Últimos minutos na casa dos 20.
Daqui 12 minutos vai ser 20 e tanto.
Tanto.
Medo.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Sono.
Sabe o sono?
Então...
Enchendo-me as pálpebras e afagando-me os olhos.
Tenho sono.
Tenho sede.
Sede de descanso,
De pausa
De repouso
De pouso
Leve
Leve e levo
Para não deixar ser levada
Vou liricando enquanto ele
O malvado
Do sono
Vai me molestando
Mas eu até que gosto
Porque quando ele viaja
Me carrega junto
Sono
Sabe o sono?
Então...
Boa noite.
Sabe o sono?
Então...
Enchendo-me as pálpebras e afagando-me os olhos.
Tenho sono.
Tenho sede.
Sede de descanso,
De pausa
De repouso
De pouso
Leve
Leve e levo
Para não deixar ser levada
Vou liricando enquanto ele
O malvado
Do sono
Vai me molestando
Mas eu até que gosto
Porque quando ele viaja
Me carrega junto
Sono
Sabe o sono?
Então...
Boa noite.
sábado, 14 de novembro de 2009
Crise Pré-21 (Black Jack)
O que as pessoas e os astrólogos (não necessariamente nessa ordem) costumam chamar de "Inferno Astral", ocorre para mim como as famosas Crises Pré-futura-Idade (Vide Crise Pré-19 e Crise Pré-20).
Nelas, descrevo toda a frustração que um aniversário pode trazer juntamente com o bolo e as velinhas. Todas as mudanças, todas as preocupações, todas as transformações. Todas é uma hipérbole, mas diria eu que uma boa parcela delas.
A Crise Pré-21 se instaurou de forma diferente. Ela não é uma preocupação latente com as rugas e quilos a mais e nem com a necessidade de aprendizado. É uma angústia demasiadamente forte e inconstante, que vai e volta que nem bumerangue (os legítimos).
Ver como um ano faz diferença na vida das pessoas é incrível. Colocando na ponta do lápis (ou do cursor), penso no que tinha e no que era ano passado, nesse mesmo período e o que tenho e sou agora. Aliás, é uma das práticas mais frequentes em momentos de mudança.
Meu trabalho era outro, não tinha meu amado e odiado jornalismo, tinha namorado. Aliás, em 5 anos, será o primeiro aniversário sem estar compromissada. Isso pode ser o prelúdio da próxima década. E aos 31 eu volte e leia isso, rindo e imaginando: "Nem sabia eu naquela idade tudo o que iria me acontecer".
Aos 21 atingimos a legitimada maioridade penal. Posso casar vestida de Elvis em Vegas. Não posso na verdade, mas poderia se tivesse recursos. 21 é uma idade cabalística.
Como diria uma certa amora, é Black Jack, é algo místico. Somado dá 3, que vezes ele mesmo é igual a 9, o número que rege a sagitariana que vos fala. Não que isso seja relevante, mas pode ser que sim.
E voltemos à angústia: ela se camufla, é uma camaleoa (ou o Ivo Holanda disfarçado). Crises de riso, crises de choro, crises. A tristeza e solidão enlatadas, numa dose para singles. E os ignorantes acham que é TPM. E os depressivos acham que é um clarão sobre o quanto o mundo é uma grande bola de bosta achatada nos pólos. E não é nada disso, é só aquele açoite que a nossa psiquê dá no couro quando não somos guiados por ela. Quando razão e pensamento são dois tópicos sem relação alguma.
É uma força que faz a gente pensar no por quê de tudo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Achar sentido em tudo e não encontrar em nada. Tudo vai pesar diferente quando os 21 chegarem. As preocupações deste ano serão ínfimas comparadas as do próximo, assim como as anteriores são comparadas a esse. E a tendência é piorar.
Mas os 20 trouxeram amigos e experiências que nem 20, 30 ou 60 anos que vão apagar. Histórias que vão para os netos, caso eu ache a tempo o devido ser para os fins de procriação. Me trouxeram uma maturidade que só a causa do choro de Nietzsche exemplificariam.
Vou aproveitar o pouco que me resta com 20. Chorarei tudo que for preciso, eliminarei tudo e todos os dispensáveis. Guardarei o que realmente importa comigo.
Finalizo com uma frase de um filme infantil que tinha um rato no Velho Oeste (esqueci o nome, a idade vem chegando...):
"Se crescer fosse fácil, não levaria tanto tempo."
**Com atraso, mas antes tarde do que nunca: Fievel é o nome do filme. Estou velha, mas nem tanto...
Nelas, descrevo toda a frustração que um aniversário pode trazer juntamente com o bolo e as velinhas. Todas as mudanças, todas as preocupações, todas as transformações. Todas é uma hipérbole, mas diria eu que uma boa parcela delas.
A Crise Pré-21 se instaurou de forma diferente. Ela não é uma preocupação latente com as rugas e quilos a mais e nem com a necessidade de aprendizado. É uma angústia demasiadamente forte e inconstante, que vai e volta que nem bumerangue (os legítimos).
Ver como um ano faz diferença na vida das pessoas é incrível. Colocando na ponta do lápis (ou do cursor), penso no que tinha e no que era ano passado, nesse mesmo período e o que tenho e sou agora. Aliás, é uma das práticas mais frequentes em momentos de mudança.
Meu trabalho era outro, não tinha meu amado e odiado jornalismo, tinha namorado. Aliás, em 5 anos, será o primeiro aniversário sem estar compromissada. Isso pode ser o prelúdio da próxima década. E aos 31 eu volte e leia isso, rindo e imaginando: "Nem sabia eu naquela idade tudo o que iria me acontecer".
