terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cidadania, eletiva, economia e hipocresia

Como todo aluno-caranguejo sabe, a nossa universidade é bem famosa pelo Núcleo de Formação Cidadã, que promove aos pobres diabos dos alunos de 2º e 3º semestres as famigeradas eletivas.

Elas foram criadas com o intuito de "conscientizar e atentar os alunos para as necessidades de cidadania, muitas vezes perdidos no processo de formação profissional". Ou seja, é uma matéria aleatória, obrigatória, que você vai ter que fazer porque isso não é uma democracia.

Aliás, dependendo do caso, eletiva é só uma nomenclatura mesmo, porque eles te jogam para onde estiver sobrando vagas, ignorando o seu poder de escolha. Cidadania 1 X Democracia 0.

Enfim, eis que você está em uma sala de aula com sujeitos de todos os cursos: os juqueiros da atlética, os diáconos de teologia, os bêbados de jornalismo, os maconheiros de filosofia, os perdidos de administração, os chicleteiros de odonto, e por ai vai. Não que eu seja a favor dessa rotulação, pelo contrário.

Ninguém conhece ninguém. Talvez até conheça, algum perdido da sua sala que, assim como você, perdeu o prazo para escolher a eletiva, ou, assim como eu, não pode fazê-lo e foi remanejado para lá. Todos com cara de perdidos, fingindo uma auto-confiança que ninguém tem e esperando o professor que nunca viram, nem comeram, só ouvem falar.

O dito (ou a dita) entram, apresentam o plano de ensino e, dependendo da eletiva, fazem algumas piadas. Sorte a minha que os meus professores sempre foram bons. O de religião principalmente, embora eu tenha rejeitado a ideia no começo.

Pois bem, 2010, ano novo, vida velha e lá vou eu para a eletiva que eu escolhi (e dessa vez deu certo): Economia e Cidadania. A professora, uma gordinha (eu posso falar isso?) simpática começa falando das definições concretas do que é economia, os princípios básicos de Huberman, produtos da PalmaLimp, o indiano que ganhou o Nobel de economia etc.

Como a maioria sabe, vivo um caso de amor e ódio com a Metodista, quase uma novela mexicana... Já tive que trancar minha matrícula por não terem aceitado minha proposta de acordo e atualmente estou numa situação similar: ou vai, ou tranca (ao invés de racha).

E no meio daquele discurso bonito, entre a importância da bem-estar mais do que o acúmulo de bens, a reflexão em relação ao capitalismo, a queda do feudalismo e todo esse rolo que fez nossos avós fazerem uma poupança, nossos pais uma previdência e nós termos menos filhos, me vejo numa baita contradição.

Usando o coração, ao invés da razão: QUE BAITA HIPOCRESIA DESSA MERCENÁRIA DENOMINADA METODISTA.

Voltando ao estado da razão: é completamente antagônico pagar alguém para lecionar sobre os valores e preços da qualidade de vida, se denominar uma entidade filantrópica e quando um aluno com dificuldades pede algum recurso para continuar estudando, ela mandar pelo portal do aluno um formal NÃO em letras garrafais.

O discurso no processo de quando você pede bolsas é acolhedor, nem um pouco institucional, quase uma mãe, que se propõe a ajudar todos os que necessitarem e recorrerem a ela. Uma instituição diretamente ligada à igreja, cujo discurso é sempre ajudar e auxiliar os mais necessitados, que manda missionários aos países pobres para levar os ensinamentos bíblicos. E que deixa essa sub-espécie designada estágiario em uma situação de reclusão. Porque sim, impedir alguém de estudar o que quer por não poder pagar é uma das mais abomináveis formas de reclusão.

Não peço para a igreja parar de ajudar os necessitados lá longe. Não disse que a Metodista tem que abrir as portas e deixar qualquer um que queira fazer o que bem entende no curso que achar melhor. Longe disso. Mas a filantropia devia saber dosar esse altruísmo com as pessoas que ajudam a financiar todo o slogan de Melhor Universidade Privada do País. Alunos que se dedicaram em seu curso, que prestaram o ENADE e renderam todas as estrelinhas do Guia do Estudante que ela divulga tão vorazmente.

Esse texto não vai mudar nada. É só um desabafo de uma não-aluna que frequenta as eletivas de bicuda e que espera ainda constar na chamada da tão amada e odiada Metodista.

6 comentários:

alineschons disse...

De acordo, totalmente de acordo. É uma pena que a nossa querida e odiada 'Miserista' não esteja do lado de quem a realmente faz ser quem é. Cabe-nos chorar de sua imensa e exagerada burocracia e hipocrisia como bem ressaltou e aguardar pra ver aonde tudo vai parar... ;*

Paula Franco disse...

Burocracia. Economia. Hipocrisia. Palavras que rimam maravilhosamente. E que infelizmente fazem parte da vida de quem quer estudar mas não é bancado por papai e mamãe. Eu, que sou uma humilde bolsista, que me agarrei com unhas e dentes (como diz a propaganda) a oportunidade dada pelo governo e por Deus - por ter me abençoado com esta pele morena jambo -, sei como é frustrante adiar seu sonho devido a falta de verba.
Mas, somos brasileiros, não desistimos nunca e adoramos um carnê das Casas Bahia pra pagar além vista!

andré gomes disse...

é SRTA Villon, as instituições não são o que dizem ser, mesmo. principalmente quando se trata de capital.''melhor universidade privada do pais'', não teriam este titulo se não pisassem em alguem, leia-se alunos, aquela coisa toda de nada poderoso, construido neste planeta de 300 anos pra ca fez sem sangue continua valendo mais do que nunca, mas agora é sem camuflagem, é explicitado nas letras garrafais do ''NÃO'' que voce recebeu...
parece que os conceitos de resignificação das entidades de ensino, privadas ou não, nunca foram nem cogitados na Metodista, e olha que eu ja estudei Filosofia lá, não me formei, mas vi o suficiente pra dizer que os caras não estão pra brincadeira, e se nem pensaram nisso é porque não interessa mesmo. nossos tempos não são apenas dificeis, e sim CADA VEZ MAIS DIFICEIS(!), dobrando a injustiça e canalhice a cada um ou dois anos, o que historiacamente é equivalente a um atimo!
no mais, gostei do seu blog, fui ver o que era o tal buzz no gmail e cai nele.bendito buzz!
muito bons os textos em geral garota, desenvoltura do assunto, classe pra retorica, humor sofisticado e sarcastico na medida(adorei isso), e em ponto algum chato de ler, o que convenhamos, é o que mais tem por ai.
é isso aí
''reflexão em relação ao capitalismo, a queda do feudalismo e todo esse rolo que fez nossos avós fazerem uma poupança, nossos pais uma previdência e nós termos menos filhos, me vejo numa baita contradição.''= SENSACIONAL

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Concordo com tudo. É tão reprimível e lamentável, além de mostrar que cascalho vale sim mais do que capacidade. No mínimo injusto.
Ai se fosse na União Soviética.

Cíntia Alves disse...

Getting better all the time.