Gosto acre. E ele existe de verdade? O gosto sim, o estado já não sei.
Só sei que nada sei, assim como Sócrates. E ele sabia mais do que eu.
Acho que pior do que saber, é saber e não conseguir fazer. Que nem origami. Você sabe dobrar papel, mas ele nunca vira um tsuru. Mas é uma besteira, pois faço muito bem tsurus.
Agora as caraminholas se desenrolam na cabeça e até a lógica se perde na cegueira involuntária.
E ninguém gosta de caraminholas desenroladas na cabeça. Nem enroladas, mas isso não faz diferença.
É como exercício de matemática com fórmula: a gente sabe, mas não consegue fazer. Bhaskara e Pitágoras tentaram mostrar o caminho, mas quem o usa somos nós. Ou prova de filosofia com consulta: não adianta saber o que Sócrates pensa, ele já morreu faz tempo e quem vai se ferrar sou eu.
Eu sei o que fazer. Só não consigo.
domingo, 9 de maio de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
DoLado
Não faz muito tempo, recostou a cabeça quente e recém-raspada no ombro com bursa molestada e dormiu.
Dormiu profundamente, aquele sono de criança em viagem de trem. Não é para menos, não era criança, mas era um trem. E estava viajando de uma cidade para outra. Afinal, são próximas, mas ainda são duas cidades.
Parecia calmo, tranquilo, como um filhote recém-mamado. Não era filhote, nem estava mamado (tanto assim). Mas respirava pausadamente, naquele sono que faz quem estar acordado ficar admirando.
E o ombro, hoje, sentiu falta disso. Da paz que não se pede ou se mede. Daquela paz pós-tudo, a paz-pós-mudo. Mudo e miúdo, tombado naquele famigerado lado. Repousando o sono dos justos, ou dos Justus, tanto faz. O que importa é que dormia tranquilamente.
E o ombro, hoje, mais do que nunca, sentiu falta disso. Da cabeça quente, recostada nele, pedindo para ser afagada.
Silenciosamente.
O sussurro da noite já beijando o pé do ouvido e o menino naqueles ombros caídos. Entregue. Tão calmo que parecia mais leve. E tão leve que poderia ser levado. E levaria, se não tivesse bursite.
Aquela vai para a galeria. Aquela mental, que guardamos as cenas mais belas. E você está em várias delas.
Dormiu profundamente, aquele sono de criança em viagem de trem. Não é para menos, não era criança, mas era um trem. E estava viajando de uma cidade para outra. Afinal, são próximas, mas ainda são duas cidades.
Parecia calmo, tranquilo, como um filhote recém-mamado. Não era filhote, nem estava mamado (tanto assim). Mas respirava pausadamente, naquele sono que faz quem estar acordado ficar admirando.
E o ombro, hoje, sentiu falta disso. Da paz que não se pede ou se mede. Daquela paz pós-tudo, a paz-pós-mudo. Mudo e miúdo, tombado naquele famigerado lado. Repousando o sono dos justos, ou dos Justus, tanto faz. O que importa é que dormia tranquilamente.
E o ombro, hoje, mais do que nunca, sentiu falta disso. Da cabeça quente, recostada nele, pedindo para ser afagada.
Silenciosamente.
O sussurro da noite já beijando o pé do ouvido e o menino naqueles ombros caídos. Entregue. Tão calmo que parecia mais leve. E tão leve que poderia ser levado. E levaria, se não tivesse bursite.
Aquela vai para a galeria. Aquela mental, que guardamos as cenas mais belas. E você está em várias delas.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Espinafrando o mousse
Já é segunda-feira e já sinto aquele mal-estar típico. A falta de vontade de sair da cama, a falta de vontade de pensar. A falta de. Nem fui deitar ainda, mas já sinto a preguiça e desânimo precoces.
Sou precoce. Eu fico feliz precocemente, eu fico triste precocemente. Eu vivo precocemente. Na sexta a segunda é próxima e já dói pensar na semana. Meu dia mal começa e já penso no que falta para pensar. E me calo com a boca de feijão.
Falta em mim o elemento "Porra Louca". A coisa mórbida de desligar o famigerado telefone, de não ler e-mail, de sumir. Fazer valer o "pegar minha mochila vermelha e cair fora". Meu perfeccionismo e senso de responsabilidade/maturidade/covardia enrustida não permitem tamanha façanha.
Feliz é aquele que sabe exatamente o quer sem precisar de nada além de si mesmo para conseguir. Porque a felicidade é individual, pessoal e intransferível. Não é impossível ser feliz sozinho. Só deve ser mais sem graça.
