sexta-feira, 25 de junho de 2010

Empirismo da morte

Morar perto de cemitério desde sempre me trouxe uma das poucas verdades absolutas e imutáveis: todos teremos o mesmo fim.

Já cansei de passar em frente ao cemitério e ver pessoas inconsoláveis com a perda de alguém que até outro dia estava do lado delas. Algumas, já esperavam. São famílias de ex-doentes que acalmaram seus corações sabendo que agora não haveria mais dor.

Esses casos são simples. Quando a dor é maior que a vontade de viver, é melhor ser levado por cinistro seifador. Já preparamo-nos e preparamos os outros para que saibam logo: a verdade absoluta está perto.

Há os casos menos simples porém: a interrupção de vida acidental. Jovens, crianças ou adultos, no auge de sua vida, não mais ali. Os planos solitários, os planos em conjunto, os não-planos, tudo agora desce com o caixão para um retângulo na terra.

O choro inconsolável de quem ama, que não entende porque agora, porque eu, porque comigo. A vontade de pular junto ao pedaço de carne já sem vida e desejar fazer parte daquilo. Acredito que os lamentos sejam a forma mais genuína de se resignar ao fato de que nunca mais teremos aquela pessoa ao lado.

O múrmurio rebate a dor, dizendo que vai passar. Que tem que passar. Que a vida continua. A vida sempre continua, até que se tenha a morte. Mas agora não é a mesma vida. É uma vida sem uma das vidas que a completava. Ninguém pode ser consolado nessas horas.

Já disse Silvio Santos: da vida não se leva nada.

Um comentário:

Paulo disse...

Lembrei deste Manuel Bandeira: "Todas as manhãs o aeroporto em frente de casa me dá lições de partida..."
bjo

Paulo