sábado, 15 de agosto de 2009

Capítulo IX

Leia antes:

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII


Caída no chão, assim permaneceu. Junto com a carta, a vaca de pelúcia e as flores. O silêncio que sucede o esporro. Seu mal humor agora era justificável. Talvez não. Talvez aqueles fossem presságios de que bons tempos viriam após um período altamente cinza.

Permaneceu ali, sem reação. Não havia muito a ser dito, a ser feito, a pensar. Melhor não pensar, não fazer, não dizer. Podia só erguer-se e trocar de roupa, vestir seu avental e lembrar que o astro-rei já tinha raiado de novo. Podia esperar tudo voltar à ortodoxa ordem natural das coisas. As marés irem e virem, o sol baixar e dar um selinho na lua. A lua descer sem se despedir do sol.
Mas não faria isso.

Ergueu-se, trocou a roupa de dormir e desceu as escadas para sair e dizer ao mundo que não faria nada daquilo que era esperado. Encheu os pulmões de ar, fechou os olhos e ouvir alguém se aproximar e dizer:

- O que aconteceu?

Virou-se. Era a mulher do chapéu vermelho de longas abas, só esperando uma resposta. Que veio com os olhos cinzas marejados, uma mudez interminável e um abraço recém-descoberto. Estendeu a carta e esperou a mão pegá-la. Mas a mão não pegou. A mão encostou na outra mão e pediu calma como só as mãos sabem fazer.

- É, eu sei. Eu sabia desde sempre. E esperava.

O que ela sabia? O que ela esperava? Do que estava falando? Não sei dizer. Só sei que os olhos cinzentos se fechavam agora em um gesto de submissão à claridade do astro-rei, que já beijava o rosto das duas naquela manhã tão agradável, cheirando primaveras e brincos de princesa da floricultura próxima.

Um comentário:

Anônimo disse...

porque mesmo os momentos difíceis a serem enfrentados sempre revelam um belo arco íris ao abrir os olhos.
e sou suspeita, pq adoro chapéis. kikikiki. eita!

bjs