quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Capítulo VI

Leia antes...

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V

Entrou na loja.
Tinha um cheiro muito agradável. Difícil descrever. Era de infância, algo que a remetia aos seus tempos pueris. Só sabia que era bom e provocava uma enorme nostalgia. O piso era de carvalho envernizado, brilhante e espelhado, realçando o felpudo carpete vermelho tomate da entrada. Quem ousaria sujar tão belo piso com suas galochas enxarcadas pelas constantes chuvas londrinas?

As vitrines eram enormes, enfeitadas com inscrições em branco numa letra cursiva revelando o nome do café-livraria. Cortinas de xadrez amarelo ouro com tiras vermelhas e azuis as vestiam como damas da realeza colonial.

O balcão também era em carvalho escuro, mas o tampo era de mármore amarelo. Uma estufa exibia os maravilhosos quitutes apetitosamente posicionados próximos à caixa registradora. Aliás, uma relíquia da década de 30 que seu tio achara em um antiquário no ato de estréia do estabelicimento, mas que jamais substituíra ou trocara. Era dourada e brilhante e fazia aquele famoso barulho de dinheiro dos desenhos animados ao abrir.

As mesas eram de metal, com tampo em fórmica azul cobalto, mas em suas bordas haviam feitas pinturas que simulavam uma renda branca, formando uma espécie de moldura. Mais um trabalho artesanal da falecida tia que dava ao lugar aquele toque único.

A porta de entrada era de vidro e acomodava uma persiana vermelho tomate, combinando com o tapete. A já citada sineta prata adornava o topo, simetricamente calculada à 63,5 cm da maçaneta também prata.

As paredes eram de um creme aveludado. Em algumas, haviam luminárias alaranjadas antigas que realçavam as fotos penduradas. Algumas eram de Londres, outras dos Beatles, a belíssima Audrey Hepburn ou cômico Chaplin. O lugar todo era meio retrô, o que o tornava mais aconchegante. Painéis de carvalho envernizado ocupavam a metade inferior de todas as paredes.

O cardápio era todo feito a mão, em papiro. A caligrafia impecável e inconfundível do tio da nossa protagonsita era dominante em todos eles. Embora agora menos clássicos devido ao contact, mantinham seu charme habitual.

A escada que levava os clientes até a livraria era em caracol, com degraus escuros recobertos por um carpete felpudo similar ao da entrada. O corrimão era todo talhado, formando vários ramos floridos até o piso. Essa ficava ao lado da caixa registradora, que por sua vez ficava na parede paralela a da entrada.

Os banheiros, adjacentes à entrada e à escada, guardavam cortinas azuis e uma cartola e a palavra "gentlemen's" pirografadas em uma placa, e cortinas vermelhas e uma placa também pirografada, mas essa com uma carteira de festa e os dizeres "ladies".

O porta-guarda-chuvas era em bronze, um modelo dos anos 30, cuja lateral era adornada por dois grifos.

Morando na parede atrás da caixa registradora antiga, um cuco, quebrado, mas que mostrava as horas com precisão cirúrgica.

3 comentários:

Leandro Vasco disse...

Demorei um pouco além do que havia pensado que o faria, mas sim, li todos os capítulos anteriores.
Claro que há o que melhorar, sempre, mas tu excreves de uma forma exuberante...
Adorei a forma como tu exibe a ambientação de tudo. Rica de detalhes, narrativa que prende a atenção.

Muito foda, continue os capítulos!
;***

Dra. ƒernanda Trigo disse...

Olá...
Nao, a musica originalmente tinha o trecho que você falou, mas ela foi lançada oficialmente no segundo CD deles, chamado "o segundo ato" e essa parte foi alterada para parte q postei.

beijos

Evandro Silva disse...

Olá Elsa, seu pedido não foi bobo não, até agradeço pelo interesse,
Bom, a questão não é só tempo, é mais um misto de relaxo com
falta de recursos... rsrs
___________________________________
Gostei da história, rica em detalhes e... como eu posso dizer,
segue uma “métrica” não sei como relatar.
A moça dos lábios rouge parece ser tão teimosa quanto eu :D


P.S: vc está em Londres?