domingo, 9 de dezembro de 2007

Capítulo II

Embora pequeno, o "mundo apartamento" da moça da boca rouge era de fato muito limpo, organizado e claro. Nem mesmo os tons escuros mudavam essa impressão. Nem por um minuto aquele ambiente parecia sombrio. Sóbrio sim, mas sombrio nunca. Exceto, como citado, o quarto da moça, que era aconchegantemente fóbico, mas não menos claro, limpo e organizado por essa razão.

Ela mantinha o estranho hábito de deixar livros por todos os cantos da casa. E quando se diz todos, não há exceções. Desde a cozinha, onde ficava Pablo Neruda e alguns poemas de Victor Hugo, Manuel Bandeira, Olavo Bilac e Vinícius de Morais, até o banheiro, que guardava Hesse, Dostoievski, Marx e Nietzsche (segundo dizia, era o melhor momento para prestar atenção no que é lido). A sala deixava expostos Schopenhauer, Kant, Rousseau e a Rolling Stones do mês.

Para a varanda, deixava a melancolia mortal de Sylvia Plath. Embora os pensamentos da poetisa suicida não lhe fossem apreciados, ela lia para aprender a dominar sua tolerância ao que não gostava. Cecília Meireles e Cora Coralina dão cor ao que Plath deixava acinzentado.

No quarto via-se uma enorme pilha, mas os destaques eram Tolkien, começando pelo Silmarillion e terminando e Roverandon. O pequeno príncipe também estava lá, junto com Harry Potter e a coleção semicompleta de O cachorrinho samba. Ecletismo literário era algo notável além dos olhos cinzentos e a endoma de mistério. "Tudo pode ser de alguma forma aproveitado".

Sua seleção de músicas fazia jus ao que sentia. Havia dias tanto para Alceu Valença, quanto para Bach. Beatles, Black Sabbath, Rolling Stones, Sex Pistols, Lynyrd Skynyrd, Tha Clash, Strokes, The Doors... enfim... havia espaço para Marisa Monte, Tom Jobim, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Mozart, Chopin, Vivaldi... Séculos seriam insuficientes para explicar como opostos podem agradar tanto.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom! muito bom mesmo!
estou gostando da história! estou ansioso pelo próximo capítulo!
ps: a moça de olhos cinzentos me lembra uma certa pessoa em alguns pontos........
Beijos enormes