quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

27 anos

Ninguém faz texto sobre a vida aos 27. Porque se você não é famoso e morre aos 27, todo mundo caga para seus 27 anos.

Cá estou, fazendo um texto sobre a vida aos 27. Por vida, leia-se a minha vida. Não tenho o perfil biográfico para destrinchar as vivências alheias, portanto a régua aqui é empírica.

Nesses textos de blogs e sites famosos, a galera acha que aos 27 todo mundo já saiu da casa dos pais, está na labuta para comprar o imóvel próprio, rachando com amigos, morando com o parzinho. BAH! Resposta errada.

Eu divido o quarto com a minha irmã caçula, cuja probabilidade de sair de casa para o próprio apartamento é bem maior que a minha. Há 26 anos eu durmo em uma beliche (1 foi de berço, que logo eu dividi com a minha irmã do meio).

Há 27 anos eu divido o banheiro com mais cinco pessoas. Eu não rapo a panela sem perguntar se todo mundo já jantou. Não fiz intercâmbio, nunca tirei férias, minha experiência internacional se resume à Bolívia por cerca de uma hora. Não, esses textos de blogs e sites famosos não estão falando a minha língua.

Aos 27 anos eu estou formada na faculdade, com curso livre em cinema, na lona para aprender outros idiomas. Isso ai, outros. O inglês tinha que vir de fábrica e sempre fui baixa renda. Logo, não fiz curso e tudo o que eu sei foi na base autodidata.

Nessa idade, que as pessoas costumam reclamar que não tem o corpo de 10 anos antes, eu tenho a sorte de ainda usar boa parte das roupas que eram minhas aos 17. Camisas, vestidos, algumas calças. Meu rosto mudou, mas não a ponto de falarem que tenho 30. Obrigada mãe natureza e genética.

Fico olhando as redes sociais e todos os amigos parecem felizes. Nem sempre é verdade, cada um mata um leão por dia, mas isso não rende like. A gente quer ver sorrisos, bebidas, horizontes, praias e comida - muita comida.

Ter 27 anos não é diferente de ter 17, com uma exceção: a concreta percepção dos seus defeitos. Aos 17 anos eu achava que tinha razão em tudo. Aos 27, eu questiono quanto de razão eu tenho. Sei que sou chata, intensa, dramática e muito grossa se for necessário. E muita gente me detesta por isso. Fodam-se elas.

Aos 17, eu questionava minhas qualidades e não sabia aceitar um elogio. Eu me achava o cu do mundo, com hemorroida ainda por cima. Aos 27, tenho plena noção que eu sequer sou a célula da veia do cu do mundo. Não sou nada, posso errar que Zeus não vai tirar o mundo de Apolo e botar nos meus ombros. Foda-se o Apolo.

Não gente, 21, 25, 27 anos: é tudo a mesma merda. Não são esses textos genéricos que vão refletir esse vazio etário, mas a forma como recorrentemente eles pipocam na nossa mente e martelam as mesmas coisas.

Você não está gorda. Se estiver e quiser, emagreça. Se não quiser, fique gorda e tudo bem. As coisas não mudaram tanto assim, a gente é que mudou. Agora, aos 25 ou 27, não tem graça ver o nosso ídolo morrer cedo desgraçado da cabeça por causa das drogas.

É idiota e previsível o que eu vou falar, mas basicamente é isso: ninguém se importa muito com a sua idade. Só você. No máximo sua mãe/pai, porque martelaram na cabeça deles que você é adulto e eles estão ficando velhos. Outro segredo óbvio: todo o mundo está ficando velho. Isso ai, diariamente.

Pare de se cobrar. Pare de se ofender. Pare de se importar. Mas não muito. Tem coisa que exige cobrança mesmo. Tem coisa que, de fato, ofende. É preciso se importar, mas talvez não com tudo ou não nessa intensidade.

Foda-se. Paz.

5 comentários:

Milla disse...

Hoje eu resmunguei algo do tipo no Twitter, que acordei me sentindo velha, gorda, caída e tal, como se tudo isso fosse um conjunto horrível e nem é.

Não sei se 21, 25, 27 ou 34 são tudo a mesma merda, acho que cada um tem sua particularidade, inclusive nas coisas ruins, os nossos defeitos envelhecem também, alguns morrem e, às vezes, lá na casa do 34 anos você vê nascer um defeito novinho em folha, todo reluzente pra você cuidar.

A vida é meio que uma manutenção dos nossos defeitos, não importa muito a idade. Não digo isso querendo ser pessimista, mas é a tal percepção que você disse, ela aumenta com o tempo e isso é bem bom.


Elsa Villon disse...

Milla, concordo: cada idade tem uma necessidade, um defeito, uma percepção e uma qualidade.

Mas há uma euforia muito grande em torno disso. A bem da verdade, todas as fases da vida têm problemas, todas têm benefícios. O segredo é a despretensão.

Precisamos desesperadamente parar de embalsamar as nostalgias. Deixa o que já foi quieto. E precisamos desesperadamente parar de alimentar as expectativas. Deixa o que for vir, vir do tamanho, jeito e hora certa.

Perdemos tanta energia pensando no futuro e no passado que o presente é só frustração. Deixa quieto. Deixa tudo quieto, calmo, silencioso. Aquele provérbio "Mar tranquilo nunca fez bom marinheiro" é um tanto de exagero. Deveria ser "Marinheiro ansioso e nostálgico toma no cu até em mar tranquilo".

Um beijo!

Alex Pereira disse...

O engraçado é aquela imagem que muita gente tem, quando adolescente, de que qualquer trauma/confusão/crise de identidade/problemas de estabilidade se vão com a idade. Só digo uma coisa, depois dos 30 a coisa fica mais estranha.

Ou é como eu ouvi outro dia de um amigo: "Alex, os trinta são os novos vinte."
Sei lá.

Boa reflexão.
Abraço, Elsa!

Elsa Villon disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elsa Villon disse...

Pois é Alex, acho que nunca é questão de tempo, mas a nossa evolução da percepção das coisas ao longo do tempo.

E os 40 são os novos 30.