Felicidade solitária é café com leite gelado e pouco açúcar. Tem gente que prefere assim.
Minha felicidade é um expresso pelando e sem açúcar. Aquele momentâneo, que tem que ser agora porque senão fica inconsumível. Euforia instantânea, alegria Sorrisal em copo d´água.
O problema de viver precocemente é que a alegria que era para depois vem agora. É sobremesa antes da janta, tira o apetite. É preciso comer espinafre para chegar ao mousse de limão. E na ânsia do querer antes, comemos limão puro e mousse de espinafre. Pior só café com leite gelado e pouco açúcar.
Mas tem gente que prefere assim. A esses, um brinde em copos americanos, em uma padaria qualquer nessa segunda-feira ainda não amanhecida.
Sou precoce. Eu fico feliz precocemente, eu fico triste precocemente. Eu vivo precocemente. Na sexta a segunda é próxima e já dói pensar na semana. Meu dia mal começa e já penso no que falta para pensar. E me calo com a boca de feijão.
Falta em mim o elemento "Porra Louca". A coisa mórbida de desligar o famigerado telefone, de não ler e-mail, de sumir. Fazer valer o "pegar minha mochila vermelha e cair fora". Meu perfeccionismo e senso de responsabilidade/maturidade/covardia enrustida não permitem tamanha façanha.
Feliz é aquele que sabe exatamente o quer sem precisar de nada além de si mesmo para conseguir. Porque a felicidade é individual, pessoal e intransferível. Não é impossível ser feliz sozinho. Só deve ser mais sem graça.
Felicidade solitária é café com leite gelado e pouco açúcar. Tem gente que prefere assim.
Minha felicidade é um expresso pelando e sem açúcar. Aquele momentâneo, que tem que ser agora porque senão fica inconsumível. Euforia instantânea, alegria Sorrisal em copo d´água.
O problema de viver precocemente é que a alegria que era para depois vem agora. É sobremesa antes da janta, tira o apetite. É preciso comer espinafre para chegar ao mousse de limão. E na ânsia do querer antes, comemos limão puro e mousse de espinafre. Pior só café com leite gelado e pouco açúcar.
Mas tem gente que prefere assim. A esses, um brinde em copos americanos, em uma padaria qualquer nessa segunda-feira ainda não amanhecida.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Churras- Queira
O corpo já titubeia, a cabeça pende. Olhos semi-abertos... cálculos semi-certos, o que resulta sempre em algo errado.
Estar errado não consiste em não estar certo. Consiste em não dá certo de primeira. E muita coisa não dá.
O emprego, a faculdade, a namorada, a carteira... às vezes precisamos esperar.
E quem aguenta?
Humanos, demasiado humanos, queremos o querer já. As vontades são inadiáveis, mas com elas, vêm as responsabilidades.
E a maturidade falta, falha, fere quando não está no devido lugar. Ninguém é maduro o bastante que não possa melhorar.
Mas o cansaço tem feito de tudo para estragar o pouco conquistado. A teimosia, o orgulho e o medo, principalmente esse, vindo sempre atormentar.
A vida já tem tormentos demais, mas nunca são o bastante. Buscamos causas e cousas nos fundos dos baús fundos e nas estantes só para nos angustiar. O agora não basta, reviramos a bosta. Procuramos sarna para nos coçar.
E cansa. Viver o presente preso ao passado cansa. Ainda mais mal-passado, cujo sangue escorre ao expremer. Serve para a carne, serve para a gente.
Deixemos o passado de lado. Deixamos o mal-passado tostar.
Estar errado não consiste em não estar certo. Consiste em não dá certo de primeira. E muita coisa não dá.
O emprego, a faculdade, a namorada, a carteira... às vezes precisamos esperar.
E quem aguenta?
Humanos, demasiado humanos, queremos o querer já. As vontades são inadiáveis, mas com elas, vêm as responsabilidades.
E a maturidade falta, falha, fere quando não está no devido lugar. Ninguém é maduro o bastante que não possa melhorar.
Mas o cansaço tem feito de tudo para estragar o pouco conquistado. A teimosia, o orgulho e o medo, principalmente esse, vindo sempre atormentar.
A vida já tem tormentos demais, mas nunca são o bastante. Buscamos causas e cousas nos fundos dos baús fundos e nas estantes só para nos angustiar. O agora não basta, reviramos a bosta. Procuramos sarna para nos coçar.
E cansa. Viver o presente preso ao passado cansa. Ainda mais mal-passado, cujo sangue escorre ao expremer. Serve para a carne, serve para a gente.
Deixemos o passado de lado. Deixamos o mal-passado tostar.
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