Aos 21 atingimos a legitimada maioridade penal. Posso casar vestida de Elvis em Vegas. Não posso na verdade, mas poderia se tivesse recursos. 21 é uma idade cabalística.
Como diria uma certa amora, é Black Jack, é algo místico. Somado dá 3, que vezes ele mesmo é igual a 9, o número que rege a sagitariana que vos fala. Não que isso seja relevante, mas pode ser que sim.

É uma força que faz a gente pensar no por quê de tudo, quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Achar sentido em tudo e não encontrar em nada. Tudo vai pesar diferente quando os 21 chegarem. As preocupações deste ano serão ínfimas comparadas as do próximo, assim como as anteriores são comparadas a esse. E a tendência é piorar.
Mas os 20 trouxeram amigos e experiências que nem 20, 30 ou 60 anos que vão apagar. Histórias que vão para os netos, caso eu ache a tempo o devido ser para os fins de procriação. Me trouxeram uma maturidade que só a causa do choro de Nietzsche exemplificariam.
Vou aproveitar o pouco que me resta com 20. Chorarei tudo que for preciso, eliminarei tudo e todos os dispensáveis. Guardarei o que realmente importa comigo.
Finalizo com uma frase de um filme infantil que tinha um rato no Velho Oeste (esqueci o nome, a idade vem chegando...):
"Se crescer fosse fácil, não levaria tanto tempo."
**Com atraso, mas antes tarde do que nunca: Fievel é o nome do filme. Estou velha, mas nem tanto...
sábado, 7 de novembro de 2009
Vestibulando
Calor escorrendo pelas veias. O sono corroía as têmporas estudantis. Antes era frio, agora é quente. Amargo gosto, amarga noite. Doses de café + coca-cola num refúgio contra o relógio.
Deixou aquele pedaço para trás. Desfez o momento e nem na memória não o refaz. Anula, como questões respondidas duplamente nos gabaritos de prova.
Tudo era leve, decidido e nítido. Simples: 2+2= 4 e 2²=4. Não é mais assim, entrou na vida dos binários e deixou 10 vezes a razão de lado.
Deixou a literatura mofar. Ficou só com a história. Ficou só.
Se perdeu numa geografia simples, que cabia dentro de uma rua.
Não falava outro idioma, só o seu e olhe lá.
Esquecia do empuxo, da inércia e toda a física. Ignorava as moléculas, helicoidais ou não que regiam a normativa biologia. Esqueceu tudo.
Só lembrava da química.
Deixou aquele pedaço para trás. Desfez o momento e nem na memória não o refaz. Anula, como questões respondidas duplamente nos gabaritos de prova.
Tudo era leve, decidido e nítido. Simples: 2+2= 4 e 2²=4. Não é mais assim, entrou na vida dos binários e deixou 10 vezes a razão de lado.
Deixou a literatura mofar. Ficou só com a história. Ficou só.
Se perdeu numa geografia simples, que cabia dentro de uma rua.
Não falava outro idioma, só o seu e olhe lá.
Esquecia do empuxo, da inércia e toda a física. Ignorava as moléculas, helicoidais ou não que regiam a normativa biologia. Esqueceu tudo.
Só lembrava da química.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Fragmentos
Era só para ser mais uma segunda-feira chata. Mais chata ainda por causa da chuva da madrugada ainda sobre os assentos do ponto de ônibus, mesmo que quase secos pelo sol que já raiava firme e forte.
Era só mais uma segunda-feira chata em que me levantei e fui concretizar o ritual banal de locomover-me à outra cidade, tão cedo, só pela necessidade conflitante do capitalismo semi-domesticado que rege o mundo.
Era só mais uma segunda-feira. Eu triste, desgostosa pelo simples fato de ser segunda-feira. E era só. Chego no trabalho e entre os gestos furtivos de olhar os e-mails antes de começar a de fato trabalhar, acho um sorriso diagonal em forma de texto, tão distante, lá em Guaratinguetá (eu acho).
Um dos meus escritores e poetas preferidos que me concedeu certa vez a honra de entrevistá-lo me manda um e-mail com gosto de marshmellow, mais doce que bala Juquinha, Dimbinho ou Sete Belo.
E usou o texto de outro escritor favorito, publicado pelo Estado de S. Paulo no dia 22 de abril de 1986 (2 anos, 7 meses e 4 dias antes de eu nascer). Segue abaixo, seguido de um enorme obrigada a Paulo Almada que tirou o sabor acre da minha segunda-feira.
Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
Era só mais uma segunda-feira chata em que me levantei e fui concretizar o ritual banal de locomover-me à outra cidade, tão cedo, só pela necessidade conflitante do capitalismo semi-domesticado que rege o mundo.
Era só mais uma segunda-feira. Eu triste, desgostosa pelo simples fato de ser segunda-feira. E era só. Chego no trabalho e entre os gestos furtivos de olhar os e-mails antes de começar a de fato trabalhar, acho um sorriso diagonal em forma de texto, tão distante, lá em Guaratinguetá (eu acho).
Um dos meus escritores e poetas preferidos que me concedeu certa vez a honra de entrevistá-lo me manda um e-mail com gosto de marshmellow, mais doce que bala Juquinha, Dimbinho ou Sete Belo.
E usou o texto de outro escritor favorito, publicado pelo Estado de S. Paulo no dia 22 de abril de 1986 (2 anos, 7 meses e 4 dias antes de eu nascer). Segue abaixo, seguido de um enorme obrigada a Paulo Almada que tirou o sabor acre da minha segunda-feira.
DOIS OU TRÊS ALMOÇOS, UNS SILÊNCIOS
Fragmentos disso que chamamos "minha vida"
Caio Fernando Abreu
Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.
De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.
Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.
Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.
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