Não faz muito tempo, recostou a cabeça quente e recém-raspada no ombro com bursa molestada e dormiu.
Dormiu profundamente, aquele sono de criança em viagem de trem. Não é para menos, não era criança, mas era um trem. E estava viajando de uma cidade para outra. Afinal, são próximas, mas ainda são duas cidades.
Parecia calmo, tranquilo, como um filhote recém-mamado. Não era filhote, nem estava mamado (tanto assim). Mas respirava pausadamente, naquele sono que faz quem estar acordado ficar admirando.
E o ombro, hoje, sentiu falta disso. Da paz que não se pede ou se mede. Daquela paz pós-tudo, a paz-pós-mudo. Mudo e miúdo, tombado naquele famigerado lado. Repousando o sono dos justos, ou dos Justus, tanto faz. O que importa é que dormia tranquilamente.
E o ombro, hoje, mais do que nunca, sentiu falta disso. Da cabeça quente, recostada nele, pedindo para ser afagada.
Silenciosamente.
O sussurro da noite já beijando o pé do ouvido e o menino naqueles ombros caídos. Entregue. Tão calmo que parecia mais leve. E tão leve que poderia ser levado. E levaria, se não tivesse bursite.
Aquela vai para a galeria. Aquela mental, que guardamos as cenas mais belas. E você está em várias delas.
2 comentários:
Vc pensando tudo isso e eu dormindo...rs
É o ombro com bursa molestada que mais gosto.
uma tag resume tudo.
#helochora
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