Embora muito tenha se passado entre 2007 e 2012, eis o que permeiam: as crises pré-aniversário. E novamente, cá estou para descrever as auguras e dissabores que só a próxima casa decimal natal pode proporcionar, tal como tenho feito esses anos todos.
Tem gente que acha que é só uma veia dramática latente promovida pela minha hiperbólica sensibilidade. E talvez seja mesmo, afinal, as pessoas muitas vezes enxergam melhor as outras do que a si mesmas. E eu não sou exceção - e nem gostaria de sê-lo.
Já é natural eu discorrer com a retórica familiar aos poucos, mas fieis leitores desse blog sobre as latentes privações e sofrimentos que afligem minh'alma nos momentos que antecipam o assim chamado pelos astrólogos ano astral. Dizem que as coisas surgem com toda a sua temperança afim de encerrarem ciclos e fazer aquela famosa faxina para a fase que o sucederá.
Tal como proferiu Gugu, a.k.a Augusto Liberato (irmão de astróloga e apresentador da programas dominicais reconhecido principalmente pelo Domingo Legal durante anos no SBT) sobre a mancha da santa na janela da casa de algum devoto de Nossa Senhora Aparecida: eu não acredito, nem desacredito. Na ocasião em si, fieis católicos de diversas regiões contemplavam uma reação química na janela de uma casa sabe-se lá deuses em que cidade cujo formato assemelhava-se a Padroeira do Brasil. Eis minha metáfora em relação ao ciclos e astrólogos ou crendices sobre anos astrais.
O que afirmo é que 2012 foi um ano arrastado e pesado no geral. Começou com o desemprego, passou por um furto, uma perda lastimável, um término de namoro e tantas outras coisas que acabei esgotada. 2012 também foi o ano em que o último açoite do chicote do jornalismo acertou-me o couro das costas. E não tinha tom de cinza que me fizesse achar prazer naquilo.
A Crise Pré-24 se instaurou bem mais precocemente que as demais, não pelo acréscimo anual em si, mas pela sede de respostas para minha serventia nesse grande planeta recoberto de água. Dizem que todos viemos com algum propósito e já desesperançosa quanto ao jornalismo, vaguei perdida procurando o meu. E continuo à procura. Pode ser que seja dentro disso mesmo, mas essa cagueira leitosa não me permita enxergar isso agora.
Os erros - aqueles que muitos consideram banais - assombraram-me entre sonhos e vida, tarefas e demandas. Entretanto, nem sempre eu tive o vigor de antes para superá-los e quando o fracasso parecia iminente, eu sucumbi. Isso me envelheceu uns 3 anos em alguns meses e pude sentir isso - mental e fisicamente.
Muito do que eu admirava e acreditava nas pessoas dissolveu-se tal como o orvalho ao calor de verão. Muito do que as pessoas admiravam e acreditavam em mim idem. As paixões que sempre me moveram, dessa vez, me paralisaram.
O coração partido que por diversas vezes tirei de letra (e até fiz letras com as lamúrias), converteram-se em desânimo e a sensação de que já não mais eu era digna de coisas boas ou belas. O ego - ferido e inflado - me cegou por tantas vezes e por tanto tempo, que não sei ao certo o tempo necessário para o reparo.
E quanto me perguntavam: "O que te faz feliz?" e eu demorava para responder, isso quando o fazia, percebi que algo estava errado. Percebi que existem sim aqueles vampiros chineses tal como dita a mitologia: não levam o sangue, mas nossa energia, principalmente quando deixamos que o façam (e eu deixei).
Adoeci por tantos dias, semanas, meses e achava que a dor iria permear. Só que não permeou, tanto que cá estou, discorrendo sem pudores minhas lastimáveis fraquezas e desonras que muito provavelmente se perderão assim que terminado o texto.
Mais difícil do que falar sobre o que sentimos, é falar sobre o que não sentimos. Ou ainda, não falar sobre o que sentimos. Comigo sempre foi assim. Ainda que eu perca as coisas que mais prezo, as pessoas que mais amo e os ideais que mais acredito, falar sobre o que sinto sempre será necessário.
Nessa Crise Pré-24, eu espero sinceramente que os maias estejam corretos e que o mundo acabe. Não da forma trágica pregada, mas sim da forma como esteve estabelecido. Que se 2013 de fato chegar, todas essas coisas ruins que já não servem, tenham ido embora. Não só para mim, mas a todos.
