domingo, 21 de agosto de 2011

Salve Jorge



"Minha branquinha, vem cá com tio, minha polaca".
Demorei muito até descobrir o que era polaca, mas hoje sei.

E sei também que nunca mais ele vai me chamar assim. Aquele negão com cabelo cheio e bigode que eu tanto amava. Que era corintiano, mas quase jogou no Santos. É, a velha vó viúva não iria abrir mão de nenhum filho, por mais talentoso que ele fosse.

Salve Jorge, meu querido tio, o relações públicas da família que não chegou a completar o ensino médio, mas sabia mais das coisas do que muito doutor por ai.

E ele me chamava de branquinha e mordia o meu pé. E sempre vinha me visitar, me buscar na escola e ver Coiote comigo depois da escola. Não entendíamos como ele tinha dinheiro para comprar produtos da Acme, pois estava sempre com fome. Era só comprar um frango assado.

Meu preto velho, meu tio querido, que me ensinou a andar de bicicleta. Que me fez adorar bigodes e Tartarugas Ninja.

Bateu agora uma saudade imensa, meu preto. Daquelas que não cabem no peito. Porque ninguém entendia como um negão podia ter uma sobrinha branquinha. Mas deixa eles para lá tio, porque a cor não importa.

Branco era o seu dente, mais branco que tudo, contrastando seu bigode preto.

2 comentários:

Acacia disse...

Ai, que triste, mas que lindo o seu texto.

Tudo, infelizmente, um dia acaba.
Se até o mal nos faz falta às vezes, imagine o que amamos...

Beijos, minha querida, meus sentimentos e força nesse momento.

Let things go, and then they'll turn back some day.

Vinicius Siqueira disse...

Augusto Comte falava que as pessoas não "morriam". Ficavam eternas como lembrança.

É bem mistico pra um positivista, que, no fim das contas, só queria falar que a gente aprende com quem passou, com as experiências, e são elas que fazem as pessoas, não só um nome ou um corpo... Sabe? Não só o fato de existir, mas o de interagir.