Hoje, mais do que nunca nesses 12 anos, senti falta do meu avô.
Há 12 anos era sábado, e depois de uma tarde inteira na igreja que frequentava, carregando tijolos para fechar a parede que faltava, ía para casa.
Virávamos a esquina quando um vizinho veio dar os pêsames ao meu pai e dizer que sentia muito. Nem havíamos entrado em casa e sabíamos: ele não estava mais lá. Ele se foi sem eu dizer que odiava o perfume que ele usava, mas gostava quando fazia a barba.
Ele se foi sem contar a última história das salsichinhas que moravam atrás do sofá, juntamente com o vidro de azeitonas que o diabético teimoso comia escondido. Ele se foi sem me dar tchau e me levar para pescar na represa como havia prometido.
Ele se foi. Nunca pediu desculpas por todas as grosserias que disse a meu respeito quando eu ainda estava envolta por líquido aminiótico. Quando o sócio dele foi me visitar e deu os parabéns pela neta de olhos azuis como o do pai e da vó que havia nascido.
Se foi e me deixou só com o adesivo do Corinthians que pedi, na esperança de sentar ao lado dele e ver os jogos. Mas minha avó me deu um copo do São Paulo e aos 5 anos de idade eu me tornara a decepção de 3 gerações de corintianos.
Mais do que nunca senti falta dele. Dos nossos passeios de jipe até longe e os picolés que comprava antes do almoço. Queria que estivesse aqui, dizendo que minha letra parece com a dele e vendo os filmes do Elvis comigo.
Me dando um balde de sorvete e dizendo que eu sou forte e iria aguentar tudo, mesmo sendo pequena e magrela. Mentindo docemente para aliviar as dores que um pai, na ânsia de amadurecer o filho, não consegue.
Avó é mãe com açúcar. Avô é pai com ketchup.
Faz 12 anos vô. Queria que me xingasse por torcer pela Argentina e chamasse o Messi de nanico narigudo.
Que esquecesse meus quase 22 anos e entregasse o Estadinho para eu ler, como sempre fazia. Que reclamasse do macarrão ruim da vó, da gelatina de morango e do chá de alpiste que tomava para a diabete baixar.
Sinto sua falta e derrubo lágrimas por você com 12 anos de atraso.
domingo, 27 de junho de 2010
O bigode mor
Homens velhos, barbudos, bêbados e mortos sempre vem me ajudar.
Com vocês, Leminski:
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira
coração
PRA CIMA
escrito embaixo
FRÁGIL
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo
nem fale em amor
que amor é isto
Com vocês, Leminski:
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira
coração
PRA CIMA
escrito embaixo
FRÁGIL
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo
nem fale em amor
que amor é isto
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Empirismo da morte
Morar perto de cemitério desde sempre me trouxe uma das poucas verdades absolutas e imutáveis: todos teremos o mesmo fim.
Já cansei de passar em frente ao cemitério e ver pessoas inconsoláveis com a perda de alguém que até outro dia estava do lado delas. Algumas, já esperavam. São famílias de ex-doentes que acalmaram seus corações sabendo que agora não haveria mais dor.
Esses casos são simples. Quando a dor é maior que a vontade de viver, é melhor ser levado por cinistro seifador. Já preparamo-nos e preparamos os outros para que saibam logo: a verdade absoluta está perto.
Há os casos menos simples porém: a interrupção de vida acidental. Jovens, crianças ou adultos, no auge de sua vida, não mais ali. Os planos solitários, os planos em conjunto, os não-planos, tudo agora desce com o caixão para um retângulo na terra.
O choro inconsolável de quem ama, que não entende porque agora, porque eu, porque comigo. A vontade de pular junto ao pedaço de carne já sem vida e desejar fazer parte daquilo. Acredito que os lamentos sejam a forma mais genuína de se resignar ao fato de que nunca mais teremos aquela pessoa ao lado.
