segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O dia bônus

Agora estamos pouco mais de 15 dias de mudar a folhinha. Se banquetear como só havíamos feito no Natal ou até mesmo no Ano Novo do ano passado. Caçar romãs, folhas de louro entre outras coisas para começar o ano com mais dinheiro. Fazer promessas para Iemanjá na beira do mar, dizendo que se arrumar um "amor de verdade" (que pode durar a vida toda ou 3 meses), a oferenda do próximo ano será bem maior. Vestir branco em busca da paz, comer lentilha e tudo mais.

O que de fato não notamos é que o ano que vem temos um dia a mais, pelo simples fato de que as 6 horas excedentes de todos os anos, no próximo, se juntará com outras 18, formando mais 24h. Isso tudo resulta no ano bissexto.

E o tão banal fenômeno que só ocorre de 4 em 4 anos passa tão desapercebido. Poucos dão a importância que ele merece.

Não é só um algarismo que tira o número bonito e redondo dos dias do ano. Ele é o dia que nos foi dado para fazer algo que não fazemos normalmente. Senão, ele seria o comum 1 de Março, tão presente em todos os anos como qualquer outra data menos importante.

Uma coisa que eu nunca entendi: por que os meses tem 30 ou 31 dias e só o pobre do Fevereiro tem 28, meros 29 de 4 em 4 anos?
Essa coisa tão peculiar nunca me foi respondida. E quando pequena, ficava me perguntando se quem nascia em ano bissexto, no tão ignorado 29 de Feveiro, fazia aniversário só de 4 em 4 anos? Nota: eu era bem pequena.

O caso é: o que você pretende fazer com o seu dia bônus do ano que vem? Vai "desperdiçá-lo" com trabalho e estudo (embora o sistema capitalista nos envolva e domine, ninguém é obrigado a nada... ), seguindo o esquema dos outros 300 e tantos dias que não sou finais de semana, feriados, folgas e férias? Ou será que vai deitar e dormir o dia todo?

Seja o que for, faça-o bem. Senão só poderá tentar se redimir em 2012. E como tudo passa (até uva- espaço para piada tosca-), precisamos aproveitar cada vez melhor o tempo. Não é essa sua frase mais famosa no mês de Dezembro- "Nossa, como esse ano passou depressa"-?

Os anos não passam mais depressa. Nós é que passamos mais rapidamente por eles. Segundo minha teoria, o primeiro semestre de cada ano demora 9 meses para passar, embora conte-se apenas 6. E o segundo semestre, que aos nossos olhos voa, leva apenas 3 meses para passar. Ou seja, o tempo é o mesmo. A medida dele que está errada.


Aproveite a matéria irrecuperável o máximo que puder, é só o que digo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Palito queimado

Meu mundo cabe dentro de uma caixa de fósforo
Meus sonhos podem ser acesos ou apagados
Basta o atrito, basta o vento
Basta o riso, ou sofrimento
Minha mente precisa só de um minuto para começar a querer estar mais viva.
Não preciso de tudo isso
Não quero tão pouco
Não vivo com loucos
Me desfaço aos poucos
E eu sei que não sou só
Há outros

Capítulo II

Embora pequeno, o "mundo apartamento" da moça da boca rouge era de fato muito limpo, organizado e claro. Nem mesmo os tons escuros mudavam essa impressão. Nem por um minuto aquele ambiente parecia sombrio. Sóbrio sim, mas sombrio nunca. Exceto, como citado, o quarto da moça, que era aconchegantemente fóbico, mas não menos claro, limpo e organizado por essa razão.

Ela mantinha o estranho hábito de deixar livros por todos os cantos da casa. E quando se diz todos, não há exceções. Desde a cozinha, onde ficava Pablo Neruda e alguns poemas de Victor Hugo, Manuel Bandeira, Olavo Bilac e Vinícius de Morais, até o banheiro, que guardava Hesse, Dostoievski, Marx e Nietzsche (segundo dizia, era o melhor momento para prestar atenção no que é lido). A sala deixava expostos Schopenhauer, Kant, Rousseau e a Rolling Stones do mês.

Para a varanda, deixava a melancolia mortal de Sylvia Plath. Embora os pensamentos da poetisa suicida não lhe fossem apreciados, ela lia para aprender a dominar sua tolerância ao que não gostava. Cecília Meireles e Cora Coralina dão cor ao que Plath deixava acinzentado.

No quarto via-se uma enorme pilha, mas os destaques eram Tolkien, começando pelo Silmarillion e terminando e Roverandon. O pequeno príncipe também estava lá, junto com Harry Potter e a coleção semicompleta de O cachorrinho samba. Ecletismo literário era algo notável além dos olhos cinzentos e a endoma de mistério. "Tudo pode ser de alguma forma aproveitado".

