Daqui a pouco vou ter que acordar
Melhor então nem dormir
Melhor cá ficar, esperando
Um sono que não vai vir
Melhor pensar do que rir
O riso faz a gente ficar meio tolo
E na cozinha, tem um bolo
O qual não vou usufruir
Aliás, tem um bolo em mim também
Emaranhado, um vai e vem
Vai a certeza
Fica a saudade
Fica a gentileza
Vai a ingenuidade
Na verdade, meu miocárdio sabe
Meu ventrículo esquerdo conhece
Minha aorta já ouviu falar
E meu átrio reconhece
Minhas narinas farejam
Meu olhar busca
Minha pele pede
Meu ouvido aguça
Os pedaços que me revestem
Já não o querem mais
Acordo sem um pedaço
Sem pé, sem olho
Sem braço
Incrível é que pareço inteira
Intacta
Imaculada
A casca parece dura
Mas é recheada de gelatina
O corpo é quase adulto
Mas a alma é de menina
Daquelas atípicas
Que não gostam de boneca
Que mordiam pés de Barbie
Que brigavam por Atari
As que caiam de pés de frutas
Dentro de caixas de madeira
Que carregam cicatrizes
De uma infância tão arteira
Aquelas frias e solitárias
Repousando no telhado
Escrevendo poemas bobos
Para meninos retardados
Do tipo que gostava de futebol
Que jogava no gol
Que tinha minicraques
Que já quis ser jogador
Daquelas que viam estrelas
Cadentes ou não
Que queriam voar
Cantar
E tocar violão
Perguntaram que bicho era
Não sabia responder
"Meio flora, meio fera"
Um centauro com alma de dragão
Com flechas embebidas em poção
Uma quimera de olhos inexpressivos
Mas que guardavam o infinito
É isso.
O miocárdio, o ouvido, o tato. É tudo isso.
Um comentário:
Adorei, muito bonito.
Pra sempre menina.
um beijo, um abraço e um saco de goiabinhas ^^
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