E que no final dele, eu possa escrever sobre a fatídica Crise Pré-25 com um terço das mágoas de hoje e o dobro da esperança no futuro.
sábado, 24 de novembro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
A expectativa é uma infecção
Nesses meses que sucederam O amor é outra coisa, estive refletindo sobre as expectativas e todas as dores e doenças que ela acarreta. Hoje, posso afirmar - ainda que muitos refutem - a expectativa é uma infecção. E tal como qualquer outra, surge de maneira singela e ínfima, utilizando-se dos recursos do hospedeiro para multiplicar-se.
Silenciosa, vai aos poucos crescendo até atingir os órgãos depois de espalhar-se pela corrente sanguínea, até chegar ao coração. Antes disso, afeta o sistema nervoso e o cérebro, fazendo com que o infectado perca seu raciocínio lógico e por muitas vezes, a razão.
Começa como um incômodo pequeno, tal como uma pequena reação alérgica, até tornar-se preocupante. Sem manchas ou pústulas, é uma ojeriza do âmago e atinge, atingiu ou atingirá ao menos 99,9% da população mundial.
Consome lentamente, tomando conta de cada pedaço dos seres sem que esses notem sua severidade e a maneira como altera todo o modus operandi pré-estabelecido por rotinas, pessoas, conceitos e sensações que permeiam a existência humana.
Ainda não há antibiótico tão forte que resolva, nem medicação que alivie a dor da expectativa. E quando é finalizada, já deixou sequelas e às vezes, outras inflamações menores que desencadeiam os mesmos sintomas em um futuro não tão distante.
Mas acredito que tal como qualquer outra moléstia, o corpo vai se habituando a tais infecções e buscando aumentar a resistência. Fatores como a idade também influenciam no processo de "calosidade" e minimizam o surgimento das expectativas, que agora reconhece o perigo oculto ao não tratar uma expectativa logo no início.
Alguns tornam-se céticos, outros desesperançosos, mas ninguém nunca morreu por conta de uma infecção generalizada provocada por uma frustração, fase terminal da expectativa. A grande sacada é a auto-imunização sem que haja um quadro de desânimo crônico. Não há prevenção, tal como qualquer outra infecção, que chegam em situações oportunas ao surgimento. Com permissão de Drauzio Varella, iniciar o tratamento o quanto antes é a melhor forma de combater o processo inflamatório (e inflamado, por que não?) sem maiores riscos à saúde (mental).
Silenciosa, vai aos poucos crescendo até atingir os órgãos depois de espalhar-se pela corrente sanguínea, até chegar ao coração. Antes disso, afeta o sistema nervoso e o cérebro, fazendo com que o infectado perca seu raciocínio lógico e por muitas vezes, a razão.
Começa como um incômodo pequeno, tal como uma pequena reação alérgica, até tornar-se preocupante. Sem manchas ou pústulas, é uma ojeriza do âmago e atinge, atingiu ou atingirá ao menos 99,9% da população mundial.
Consome lentamente, tomando conta de cada pedaço dos seres sem que esses notem sua severidade e a maneira como altera todo o modus operandi pré-estabelecido por rotinas, pessoas, conceitos e sensações que permeiam a existência humana.
Ainda não há antibiótico tão forte que resolva, nem medicação que alivie a dor da expectativa. E quando é finalizada, já deixou sequelas e às vezes, outras inflamações menores que desencadeiam os mesmos sintomas em um futuro não tão distante.
Mas acredito que tal como qualquer outra moléstia, o corpo vai se habituando a tais infecções e buscando aumentar a resistência. Fatores como a idade também influenciam no processo de "calosidade" e minimizam o surgimento das expectativas, que agora reconhece o perigo oculto ao não tratar uma expectativa logo no início.
Alguns tornam-se céticos, outros desesperançosos, mas ninguém nunca morreu por conta de uma infecção generalizada provocada por uma frustração, fase terminal da expectativa. A grande sacada é a auto-imunização sem que haja um quadro de desânimo crônico. Não há prevenção, tal como qualquer outra infecção, que chegam em situações oportunas ao surgimento. Com permissão de Drauzio Varella, iniciar o tratamento o quanto antes é a melhor forma de combater o processo inflamatório (e inflamado, por que não?) sem maiores riscos à saúde (mental).
