segunda-feira, 23 de abril de 2007

Uma boa ação para um bom coração


Eu, tão egoísta a ponto de achar que meus problemas são maiores e piores que os do mundo, me deparei com uma situação comovente e ao mesmo tempo, paradoxa.

Uma instituição, certa vez, bateu à porta de casa, perguntando se poderíamos contribuir com R$6,00 para ajudar a comprar uma lata de leite (um leite especial com componentes vitamínicos que reforçam o sistema imunológico) para uma menina de 3 anos soropositiva e para os demais. Minha mãe ajudou.


Um tempo depois, essa mesma instituição, ligou para casa. Disse que a menina que havíamos ajudado (Marcela, a de laranja na foto), estava depressiva e não comia desde a perda da mãe.

Sem comer, o sistema dela se enfraquece mais ainda e não há chances de reagir contra o vírus. Ou seja: poderia morrer rapidamente. Perguntaram se não poderíamos fazer uma visita, pois nesses casos, só ajuda financeira não basta. Pegamos o telefone do abrigo e ligamos.

Horário de visita: de quarta à sexta, das 10 às 16.
Local: Suzano, Parque São José. (Instituto Viva a vida).


Sim, é longe. Muito longe. Em um caminho muito ruim. Mas a Marcela (e as demais crianças) precisavam de alguém para animar, ainda que por pouco tempo.

Fomos ao sábado. Ao chegar (depois de nos perdermos umas 4 vezes), deparamo-nos com o lugar: um abrigo (em boas condições, mas nada funcional e com uma área de lazer pequena e perigosa) e em torno de 25 crianças e adolescentes.

Ao encontrar a Marcela, vimos o quanto ela está magrinha, o quanto seu olhar é triste e o quanto tem medo das pessoas. É uma menina tímida, mas muito sagaz.

Para resumir, há entre 15 e 16 soropositivos, sendo bebês, crianças e jovens. Você brinca, eles querem colo. Você cansa, eles continuam querendo colo. Você se comove, e eles, ainda querem colo. São crianças arteiras como todas, apenas marcadas por um vírus de discriminação, de violência, de caos e preconceito Acho que nenhuma criança merece isso.

A Marcela começou a confiar na minha mãe, que dedicou-se somente à ela. Carinhos, mimos, presentinhos para nós bobos, mas para eles, tudo. E contou porque não come. Seu pai (soropositivo e dependente químico) não deixava-a comer. Sua mãe morreu atropelada. Ela morava debaixo da ponte. Na perna, a marca do que parece queimadura feita por um cigarro.


Isso nos faz pensar sobre o que vivemos, o que achamos que é ruim e o que de fato, é ruim.


E mesmo com todo esse histórico conturbado para só 3 anos de idade, conseguimos fazê-la sorrir.

Uma visita muito triste. Se decidir ir, vá preparado, sem preconceitos, temores ou qualquer outra coisa. Seja firme. Eles são especiais e merecem um cuidado especial.
Um pacote de balas é sulficiente para a alegria geral.


Na foto (da esquerda para a direita): Marcela, Iara, Carol e Ariane.

5 comentários:

Diandra disse...

linda atitude.

é bom pra gente se dar conta de quão infímos são nossos problemas. De como somos privilegiados...e como reclamamos à toa.

Damos mais valor á nossa vida. E ajudamos alguém a viver melhor a sua.

Anônimo disse...

ah, era isso...
linda atitude [2]

comovente. é preciso forças pra ver a realidade ainda mais dura ainda pra muitos.

^^

Bruna Corrêa disse...

Linda atitude [3] e lindo o fato de vc expô-la e abrir nossos olhos para a realidade.

De maneira direta e verdadeira, mas ao mesmo tempo delicada e sutil seu texto nos faz refletir e ainda melhor que isso, dá vontade de ajudar alguém. Mesmo que com pouco, fazer alguém sorrir.

Parabéns.

Anônimo disse...

seu texto me deixou um sentimento horrivel de nao solidariedade, egoismo, e quanto sou materialista. vou mandar dinheiro pro greenpeace e levar minhas bonecas pra algum lar. estou mal... =/

Acacia disse...

ELSA, É LINDO ISSO!

PQ VC NÃO ENTRA ´PRO NUCLEO DE JORNALISMO SOCIAL?