos, tios etc é fundamentado em outros princípios que não competem à atração física mútua. Longe de mim (e bem longe por sinal) provocar polêmica com uma possível legitimação do incesto.

O amor rudimentar, aquele que une semelhantes da mesma espécie (não necessariamente de gêneros diferentes, pois faço questão de legitimar o amor homoafetivo) surge sim do ato da cópula. Embora muitos possam (e vão) argumentar que só se envolveram sexualmente em determinados relacionamentos porque amavam, refuto novamente e reafirmo que só amamos alguém após a troca de fluídos sexuais e ponto. Até lá, só achamos que é amor.

E não é difícil entender porque muitas pessoas pensam o contrário do que acabei de constatar. Além das crenças milenares, as áreas cerebrais e os hormônios que diferem o amor da paixão, fascínio, desejo, são similares. E isso não sou eu que estou afirmando, mas a ciência. Portanto, até que o sexo se consume, o que chamamos de amor é na verdade outra coisa. Afeição, similaridade, compatibilidade - chame do que quiser, menos de amor.

Porque é no sexo que conhecemos ao outro integralmente: o gosto, o cheiro, o tato, o som. Tudo isso completando e contemplando o nosso e o corpo alheio. O que não quer dizer que vamos amar cada um com o qual transamos. Fatores simples e novamente hormonais, curiosidade, vontade e muitas outras coisas vão nos motivar à cópula sem resultar na mística, porém química que é o amor.

Tudo isso é tão justificável que até as estatíscas apontam: por mais afinidade que um casal tenha, casamentos acabam todos os dias porque os tempos de "bom sexo" se foram, e o amor junto com eles. E provam o contrário: amantes que vivem às turras mas se aguentam, pois afirmam que "entre quatro paredes eles se resolvem".

Por todo o citado afirmo que amor, só depois do sexo e que é sim uma DST (para a qual espero que não achem a cura). Sexo sozinho é egoísta, é filho único mimado ou caçula que quer as coisas no seu tempo e do seu jeito. Que só usa, sem querer ou achar que também é usado. Aquele que faz "chantagem pós-coito", almejando dormir de conchinha mesmo em um calor cuiabano. Ou aquele que só deseja que o seu "item sexual" suma o quanto antes, ou se transforme numa pizza.

O amor (legítimo, pós ou até durante o sexo) não exige nada disso. Ele se rende ao prazer do outro corpo como fonte de seu próprio prazer. Sabe o que pode, o que quer e mais ainda: aonde quer. Não exige abraço ou conchinha quando acaba, mas também não repele. Entende quem cala, entende quem fala, entende quem dorme. E sorri exausto, mas feliz e seguro de que esses momentos bons tem uma fonte inesgotável, apesar de tudo que digam.

Tal como o apêndice é um órgão de fácil inflamação e remoção, o sexo (e o amor, por consequência) é o oposto - é um órgão que nos falta e buscamos incessantemente em outros corpos. Alguns transplantes ocorrem bem, outros resultam em rejeição. Mas sempre haverá gente na fila de espera esperando pelo órgão compatível.

terça-feira, 13 de março de 2012

Desabafo

Depois de muito pensar no que escrever para abrir os textos do blog esse ano, me rendi a simplesmente não pensar - só escrever. Porque pensar demais às vezes é agir de menos.

Nesse combate que travo com o jornalismo há cinco anos, já senti muitas coisas, da euforia à frustração, da inveja à indiferença.

Agora, nessa reta (será mesmo uma reta? Parece bem mais uma elipse) final, o TCC está em andamento, mas me sinto estagnada. Física, intelectual e financeiramente.

Pode soar amargo, pode ser que eu vá mudar de ideia antes mesmo de terminar esse texto (me permito essa façanha), mas me sinto muito menos preparada para o mundo lá fora do que me sentia há 5 anos.

Talvez essa a perda da coragem pelas altas doses de realismo (e por que não pessimismo?) que qualquer pessoa enfrenta ao longo da vida. E eu não sou diferente de ninguém nesse aspecto.

Sinto que aos poucos, minha paixão pela escrita entrou num manual e se adaptou à pirâmide invertida. E que vou ter que batalhar muito se um dia a quiser de volta.

Fui desaprendendo como escrever o que sentia, para descrever o que via. Afinal, é isso que o jornalista faz: descreve os fatos. Isento de opinião (será?), de emoção, de comoção.

Sou mais uma dessas jovens que esfriou o coração e esquentou a cabeça para querer ser jornalista. E agora tão perto daquele retângulo de celulose que vai levar meu nome e minha graduação, às vezes temo, às vezes tenho raiva. E às vezes choro.

Uma sábia amiga e colega de profissão (sim, é você Natália Alves), desabafou outro dia: "Passei quatro anos na faculdade para descobrir que eu gosto é de escrever".

E eu gosto, mas já não sei se tenho o que é necessário. Nem tanto a técnica, mas aquela coisa que meu caro professor Paulo Ramos não soube nomear. Um (coloque aqui a onomatopeia que melhor lhe convir) para a coisa.

Acho que perdi, acho que reprimi, acho que ficou lá em 2007.