quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ceci n'est pas journalism

Eu falei em um dos primeiros dias que era foda porque tinha gente no meio do protesto pelo Passe Livre usando a situação para depredar carros, bancas de jornais e loja e isso era errado. Falei mesmo e não retiro, porque começa depredando um vidro do metrô e a polícia desce a borracha em todo mundo que está lutando pelo que é certo (ao menos para mim). E falei isso não porque acho que ficar sentado reclamando é mais fácil, é que no meio disso, começa a machucar e destruir quem não estava participando. E tão somente por isso: a segurança das pessoas no geral, inclusive dos manifestantes.

Isso foi bem antes. Bem antes de reunir tanta gente - e aqui entrar o discurso de que muita gente aglomerada sempre atrai PM. E que PM é pobre sim, ganha mal sim, como disse o Jabor. Mas PM também é treinado, instruído e armado pelo Estado para descer o sarrafo na população. A gente já viu isso antes, com professores, com outros manifestantes. E não importa a causa, polícia não tem que se meter no meio de protesto dessa forma. . Ponto. Não tem o que discutir.

Não é porque é contra as tarifas de ônibus. Poderia ser a Marcha da Maconha, das Vadias, a Marcha para Jesus. São pessoas, aglomeradas, baderneiras ou não, comunistas, estudantes, classe média, ou reaças, alienados, enfim...  Escolham o rótulo, eu me abstenho. Mas eu digo que são pessoas, gente reunida tentando fazer alguma coisa. E elas merecem respeito e que a Constituição seja seguida à risca para sua proteção ao invés de ataque.

Ontem, a crítica do Jabor me fez ter nojo da Grande Imprensa. Não é possível que a Toda Poderosa Globo rebaixe tanto o seu chamado Padrão Globo de Qualidade para permitir que aquilo tenha ido ao ar. Mesmo sendo a Globo. Acompanho a coluna do Reinaldo Azevedo porque sigo uma premissa Corleone: manter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda. O sujeito foi "revirar o lixo" do pessoal do Movimento Passe Livre e "descobriu" que era mantido com verba da Petrobrás e Lei Rouanet.

Nesse ponto, eu te pergunto: e o que tem o cu com as calças? As pessoas não podem usar as leis de incentivo para sustentar algo em que acreditam? Só pode usar verba supostamente do governo - que é nossa na real - para falar bem dele?  Não está errado esse pensamento?

O jornalista Pedro Nogueira, do Portal Aprendiz foi espancado e preso enquanto fazia a cobertura para o site, parceiro do Catraca Livre, no qual trabalhei no ano de 2011. Tanto o Catraca Livre, quanto o  Aprendiz tem um intuito: acessibilidade, cultura, educação e, se possível, de graça. Sempre defenderam essas causas e não seria diferente legitimar uma luta como a do Movimento Passe Livre.

Eu entendo os donos de lojas, da banca de jornal depredada e demais pessoas que não pertenciam aos protestos que, no exercício de sua função, se viram obrigadas a fechar o estabelecimento por conta da depredação. Mas os ataques destruíram coisas, não pessoas. Temos vídeos que comprovam a ação covarde e opressora da polícia espancando o jornalista que também estava no exercício de sua função. A agressão alegada pelas primeiras pessoas é válida. E a violência sofrida por Pedro e demais estudantes, que não necessariamente trabalham, mas que lutam por um ideal? Ela é nula?

Os protestos continuam. Pessoas são detidas, revistadas e sequer podem portar vinagre. Dois outros jornalistas já foram presos, fora dezenas de manifestantes que ao ver da imprensa, são "vândalos, universitários de classe média que usam o não-motivo como motivo para protesto em uma sede de revolução que não é de sua época". Sendo atropelados por pessoas descontroladas e impacientes que não querem a manifestação na cidade delas.