O múrmurio rebate a dor, dizendo que vai passar. Que tem que passar. Que a vida continua. A vida sempre continua, até que se tenha a morte. Mas agora não é a mesma vida. É uma vida sem uma das vidas que a completava. Ninguém pode ser consolado nessas horas.
Já disse Silvio Santos: da vida não se leva nada.
Já cansei de passar em frente ao cemitério e ver pessoas inconsoláveis com a perda de alguém que até outro dia estava do lado delas. Algumas, já esperavam. São famílias de ex-doentes que acalmaram seus corações sabendo que agora não haveria mais dor.
Esses casos são simples. Quando a dor é maior que a vontade de viver, é melhor ser levado por cinistro seifador. Já preparamo-nos e preparamos os outros para que saibam logo: a verdade absoluta está perto.
Há os casos menos simples porém: a interrupção de vida acidental. Jovens, crianças ou adultos, no auge de sua vida, não mais ali. Os planos solitários, os planos em conjunto, os não-planos, tudo agora desce com o caixão para um retângulo na terra.
O choro inconsolável de quem ama, que não entende porque agora, porque eu, porque comigo. A vontade de pular junto ao pedaço de carne já sem vida e desejar fazer parte daquilo. Acredito que os lamentos sejam a forma mais genuína de se resignar ao fato de que nunca mais teremos aquela pessoa ao lado.
O múrmurio rebate a dor, dizendo que vai passar. Que tem que passar. Que a vida continua. A vida sempre continua, até que se tenha a morte. Mas agora não é a mesma vida. É uma vida sem uma das vidas que a completava. Ninguém pode ser consolado nessas horas.
Já disse Silvio Santos: da vida não se leva nada.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
100100tido
Sempre cheia de palavras para esvaziar o peito
Encho-o agora e deito
Calada no meu leito
Para não me machucar
A cegueira é passageira
A surdez é momentânea
A falta de tato é corriqueira
A mudez é instântanea
Encho-o agora e deito
Calada no meu leito
Para não me machucar
A cegueira é passageira
A surdez é momentânea
A falta de tato é corriqueira
A mudez é instântanea
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Gaiola de peixe
A coisa mais frustrante do mundo é querer muito algo e dar errado. Isso é unânime.
Não importa o que seja, se você quer e não tem, te entristece.
E tenho estado muito triste. O que quero está perto mas eu não alcanço.
Posso ver e não posso pegar. Consigo ouvir, mas não estou tão perto quanto gostaria. De rasgar a caixa dos peitos de tanto que dói.
Eu odeio a sensação de que nada pode ser feito. Essa resignação maldita de quem está do outro lado do vidro vendo tudo passar. E com a sensação de que deveria ter ficado.
Um aquário humano. Um aquário desumano que separa. Que filtra. Mas não ptrecisa filtrar, já é puro.
Querer não é poder. Frase sábia e sóbria que eu odeio. Mas é real. O meu ódio e a retórica são reais.
Quero-quero, patativa, bem-te-vi.
Mal-te-vi.
Mal-chegou.
Mal-estar.
Mal-estou.
Bem-estar.
Bom estar.
Com você.
Não importa o que seja, se você quer e não tem, te entristece.
E tenho estado muito triste. O que quero está perto mas eu não alcanço.
Posso ver e não posso pegar. Consigo ouvir, mas não estou tão perto quanto gostaria. De rasgar a caixa dos peitos de tanto que dói.
Eu odeio a sensação de que nada pode ser feito. Essa resignação maldita de quem está do outro lado do vidro vendo tudo passar. E com a sensação de que deveria ter ficado.
Um aquário humano. Um aquário desumano que separa. Que filtra. Mas não ptrecisa filtrar, já é puro.
Querer não é poder. Frase sábia e sóbria que eu odeio. Mas é real. O meu ódio e a retórica são reais.
Quero-quero, patativa, bem-te-vi.
Mal-te-vi.
Mal-chegou.
Mal-estar.
Mal-estou.
Bem-estar.
Bom estar.
Com você.
domingo, 13 de junho de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)