quarta-feira, 14 de março de 2012

O amor é outra coisa

"A vida é uma DST." Li essa frase no twitter de uma amiga certo dia, que a viu estampada na camiseta de um conhecido. Achei brilhante, mas infelizmente desconheço o autor. Espero que um dia esse texto chegue as suas mãos para que ele ou ela possa reinvindicar seus devidos direitos autorais sobre a retórica, os quais terei o devido prazer e honra de citar.

Perdida em uma dessas noites de insônia, na ânsia inútil de procurar um pé para entrelaçar os meus enquanto durmo, pensei: "Será também o amor uma DST?". E respondi minha própria dúvida com a confirmação. O amor é sim uma DST. Parto do princípio de que só começamos a amar de verdade uma pessoa a partir do momento que nos relacionamos sexualmente com ela.

O sexo gera o amor, não o contrário, como nos foi afirmado por séculos. Estejam à vontade para discordar e/ ou discorrer sobre, mas mantenho minha linha de raciocínio. O amor aqui tratado é aquele que difere aos laços familiares e de amizade, que fique claro. Amor de mãe, pai, avós, irmãos, tios etc é fundamentado em outros princípios que não competem à atração física mútua. Longe de mim (e bem longe por sinal) provocar polêmica com uma possível legitimação do incesto.

O amor rudimentar, aquele que une semelhantes da mesma espécie (não necessariamente de gêneros diferentes, pois faço questão de legitimar o amor homoafetivo) surge sim do ato da cópula. Embora muitos possam (e vão) argumentar que só se envolveram sexualmente em determinados relacionamentos porque amavam, refuto novamente e reafirmo que só amamos alguém após a troca de fluídos sexuais e ponto. Até lá, só achamos que é amor.

E não é difícil entender porque muitas pessoas pensam o contrário do que acabei de constatar. Além das crenças milenares, as áreas cerebrais e os hormônios que diferem o amor da paixão, fascínio, desejo, são similares. E isso não sou eu que estou afirmando, mas a ciência. Portanto, até que o sexo se consume, o que chamamos de amor é na verdade outra coisa. Afeição, similaridade, compatibilidade - chame do que quiser, menos de amor.

Porque é no sexo que conhecemos ao outro integralmente: o gosto, o cheiro, o tato, o som. Tudo isso completando e contemplando o nosso e o corpo alheio. O que não quer dizer que vamos amar cada um com o qual transamos. Fatores simples e novamente hormonais, curiosidade, vontade e muitas outras coisas vão nos motivar à cópula sem resultar na mística, porém química que é o amor.

Tudo isso é tão justificável que até as estatíscas apontam: por mais afinidade que um casal tenha, casamentos acabam todos os dias porque os tempos de "bom sexo" se foram, e o amor junto com eles. E provam o contrário: amantes que vivem às turras mas se aguentam, pois afirmam que "entre quatro paredes eles se resolvem".

Por todo o citado afirmo que amor, só depois do sexo e que é sim uma DST (para a qual espero que não achem a cura). Sexo sozinho é egoísta, é filho único mimado ou caçula que quer as coisas no seu tempo e do seu jeito. Que só usa, sem querer ou achar que também é usado. Aquele que faz "chantagem pós-coito", almejando dormir de conchinha mesmo em um calor cuiabano. Ou aquele que só deseja que o seu "item sexual" suma o quanto antes, ou se transforme numa pizza.

O amor (legítimo, pós ou até durante o sexo) não exige nada disso. Ele se rende ao prazer do outro corpo como fonte de seu próprio prazer. Sabe o que pode, o que quer e mais ainda: aonde quer. Não exige abraço ou conchinha quando acaba, mas também não repele. Entende quem cala, entende quem fala, entende quem dorme. E sorri exausto, mas feliz e seguro de que esses momentos bons tem uma fonte inesgotável, apesar de tudo que digam.

Tal como o apêndice é um órgão de fácil inflamação e remoção, o sexo (e o amor, por consequência) é o oposto - é um órgão que nos falta e buscamos incessantemente em outros corpos. Alguns transplantes ocorrem bem, outros resultam em rejeição. Mas sempre haverá gente na fila de espera esperando pelo órgão compatível.

terça-feira, 13 de março de 2012

Desabafo

Depois de muito pensar no que escrever para abrir os textos do blog esse ano, me rendi a simplesmente não pensar - só escrever. Porque pensar demais às vezes é agir de menos.

Nesse combate que travo com o jornalismo há cinco anos, já senti muitas coisas, da euforia à frustração, da inveja à indiferença.

Agora, nessa reta (será mesmo uma reta? Parece bem mais uma elipse) final, o TCC está em andamento, mas me sinto estagnada. Física, intelectual e financeiramente.

Pode soar amargo, pode ser que eu vá mudar de ideia antes mesmo de terminar esse texto (me permito essa façanha), mas me sinto muito menos preparada para o mundo lá fora do que me sentia há 5 anos.

Talvez essa a perda da coragem pelas altas doses de realismo (e por que não pessimismo?) que qualquer pessoa enfrenta ao longo da vida. E eu não sou diferente de ninguém nesse aspecto.

Sinto que aos poucos, minha paixão pela escrita entrou num manual e se adaptou à pirâmide invertida. E que vou ter que batalhar muito se um dia a quiser de volta.

Fui desaprendendo como escrever o que sentia, para descrever o que via. Afinal, é isso que o jornalista faz: descreve os fatos. Isento de opinião (será?), de emoção, de comoção.

Sou mais uma dessas jovens que esfriou o coração e esquentou a cabeça para querer ser jornalista. E agora tão perto daquele retângulo de celulose que vai levar meu nome e minha graduação, às vezes temo, às vezes tenho raiva. E às vezes choro.

Uma sábia amiga e colega de profissão (sim, é você Natália Alves), desabafou outro dia: "Passei quatro anos na faculdade para descobrir que eu gosto é de escrever".

E eu gosto, mas já não sei se tenho o que é necessário. Nem tanto a técnica, mas aquela coisa que meu caro professor Paulo Ramos não soube nomear. Um (coloque aqui a onomatopeia que melhor lhe convir) para a coisa.

Acho que perdi, acho que reprimi, acho que ficou lá em 2007.