Meu ponto é: você ainda acha que o Passe Livre está errado e a PM está certa? Independentemente de andar de carro, trem, metrô, ônibus, bicicleta ou jetpack. Alguém que você conhece vai deixar de comer alguma refeição pelo aumento de quase 7% na passagem. Não são apenas 20 centavos, é um aumento considerável em termos de porcentagem. A realidade é que muito empregador perturba trabalhadores por conta do valor do Vale-Transporte, que por lei, representa 6% do salário e é direito dos assalariados. Se o desconto é de 6% e a passagem aumentou quase 7%, não tem algo errado?

Tem algo errado faz tempo. E a culpa, principalmente dos políticos, é da imprensa que não sabe mais o que está fazendo. Mais dois jornalistas acabaram de ser presos, sendo um deles da Carta Capital. E eu aposto minhas córneas como Reinaldo Azevedo vai justificar a prisão de um suposto colega de profissão com partidarismo político e mais um discurso "engajado". Globo exibiu ontem o comentário mais sujo do comentarista mais alienado sobre o assunto. E acredito que depois do fuzuê, vai mudar de opinião. Não está certo isso.

Mais importante que descobrir quem está certo ou quem está errado é: cessar a hostil ação da PM contra manifestantes. E claro, libertar quem está preso. R$ 20 mil não é fiança, é castigo, é birra legislativa. Precisamos de advogados com culhão para soltar quem está detido. Precisamos de jornalista com culhão - lá no meio ou aqui de trás - para assumir o que fala, o que falou, o que fará.

Isso ai não é jornalismo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A lição mais valiosa que a faculdade me ensinou

Após 6 anos de luta, finalmente sou jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo. Eu aprendi muitas coisas, como fazer um lead, trabalhar em grupo e principalmente: trabalhar sob pressão e com prazos curtos com excelência e profissionalismo. Se me perguntarem: “Acha que o diploma de jornalismo é obrigatório?” responderei que não, mas valido toda a minha passagem pela Universidade pela vivência que ela acarreta. Poderia ter aprendido muito do que aprendi lá em outros lugares, mas foi lá e dou créditos a ela por isso. Faculdade é importante, mas não é crucial. Ponto.

O que mais aprendi, na verdade, me foi ensinado por 3 mulheres que eu amei muito (como amigas – vale ressaltar). São 3 pessoas que eu não falo mais, mas nem por isso são ruins. As 3 são jornalistas formadas hoje, as 3 são muito bonitas, inteligentes e capazes. Mas as 3 me ensinaram como não ser amiga. E é para elas esse texto.

Não citarei nomes, acho pequeno e irrelevante. Se por acaso elas acabarem lendo, saberão que são elas. Caso contrário, fica o registro de que isso não é uma indireta, é um desabafo e um agradecimento. É um relato meu, pessoal, motivado pelas minhas experiências e portanto, não é uma verdade absoluta.

Muitas pessoas tem o hábito de demonizar as que lhes causam sofrimento, dizendo que são ruins, movidas por ego, dramáticas e vejam vocês, até de vaca traidora. Apesar de toda a carranca que carrego comigo como instinto de preservação, asseguro-lhes: se eu disser que te estimo como amigo, você pode contar comigo para sempre. E foi o caso dessas 3 pessoas, que por motivos grandes ou pequenos, hoje já não tem mais esse crédito com a fotojornalista que vos escreve.

Ética – o que é ética? Essa pergunta ainda ressoa em muitas mentes dessa turma que se forma quinta-feira, talvez só ofuscada pela definição de “O que é ideologia?”. A coisa mais importante que a faculdade me ensinou foi a não desistir de um ideal e jamais abrir mão da ética para conquistá-lo.

Quando se trata de relações humanas, confesso, ainda estão engatinhando rumo ao progresso. Sou geniosa, brava, dissimulada e até arrogante em algumas vezes. Mas também sou sincera, leal, prestativa e principalmente: ética. Todos os seres, humanos ou não,  são passíveis de erros, enganos, confusões. Não sou uma exceção.

