quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Niilismo

Daqui a pouco vou ter que acordar
Melhor então nem dormir
Melhor cá ficar, esperando
Um sono que não vai vir


Melhor pensar do que rir
O riso faz a gente ficar meio tolo
E na cozinha, tem um bolo
O qual não vou usufruir

Aliás, tem um bolo em mim também
Emaranhado, um vai e vem
Vai a certeza
Fica a saudade
Fica a gentileza
Vai a ingenuidade

Na verdade, meu miocárdio sabe
Meu ventrículo esquerdo conhece
Minha aorta já ouviu falar
E meu átrio reconhece

Minhas narinas farejam
Meu olhar busca
Minha pele pede
Meu ouvido aguça

Os pedaços que me revestem
Já não o querem mais
Acordo sem um pedaço
Sem pé, sem olho
Sem braço

Incrível é que pareço inteira
Intacta
Imaculada

A casca parece dura
Mas é recheada de gelatina
O corpo é quase adulto
Mas a alma é de menina

Daquelas atípicas
Que não gostam de boneca
Que mordiam pés de Barbie
Que brigavam por Atari

As que caiam de pés de frutas
Dentro de caixas de madeira
Que carregam cicatrizes
De uma infância tão arteira

Aquelas frias e solitárias
Repousando no telhado
Escrevendo poemas bobos
Para meninos retardados

Do tipo que gostava de futebol
Que jogava no gol
Que tinha minicraques
Que já quis ser jogador

Daquelas que viam estrelas
Cadentes ou não
Que queriam voar
Cantar
E tocar violão

Perguntaram que bicho era
Não sabia responder
"Meio flora, meio fera"

Um centauro com alma de dragão
Com flechas embebidas em poção
Uma quimera de olhos inexpressivos
Mas que guardavam o infinito

É isso.
O miocárdio, o ouvido, o tato. É tudo isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei, muito bonito.
Pra sempre menina.

um beijo, um abraço e um saco de goiabinhas ^^