Sua seleção de músicas fazia jus ao que sentia. Havia dias tanto para Alceu Valença, quanto para Bach. Beatles, Black Sabbath, Rolling Stones, Sex Pistols, Lynyrd Skynyrd, Tha Clash, Strokes, The Doors... enfim... havia espaço para Marisa Monte, Tom Jobim, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Mozart, Chopin, Vivaldi... Séculos seriam insuficientes para explicar como opostos podem agradar tanto.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Temporariamente sem nome



Capítulo I


Calçou seus novos sapatos de salto alto e couro italiano, tragou seu cigarro de cravo e retocou o tom rouge em seus lábios. Saiu à procura de algo que não sabia. Queria encontrar, mas não podia.
Era difícil entendê-la, conhecê-la. Em seu longo e liso cabelo, uma aura de mistério e cadeados a envolvia. Sua endoma de sigilo tornara mais bela ainda aquela face de olhos cinzentos.

Magra, alta e esguia, todos achavam que deveria ser modelo. Ela apenas respondia que preferia usar o cérebro às pernas. Entre risos e caretas, era evidente o que todos entendiam: que a bênção de Afrodite pairava sobre ela, mas que era apenas um artefato. De fato, Atena sempre lhe fora mais sensata.

A noite chegou mais cedo. O frio já era denso. A chuva era fria e cortante. Tudo isso naquele cenário de ruas estreitas e janelas curiosas que esperavam a dona da boca em rouge, dos sapatos de salto alto e couro italiano e do véu liso e longo do mistério.

O tempo era brinquedo nas mãos daquela mulher. Ela poderia fazer uma hora tornar-se tão longa quanto a eternidade. E 100 anos poderia ser o tempo de tomar um gole do seu prezado chá preto com leite e limão (pessoa peculiar, gostos peculiares). Isso já lhe rendera muitas crises do estômago, mas ela superava e logo voltava ao causador de sua moléstia.

Morava sozinha em um pequeno apartamento no décimo terceiro andar. Para muitos, o andar de mau agouro. Para ela, apenas um andar que dividia o décimo segundo e o décimo quarto. Não se preocupava com superstições. A força do pensamento era o poder mais eficaz do homem. Pena que ele nunca tenha notado isso.

E era lá, no seu pequeno apartamento que ela fazia seu mundo. Paredes pretas com a borda prata, uma cozinha de vermelho vivo, seu quarto aconchegava calmamente um azul Royal que o tornara mais fóbico ainda. Era difícil conter o choque de antíteses: fóbico aconchegante? Como isso é possível? Não há clara explicação. Mas de fato, essas eram as duas palavras que corriam a mente em primeiro instante dos que tinham a graça de pousar o olhar sobre tal cômodo. Essa graça não era concedida a todos. Poucos eram dignos de conhecer e/ou freqüentar aquele mundo do décimo terceiro andar.

De fato, o quarto não era seu cômodo favorito. Servia para seu repouso, para guardar sua enorme coleção de sapatos e suas roupas.

Seu lugar favorito no mundo apartamental à sua volta era a cozinha. Sim, o vermelho vivo a mantinha de alguma forma mais quente. Nem sempre fora da elegância e sofisticação agora citados. Antes era impregnada por um nauseante papel de parede com estampas envelhecidas de cerejas. Ele recobria do chão ao teto, dando-nos a terrível sensação semelhante ao que seria estar preso em um pote de cerejas ao marrasquino. O síndico disse que ainda era preservado porque era de estimação. Estava lá antes dele , aparentemente desde os anos 40.

Não presa ao que o passado insistia em prender, a primeira coisa que fez ao comprar o apartamento foi justamente retirar aquelas extravagantes e velhas cerejas. "O mundo se apega demais ao que é velho, deixando menos espaço do que deveria para o novo", pensava. Mas não era ao todo fria: emoldurou uma enorme cereja e ela ficava pendurada bem acima da geladeira, ao lado do pingüim vestido de mafioso que morava lá em cima.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Promessas de fim de ano

Está acabando o ano.
Outra vez.
E o que você fez?
As promessas de Réveillon 2006/2007 foram cumpridas?
Suas metas foram atingidas?
Mudou de emprego?
Perdeu os 8 quilos prometidos?
Criou coragem e enfrentou seu patrão?
Viajou para Machu Pichu?
Curou aquela bronquite através da acupuntura?
Pintou a casa da sua sogra, que desde 2000 te enche com isso?
Tirou notas mais altas?
Passou mais tempo com sua família?
Parou de beber, fumar, mascar goma sabor menta ou seja lá qual for o seu vício?
Deixou o cabelo crescer?
Cortou e pintou o cabelo?
Passou o vestibular?
Terminou seu TCC?
Fez uma passeata pelo Cansei?
Fez uma outra passeata pelo Cansei do Cansei?
Viu o vídeo macabro do enforcamento do Saddam?
Se indignou com a morte do João Hélio?
O que você fez esse ano pouco importa.
Vale o que você fará no ano que vem.