Nesses 6 anos, moldei muito da personalidade que hoje apresento e sei que passarei a vida inteira fazendo isso. Talvez daqui 10 anos, esse texto soe cafona e sem sentido, mas não me importo. O que vale é o agora. E agora, eu decidi me perdoar e perdoar quem me magoou, difamou ou demonizou nesse tempo todo. Porque a mágoa, a cólera e rancor são como arremessar brasas nos inimigos: você acaba se queimando no ataque (obrigada pela metáfora José Altran).

O que essas 3 pessoas fizeram ou deixaram de fazer não importa. Elas me magoaram e por muito tempo eu tive raiva. Mas não tenho mais e peço perdão por sentir mágoa, ainda que fundamentada, por elas. Peço perdão por toda dor que as causei e mesmo sabendo que elas podem ignorar esse fato, digo de coração que estimava de verdade a presença de cada uma em minha vida.

Se hoje não é possível transcender todos os nossos erros e perpetuar um voto sincero de amizade, asseguro com esse texto que não é mais por minha causa. Consigo enxergar o mal feito e o mal recebido, consigo perdoar e pedir perdão, consigo seguir em frente. E torço, honestamente, para que elas também consigam.

Sucesso a nós, eu brindo-as por me terem permitido evoluir. E se puderem fazer o mesmo, erguerei a taça com o mesmo entusiasmo. Essa foi a lição mais valiosa que a faculdade me ensinou. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sobre os estímulos neurológicos que me fazem apaixonar-me por estúpidos


A foto acima não é autoral, mas poderia ser. Ela na verdade é a ilustração de um estudo (em andamento) que tenho feito acerca dos males do coração. E não estou falando de coronárias. "Beije-me, estúpido" poderia ser o tema de diversos ensaios poéticos (dessa vez autorais) altamente empíricos. Porque eu só me apaixono por estúpidos.

O fato de apaixonar-me por estúpidos possui uma vantagem apenas, e por ventura, é a única desvantagem também: estúpidos, como o próprio predicativo o sugere, são autores de estupidezes. Vale a máxima forrestgumpiana: "Idiota é quem faz idiotices, Sr.". Pois bem, eu posso amar um idiota, mas é pelo estúpido (e quanto mais estúpido, mais apaixonante) o legítimo vencedor do leilão afetivo realizado ao longo dos últimos anos em minha humilde passagem no terceiro planeta do Sistema Solar.

Por serem estúpidos, eu já espero que seus atos venham desprovidos de lógica e coerência, afinal, é parte da natureza que me faz gostar deles. E igualmente, por serem estúpidos, eles costumam me machucar profundamente, o que me torna uma igual a eles - gostar de suas estupidezes, ainda que sofra com elas.

Nessas horas, os discursos de Platão se dissolvem e tudo o que vejo é Schopenhauer sentado sozinho em uma mesa de boteco, já bêbado e com uma das barras da calça viradas. É quase uma apoteose. Tudo se faz claro, recobro a lucidez perdida entre estupidezes e estúpidos e prometo ser mais seletiva na próxima escolha.

Li recentemente que Mark Zuckerberg está negociando a tecnologia de bloquear assinaturas do mural do Facebook para um laboratório russo que a testará em voluntários para testes cerebrais. Dizem que o cerebelo é capaz de mandar ou deixar de mandar estímulos neurológicos relacionados aos hormônios da paixão de acordo com a corrente elétrica da atividade ao mensurar as lembranças de algum estúpido. Espero que funcione.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A primeira entrevista do ano

Era uma quinta-feira nublada e com cara de segunda. Isso em pleno verão. Isso no terceiro dia do ano. Mal havia saído das ressacas (morais ou etílicas) das festas de final de ano e lá estava eu, preocupando-me com o que vestir para a primeira entrevista do ano. E a primeira entrevista depois de formada. Em uma redação. De verdade, daquelas com tipos exóticos que usam All Star amarelo e óculos retrô ou velhos de guerra do jornalismo, sempre trajando mau humor e camisas sociais com padrões horríveis da década de 1980, em contraste com as calças cáqui e os cintos caramelo. Lá ia eu.

