"A vida é uma DST." Li essa frase no twitter de uma amiga certo dia, que a viu estampada na camiseta de um conhecido. Achei brilhante, mas infelizmente desconheço o autor. Espero que um dia esse texto chegue as suas mãos para que ele ou ela possa reinvindicar seus devidos direitos autorais sobre a retórica, os quais terei o devido prazer e honra de citar.
Perdida em uma dessas noites de insônia, na ânsia inútil de procurar um pé para entrelaçar os meus enquanto durmo, pensei: "Será também o amor uma DST?". E respondi minha própria dúvida com a confirmação. O amor é sim uma DST. Parto do princípio de que só começamos a amar de verdade uma pessoa a partir do momento que nos relacionamos sexualmente com ela.
O sexo gera o amor, não o contrário, como nos foi afirmado por séculos. Estejam à vontade para discordar e/ ou discorrer sobre, mas mantenho minha linha de raciocínio. O amor aqui tratado é aquele que difere aos laços familiares e de amizade, que fique claro. Amor de mãe, pai, avós, irmãos, tios etc é fundamentado em outros princípios que não competem à atração física mútua. Longe de mim (e bem longe por sinal) provocar polêmica com uma possível legitimação do incesto.
O amor rudimentar, aquele que une semelhantes da mesma espécie (não necessariamente de gêneros diferentes, pois faço questão de legitimar o amor homoafetivo) surge sim do ato da cópula. Embora muitos possam (e vão) argumentar que só se envolveram sexualmente em determinados relacionamentos porque amavam, refuto novamente e reafirmo que só amamos alguém após a troca de fluídos sexuais e ponto. Até lá, só achamos que é amor.
E não é difícil entender porque muitas pessoas pensam o contrário do que acabei de constatar. Além das crenças milenares, as áreas cerebrais e os hormônios que diferem o amor da paixão, fascínio, desejo, são similares. E isso não sou eu que estou afirmando, mas a ciência. Portanto, até que o sexo se consume, o que chamamos de amor é na verdade outra coisa. Afeição, similaridade, compatibilidade - chame do que quiser, menos de amor.
Porque é no sexo que conhecemos ao outro integralmente: o gosto, o cheiro, o tato, o som. Tudo isso completando e contemplando o nosso e o corpo alheio. O que não quer dizer que vamos amar cada um com o qual transamos. Fatores simples e novamente hormonais, curiosidade, vontade e muitas outras coisas vão nos motivar à cópula sem resultar na mística, porém química que é o amor.
Tudo isso é tão justificável que até as estatíscas apontam: por mais afinidade que um casal tenha, casamentos acabam todos os dias porque os tempos de "bom sexo" se foram, e o amor junto com eles. E provam o contrário: amantes que vivem às turras mas se aguentam, pois afirmam que "entre quatro paredes eles se resolvem".
Por todo o citado afirmo que amor, só depois do sexo e que é sim uma DST (para a qual espero que não achem a cura). Sexo sozinho é egoísta, é filho único mimado ou caçula que quer as coisas no seu tempo e do seu jeito. Que só usa, sem querer ou achar que também é usado. Aquele que faz "chantagem pós-coito", almejando dormir de conchinha mesmo em um calor cuiabano. Ou aquele que só deseja que o seu "item sexual" suma o quanto antes, ou se transforme numa pizza.
O amor (legítimo, pós ou até durante o sexo) não exige nada disso. Ele se rende ao prazer do outro corpo como fonte de seu próprio prazer. Sabe o que pode, o que quer e mais ainda: aonde quer. Não exige abraço ou conchinha quando acaba, mas também não repele. Entende quem cala, entende quem fala, entende quem dorme. E sorri exausto, mas feliz e seguro de que esses momentos bons tem uma fonte inesgotável, apesar de tudo que digam.
Tal como o apêndice é um órgão de fácil inflamação e remoção, o sexo (e o amor, por consequência) é o oposto - é um órgão que nos falta e buscamos incessantemente em outros corpos. Alguns transplantes ocorrem bem, outros resultam em rejeição. Mas sempre haverá gente na fila de espera esperando pelo órgão compatível.
3 comentários:
Vc é mto talentosa, menina.
Mto lindo isso que escreveu.
O amor é um mistério mesmo.
Estou atrás desse danadinho faz tempo.
Quero dizer amor de namorado pra namorada e vice-versa, pq amor de mãe e pai eu já tenho. rs
E esse amor de pai, mãe e amigo, pra mim, é um exemplo de amor verdadeiro.
Porque você faz de tudo pra ver o outro feliz sem querer nada em troca, ou melhor, quer uma coisa sim, o sorriso daquele que ama.
Bjos!
Sei que já estou velho e desiludido, mas amor pra mim é o que eu tenho pelo meu filho.
O amor carnal é outra coisa, prefiro chamar de paixão e gosto de paixão.
E é mais fácil se apaixonar depois de uma trepada bem dada, tanto quanto dá pra "desapaxionar" depois de uma brochada.
Então, basicamente concordo bastante contigo.
Elasa gostei, concordo e discordo ao mesmo tempo e acho que é isso que mais me deixou intrigada com o texto. Parabéns você escreve muito bem. Bjs
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