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Sandman traficante
"Eu sonhei novamente contigo. Que te procurava entre um prédio de apartamentos antigos que nunca vi. Janelas com persianas quebradas que só revelavam metade do que se passava naquela sala iluminada por lâmpadas incandescentes.
Sonhei que você parecia confortável e feliz, acolhido e sossegado como nunca pareceu ao meu lado. E que seu pai, vendo a minha melancolia, me oferecia uma carona e sorria de maneira que me animasse. E eu sabia que era sincero. No final te encontrava, com os pés e braços rabiscados, cheios de sorrisos desenhados com canetas hidrográficas por meninas que viram suas qualidades e se apaixonaram, assim como eu."
Acordei e percebi que era só mais um sonho, daqueles que você costuma invadir sem pedir licença do seu jeito meio malandro, meio mané. E quando percebo o que faz, me desfaço, em palavras ou lágrimas, em cima daquele caderno preto que marca todos que me marcaram. E que passaram.
Acho que o homem da areia do sono andou batizando-a com outro pó.
Sonhei que você parecia confortável e feliz, acolhido e sossegado como nunca pareceu ao meu lado. E que seu pai, vendo a minha melancolia, me oferecia uma carona e sorria de maneira que me animasse. E eu sabia que era sincero. No final te encontrava, com os pés e braços rabiscados, cheios de sorrisos desenhados com canetas hidrográficas por meninas que viram suas qualidades e se apaixonaram, assim como eu."
Acordei e percebi que era só mais um sonho, daqueles que você costuma invadir sem pedir licença do seu jeito meio malandro, meio mané. E quando percebo o que faz, me desfaço, em palavras ou lágrimas, em cima daquele caderno preto que marca todos que me marcaram. E que passaram.
Acho que o homem da areia do sono andou batizando-a com outro pó.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Pra falar difícil
Adoro e detesto essas vicissitudes e idiossincrasias que eclodem em sua personalidade. Sua falta de estabilidade me revolta, mas seus vícios me viciam.
Há tempos a lucidez deixou-me e lá estava eu, dando vasão a sentimentos soterrados pela lógica. Que estavam enterrados no meu âmago, esquecidos e inertes.
Me permito esse tipo de gincana emocional e mental contigo - e tão somente contigo - porque da mesma maneira que me desnorteia, me traz uma vivacidade que só a ferocidade genuína do inédito provocam.
Cada conversa contigo é um mais do mesmo inédito, um ciclo vicioso e viciante. Me faz mal, mas eu não consigo deixar de querer.
Me permito esse tipo de gincana emocional e mental contigo - e tão somente contigo - porque da mesma maneira que me desnorteia, me traz uma vivacidade que só a ferocidade genuína do inédito provocam.
Cada conversa contigo é um mais do mesmo inédito, um ciclo vicioso e viciante. Me faz mal, mas eu não consigo deixar de querer.
É um convívio diário à distância, inconstante. Uma mente que eu nunca sei quando mente. Uma razão tão desprovida de coração e tão fria que dói. E uma dor tão desconcertante que me impede de prosseguir.
Mas ainda me desvencilho disso. Ainda deixarei essas possessões de lado. Esse medo de perder o que nunca tive vai passar.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Efeitos colaterais do coentro
Após a ingestão concentrada de coentro durante duas semanas, estudantes que integravam um projeto pela Universidade Metodista de São Paulo e Faculdade de Medicina do ABC apresentaram um quadro crônico de nostalgia.
Ainda não foi feito um estudo ou exames aprofundados, mas dentre os sintomas, destacam-se: crises noturnas de choro, saudade e a vontade de rever e reviver todas as ações realizadas no distrito de Canudos Velho, no sertão da Bahia.
Dizem ainda que as propriedades da folha tiveram efeito afrodisíaco e que um casal foi formado durante a expedição. Segundo entrevistas, os sintomas foram agravados após a festa do padroeiro da cidade, São Pedro. Os níveis de endorfina também apresentaram alterações e há quem afirme que seja por conta do tempero.
A ciência não contesta, mas também não afirma se a real motivação dos fatos é a ingestão constante de Coriandrum sativum, nome científico da planta. Também conhecido como coriandro, é altamente usado na gastronomia para auxiliar na digestão de comidas pesadas.
Após o surto, estima-se que seja realizados testes que apontem alterações no diencéfalo e hipotálamo dos participantes, agora sem a ingestão de coentro para averiguar se o comportamento se deve ao cardápio baiano.
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