A entrevista era depois do almoço. Estava sem fome, acordei às quatro da manhã e comi macarrão com queijo, joguei algumas alcaparras e tomei duas taças de vinho chileno na esperança de conseguir dormir. Aquela coisa que uns chamam de insônia, outros de ansiedade e que costumo me referir como "síndrome de precisar ter que dormir e nenhuma capacidade para tal". Acontece.

O dia pedia galochas e ao contrário dessa legião que acha São Bernardo do Campo a Londres do ABC, minhas galochas são azuis. Sem tartam, sem grafismos ou caveiras com rosas. Azul marinho, sem graça e tipicamente identificável nos pés das melhores cantineiras das escolas públicas. Lembrei dos meus tempos de escola e de uma cantineira apelidada de Misu. Nunca entendi o apelido e nunca soube o nome dela. Para ser sincera, eu nem lembro ao menos de seu rosto. Mas lembro que vendia o melhor enroladinho de pizza que já provei na vida. O melhor até o momento, até hoje, até minha vida na presente data: 3 de janeiro de 2013. O dia da primeira entrevista de verdade numa redação depois de formada.

Nunca me preocupei muito com a maneira de me vestir. Busco peças aleatórias que me impeçam de ser presa por atentado ao pudor e está bom. "Para quem é, bacalhau bosta", bem diria minha mãe ao fazer um legítimo trocadalho do carilho com a frase original. O problema é que entrevistas exigem uma apresentação menos teen, mais profissional - mas sem excessos, afinal, sou jornalista, não promotora da justiça ou vendedora de enciclopédias. Alguém ainda vende enciclopédias? E se o faz, ainda o faz de gravata?

Pego o vestido mais bipolar do guarda-roupa, coloco uma meia-calça cinza e calço as galochas. Um lenço de bolinha no pescoço e a bolsa (que mais parece um bornal) de couro com o nome de um italiano famoso (furtada do armário da minha avó, restaurada com hidratante barato e em plena atividade). Estou pronta. Alguns diriam que é despretensão chic, outros, ugly beauty. Mas se resume a: não tenho muita imaginação para me vestir.

Fui para o ponto de ônibus movida pelo desejo de comprar uma bicicleta com cestinho. Sempre quis uma bicicleta com cestinho. Dessas que as mocinhas nos filmes colocam margaridas e saem pedalando com seus vestidos floridos por ruas em Paris. A diferença é que meu vestido não era florido. E eu não estava em Paris. Meu destino era outro. Meu estado de espírito idem.

Após girar a roleta, agora R$ 3,30 mais pobre, procurava um acento não molhado, não sujo, não próximo a alguém com cara de molestador de criancinhas ou fã de Oasis (e enfatizando isso com seus fones de ouvido no último volume). Pesquisei em vão e decidi ir em pé até o Terminal.

Eis que cheguei e as pessoas em volta, vulgo os "locais", me olham como se eu fosse um OVNI besuntado na Becel. Devem ser as galochas e não dou muita atenção. Sigo o meu destino. Após caminhar 20 minutos e perguntar para 35 pessoas se conheciam o endereço, quase morro atropelada em uma avenida de mão dupla por conta de um Chevette branco que furara o semáforo. E na corridinha encontro a tal redação, que há preciso 30 passos, a moça de legging de guepardo disse que nunca tinha ouvido falar.

Parei, olhei ao redor, vejo uma fresta entre uma Kombi branca e o portão. Bato na porta de vidro e entro. Uma recepcionista com longos cabelos negros que não parecem de verdade sorri e questiona meu objetivo.
Respondo que tenho horário marcado com a Selma. Ela, sem desmontar o sorriso, responde que a Selma ainda não havia chegado e digita compulsivamente o ramal dela. São 17h. A chuva me atrasou 20 minutos do meu horário previsto. Selma, ao telefone, tinha me instruído a chegar após às 15h30. Eram 17h e Selma não estava lá.

Após 15 minutos, a moça sorridente disse que eu poderia subir dois lances de escadas, pois a Judith faria minha entrevista. Agradeci e subi, dobrando a esquerda na poltrona de courino preta do segundo andar. Minhas pernas tremiam. Era a primeira entrevista depois de formada. Entrei e vi diversas baias opressivas com topos de cabeças que pareciam fumegar. Uma senhora de aparência cansada esboçou um sorriso e me convidou a sentar. Me sentei.

