segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Cabra marcado para documentar

O domingo foi ensolarado e um dos mais quentes, mas depois da notícia do suposto assassinato de Eduardo Coutinho, o humor já não era o mesmo. Segundo os tabloides, o cineasta estava em seu apartamento no Rio de Janeiro quando foi ferido por seu filho, Daniel Coutinho. Daniel sofre de esquizofrenia e, num surto psicótico, esfaqueou pai, a mãe e tentou se matar.

Mas eu não quero escrever sobre a morte de Coutinho, por mais trágica que tenha sido. Quero escrever sobre a vida. A dele e a de seus filmes. Porque foi isso que me fez lamentar tanto ao saber que o Brasil perdia um dos maiores nomes do cinema e o maior documentarista que já teve.

Conheci o trabalho de Eduardo Coutinho na faculdade, em uma aula de documentário. O professor Valdir Boffetti é o culpado, passando vários trechos de "Cabra Marcado Para Morrer" e relatando o incrível modo como o documentarista conduziu tal filme, mesmo com as interferências de uma Ditadura Militar. Coutinho ganhou meu coração.

Depois desse, vi mais alguns, como "Edifício Master" e "Jogo de Cena". Eduardo Coutinho é o nome que eu carrego comigo desde 2007, que foi a razão de querer estudar cinema. Que me fez ter estômago e vontade para ir de ônibus até Canudos, contando a história do sofrido povo baiano. O personagem é o tema, a vida dele, o que ele contar.

"O filme depois de pronto, não é mais meu, eu sou mais dele." Embora eu acredite que um filme nunca tem fim, nós simplesmente o paramos, essa é a premissa. A partir do momento que paramos, ele não é mais nosso, é do mundo.

Coutinho marcou época, marcou a mim, marcou a história do documentário brasileiro. E isso, para quem estudou jornalismo e estuda cinema, é muita coisa. O país perdeu ontem o pai de um Kikito por conjunto da obra e eu simplesmente lamento imensamente que o desfecho tenha sido brutal, ao invés de qualquer profecia que faziam quanto aos três maços de cigarro que Coutinho fumava, mesmo com seus 80 anos. Ou de tempo, de vida. Porque sua vida e seu trabalho era justamente a vida e o trabalho - seja a de João Pedro Teixeira ou a adaptação da obra de Tchekhov.

Descanse em paz mestre.