segunda-feira, 23 de abril de 2007

Opção para as férias...



Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

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Então, irei-me para Pasárgada... quem sabe chego de submarino amarelo... Quem sabe lá o café nunca acabe... Quem sabe lá minhas ideologias e filosofias de buteco sejam válidas...
Quem sabe lá eu seja normal, e os normais daqui é que sejam loucos..
Quem sabe lá o sol brilhe radiante diante da neve e o frio que tanto prezo...
Quem sabe lá, a vida passe por nós, e não nós passemos por ela...
Quem sabe se Pasárgada é o paraíso, ou o inferno, ou limbo, ou o purgatório das almas insensatas que não se contentam em apenas escrever e precisam de alguma forma, questionar tudo e todos no que escreveu...

5 comentários:

Anônimo disse...

eu amo esse poema!
amo! amo! amo!
mas na minha pasárgada tem um chalé. só essa a diferença...

vamos pra pasárgada...

Bruna Corrêa disse...

Ótimo título!
Na falta de ter o que fazer, por que não mergulhar na imaginação e visitar um mundo perfeito?

Eu acho que cada um tem a sua Pasárgada, um lugar idealizado sob medida. E faz tão bem visitá-lo de vez em quando.



E na falta de Pasárgada visite Guralatchutchumacaca, um lugar de acesso comum a algumas pessoas, que fazem deste lugar o lugar que ele é.
Não entendeu? Pergunta pra Elsa. Rsrs

Unknown disse...

Olá Elsa,

Fico feliz em saber que também és uma fã do Poema Pasárgadas de Manuel Bandeira. Conto com você na Pasárgada e espero que faça de lá o seu refúgio para livrar-se da tristeza e celebrar as alegrias.

Beijos,

Anjo R (Rodrigo)

Henrique DiRocha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Henrique DiRocha disse...

Certa vez lembrei da Pasárgada ao acordar, estive lá sem dúvidas.

"Se não fossem os outros os loucos, seríamos nós!"*, e assim, certos caminhos do excesso de nós, destes construídos por nossos desejos, hora de paz estimulados pelo cansaço, hora de satisfação alimentados pela intensidade do que em nós habita (e tb pela coragem!), estes são os caminhos tortos em que nos deleitamos, pois são nossos.

Bem difícil vê-los fora dos ambientes lúdicos ou da arte, mas essa busca tem que ser incessante, para que haja graça, gosto e gozo, sempre.

Vou-me embora pra lá, de novo, fumando um depois de escovar os dentes.

*William Blake - Matrimônio do Céu e do Inferno