- Então, você é a Elsa.

Fiz um sinal positivo com a cabeça.

- Prazer, sou a Selma. Então, a gente vai te fazer um teste, muito simples, você conhece o ABC?

- Há quase 24 anos - respondi.

- Ótimo, então você tem noção do panorama pós-eleições das 7 cidades, certo?

- Sim, eu costumo acompanhar.

- Bem, de qualquer forma, tudo isso está muito fácil na internet. Eu quero um texto de aproximadamente 3000 toques sobre as os eleitos e mais um artigo de até 2000 toques sobre qualquer tema.

- Qualquer tema?

- Sim, você tem 30 minutos, boa sorte.

Sentei naquela cadeira quente e observei o monitor antigo com espasmos diante de um documento aberto e em branco no Word. Comecei pelo texto obrigatório e falei do cagão do Aurichio (não com estes termos), do Verde Michels em Diadema, do Grana em Santo André e o reincidente Marinho e por ai vai. Terminado, me restavam 9 minutos para o artigo sobre o tema que quisesse.

Olhei para a redação. Olhei para a Selma e sua fadigada feição. Olhei para as minhas galochas. Pensei no jornalismo. Pensei na faculdade. Pensei em tudo que ainda não havia pensado desde o dia em que foi anunciada a minha nota do TCC. E despejei tudo em quase 5000 toques. "A Selma vai ficar putaça" foi o pensamento final. Avisei-a de que tinha acabado e ela disse para eu salvar no desktop em um arquivo com meu nome. Disse que se gostasse, me ligaria e me dispensou rapidamente. "Ela deve estar abarrotada de trabalho."

Agradeci, desejei feliz ano novo e desci as escadas. Olhei para a recepcionista e suas longas madeixas negras que contrastavam com seu batom nude. Desejei a ela também um ótimo 2013 e saí. Já havia parado de garoar e decidi ir andando até a estação. Algo que me diz que o texto obrigatório me contrataria, mas meu artigo provavelmente me botou na geladeira. Ossos do ofício.

* Esse texto é ficção, porém com alguns fatos verídicos. Quais eu não direi. E os nomes não correspondem aos nomes legítimos por pura vontade da autora.



sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz fiapo de manga

"O que o ano novo trará? 365 oportunidades." E não trouxe 2012 ao menos 366 delas? E por quantas vezes as deixamos de lado... A concessão bissexta agraciou nossas expectativas com 24 horas a mais de prazo, mas por que não as agarramos? Porque, penso eu, na ânsia de ir para frente, estamos atados ao que está atrás (sem dualismos).

Parafraseando Gessinger e Lindecker com suas "Pouca Vogal":

[...] Num piscar de olhos
Tudo se transforma
Tá vendo? Já passou
Mas ao mesmo tempo
Fica o sentimento
De um mundo sempre igual
É igual ao que já era
De onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem [...]

O fim do ano torna as pessoas nostálgicas, movidas por uma comoção coletiva, uma espécia de transe. A publicidade do banco cuja cor laranja predomina sua identidade visual faz questão de frisar enfadonha sensação. E o público compra tal discurso como se fosse novidade. Soa como um mais do mesmo e, no geral, a repetição me entedia. Todavia, de fato aprecio as perspectivas que emergem no âmago coletivo, tal como a acne no ápice da puberdade. É repulsivo, porém genuíno.

Essa euforia e até expectativa, por assim dizer, são como fiapos de manga. No momento de deleite, quando o fruto adoça a boca e o aroma atinge as narinas, pouco importam os fiapos. Mas já passado o sabor e desbunde, lá estão, atrelados a nós de maneira tão incômoda e inoportuna que não nos permitem pensar em outra coisa.

Que em 2013, mais do que nunca, possamos todos nós sairmos do tal transe. E quem sabe, utilizemos mais fio dental.