- Façamos agora um trato: eu te liberto se você me libertar. Porque é injusto eu ficar preso enquanto você vaga livre, como se fosse inocente. Você sabe que não é.
- Eu sei, mas não posso te ajudar se você não me ajudar! Eu também tenho uma vida, tenho meus projetos! Acha que planejei tudo o que aconteceu? Só aconteceu e...
- E você nunca planeja nada. Por isso vive assim. Queria eu ter esse espírito livre de perturbações. Um parafuso fora do lugar me tira o sono. Você é completamente diferente.
- Discutir não vai levar à nada. Anda, me diz como eu saio daqui.
- Só se você fizer o trato.
- Feito. Como saio daqui?
- Tateie em direção oposta a que veio, siga as sobras de corda. Quando ouvir um barulho de água, comece a ir pela direita. Lá você acha a saída. E nunca mais toque em explosivos dentro de grutas!
- Certo, vou buscar ajuda. Não saia dai e aguente firme.
- Não se preocupe, não tenho planos para o fim de semana e mesmo que tivesse, essa enorme rocha que amputou minha perna vai impedir o futebol com o pessoal do trabalho.
- A rocha não amputou nada. Ainda. Eu voltarei. Tente ficar bem.
- Tentarei.
Ele saiu. Sentia a culpa caindo sobre os ombros, junto com escombros do trecho recém-explodido. Sabia que tinha que voltar. Era responsável por aquilo. Mas o medo o impedia. O bloqueava, como as pedras que bloqueavam a locomoção do companheiro, resignado a gruta.
Ninguém sabe se voltou. Ninguém sabe do outro. Ninguém sabe de nada.
2 comentários:
F.a.n.t.á.s.t.i.c.o!!!
Adorei esse espaço.
Abraços...
Sentimento: medo!
Medo porque esse diálogo eu o fiz a alguma tempo atrás comigo mesmo! Percebia que existia duas idéias dentro de mim, e queria tanto ter um parafuso solto!
Lindo, isso é tudo o que as palavras pode dizer!
Essas visitas estão rendendo, e muito! Fazia tempo que não lia algo tão empolgante e bonito!
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