segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pós

Disseram que ele não era meu pai, mas hoje é inegável. O mesmo nariz pontudo e os olhos azuis (os dele mais que os meus, meio sujos de cinza) comprovaram o que as pessoas contestaram.

Não sou a filhinha querida do papai, não fico de melações e costumo brigar muito com ele. Até me zango quando dizem que sou sua versão feminina.

Mas está ai, ele é meu pai. Com tantos defeitos e tantas virtudes. Com suas explicações extensas sobre porque a minha sapatilha não é de plástico, como a panqueca é feita ou porque o DOS ainda é essencial em nossas vidas.

Sem diploma universitário, ele é de tudo um pouco. Encanador, costureiro, cozinheiro, eletricista, terapeuta, pscicólogo, engenheiro, pedreiro, marceneiro. Enrolado.

Ele nunca leu nada além dos manuais de eletrônica para mim. Nunca fez uma casa na árvore ou me levou para jogar bola. Nunca brincou de casinha, nem comeu o meu arroz duro sem chiar. Brigou comigo quando arrumei meu emprego aos 16 anos e não queria que eu fizesse jornalismo.

Mas está ai: cai a resistência do chuveiro e eu, ensopada, me enrolo no roupão enquanto ele conserta o mais rápido possível para eu terminar meu banho.

Me ajudou a construir o modelo de uma molécula de DNA helicoidal, que ainda por cima girava quando apertava um botão. Foi no especial do Dia das Mães porque minha mãe não pode ir.

É complexo. Ele sabe o ponto exato do cozimento de um ovo, mas berra toda vez que precisa mandar um email. É capaz de construir um controle remoto que move objetos de mais de 200 quilos, mas reclama de ter de lavar um copo. Carregaria minha família inteira nas costas, mas não coloca as próprias meias sozinho.

Meu pai é um conjunto de antíteses. E alguém tão polêmico merecia uma citação no meu blog.

Um comentário:

Paulo disse...

Elsita, vc é um barato (já não disse isso antes?)